terça-feira, 30 de outubro de 2007

É Fantástico!


Não sei se para agradar aos poderosos cafeicultores do Sul de Minas, mas o fato é que São Pedro aqui mostra todo o seu lado publicitário ao realizar sua missão de trazer a chuva.
Depois de um dia inteiro de calor sufocante (note-se: sou pernambucana, então para eu dizer que um calor está sufocante, é porque está de fato), um início de noite abafado, então o cenário está feito. Começa o espetáculo.
Do nada, raios e trovões surgem rasgando a noite e, literalmente, as árvores. O vento não tem nada daquele lírico sopro: vem em forma de uma ventania assustadora que não assovia, grita mesmo. Você olha para fora e não vê absolutamente nada. Escuro, breu. A essa altura do campeonato, tem uma cadela escondida por trás do sofá, outra desesperada pensando que é uma "cã-aranha" ao pretender passar para dentro de casa através da janela, outra ocupa espaçosamente o tapete da porta principal.
Quando um raio rasga o céu, você tem a impressão de que colocaram um mega-holofote bem na sua cara. Vem um som estrondoso, e desta vez não é só um trovão. Uma das árvores cedeu um poderoso galho, que por pouco não foi repousar na cama que eu dormiria. Por precaução, prefiro dormir com meus sobrinhos, num quarto que está a uma distância segura de árvores. Não vou para casa, meu irmão VAI TER que me hospedar nessa noite.
Isso tudo acontecendo lá fora e eu meigamente conversando com amigos pelo msn. O mundo desabando e eu com olhar fixo na tela do computador, de vez em quando narrando algum dos fatos espetaculosos desse São Pedro mineiro. Sem dúvida, uma alienada. A continuar assim, domingo que vem assisto a toda programação da Globo, começando pelo Globo Rural e terminando no incrível (sim, é incrível como ainda tem audiência) Fantástico.
Mas eu falava do espetáculo da chuva. É, esfriou um pouco e a água acumulada vai me obrigar amanhã a usar uma das peças mais odiadas, a bota. E torcer para não escorregar na ladeira íngreme do sítio - acho que meu irmão escolheu o local para não sentir muita saudade de Olinda. Achamos uma mini-Misericórdia em Minas.
Depois de toda a cena, o vento pára e a tempestade acalma. Isso tudo em meros... hum... vai lá, 15, 20 minutos. Chuva suficiente para alagar a Avenida Chico Science, em Olinda. Se bem que a impressão que eu tinha quando morava em Olinda é que não podia cuspir ao passar pela avenida, senão alagava.
Meus sobrinhos estão preocupados comigo e com minha casa. Pedem para que eu durma com eles (coitados, pensam que tinham essa opção de convidar). O mais novo alerta: "se você for pra lá, pode 'acordar morta'". É, né? E o outro completa: "é melhor você dormir com a gente mesmo. Duvido que amanhã de manhã tenha sobrado alguma coisa inteira na sua casa". Animador, não?
Dramas infantis e nem tão infantis à parte, aproveito a calmaria e vou lá, ver o que aconteceu. Espero encontrar telhas quebradas, cama alagada, o caos. Que nada, tá tudo em ordem, além, claro, do galhão caído na varanda.
Ê, São Pedro. Se fosse ave, seria galinha. Se fosse gente, publicitário, sem dúvida.

Sem assunto 2


Onde foi parar a imaginação?
Nas reuniões sem fim e sem fundamento
Nos textos feitos sob encomenda
Nas discussões de tema diário
Nos sempre mesmos argumentos, prós e contras
No vazio do roteiro
Na elaboração do planejamento
Na eterna falta de execução
Nas adaptações impostas e prejudiciais
Na prioridade invertida
No contexto único
Na ordem acatada
Na lógica vencida
Nos mesmos problemas
Na falta de soluções
Na rotina
No (do) trabalho.
____________________
Ando muito irritada. E preocupada.
O mau humor está cada vez mais recorrente.
Será que vou ficar uma velha careta e ranzinza?
Ô praga.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Fábula Pseudo-biológica


Num lugar não muito distante, existe um reino onde os instintos primitivos imperam, a natureza é a irmandade adorada, onde não há medo: o Reino Monera, habitado por organismos muito simples, de estrutura unicelular procarionte, autótrofos ou heterótrofos.
O Reino Monera é atualmente dividido em dois ramos distintos: a divisão Schizomycophyta - que compreende as bactérias -, e a divisão Cyanophyta, formada pelas algas azuis ou cianofíceas.
As algas azuis são mais respeitadas no reino que as bactérias, pois conseguem realizar a fotossíntese, embora não apresentem plastos, apenas lamelas fotossintetizantes. As cianofíceas possuem uma extraordinária capacidade de adaptação aos mais variados e extremos ambientes.
Já as bactérias são tratadas como verdadeiros marginais, coisa que merece desprezo. Isto porque a maioria delas (veja bem: a maioria, e não todas!) apresenta nutrição heterótrofa, vivendo principalmente como parasitas de organismos vivos ou decompositores de cadáveres. As bactérias parasitas são responsáveis pelo surgimento de inúmeras infecções em plantas e animais. Mas há um tipo de bactéria muito pior, a que alimenta o inimigo, e portanto, a que conspira contra a vida de suas irmãs (inclusive das mimosas algas azuis): as bactérias decompositoras são responsáveis pela reciclagem de matéria orgânica na natureza, ou seja, facilita a vida do inimigo comum de todos os reinos dos organismos vivos, o homem. As bactérias precisam do homem e do lixo que ele produz.
Mas tudo - dizem os jornais bacterianos - não passa de intriga da oposição. "Algas azuis produzem fotossíntese, mas são as bactérias que garantem o alimento", argumentam os pós-doutores bacterianos. Defendem-se afirmando que "as bactérias representam a maior parcela do material vivo deste planeta e também possuem capacidade extraordinária de reprodução. Deduz-se, portanto, que são as responsáveis pela maior parte das trocas químicas realizadas entre os seres vivos e o planeta".
Ninguém sabe o que originou o "apartheid". As bactérias chamam as algas de "dondocas européias". As algas chamam as bactérias de "povo", "plebe", "pobres". A população de algas é imensa. Mas não chega a ser nem a 10% da população de bactérias.
Donde conclui-se: não se sabe porque razão as bactérias aguentam os desaforos das algas. Mas um dia essa mamata pode acabar.

_______________________________________________
PS: se houver alguma imprecisão relativa a termos e informações científicas, perdoe. É que sou jornalista, e como diz jocosamente um amigo meu, jornalista não precisa entender de nada, basta transcrever a gravação (PS do PS: transcrever ou copiar informações do google, o que eu fiz aqui).
PS2: Se algum jornalista ficou ofendido com a gracinha do meu amigo, perdoe. E se não quiser perdoar, processe. Mas sou jornalista, tenho o direito de preservar a identidade de minhas fontes. Hehehe.
PS3: viu como jornalista pode ser sacana?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Química


O moço que despertara nela uma atração estava sentado junto a si e assim, numa atitude natural, pegou em seu braço de um modo firme e ao mesmo tempo delicado. Segurou, enquanto falava alguma coisa que ela não escutava. Ela só olhava aquela mão em seu braço. Foi imediato. Ela percebeu de um modo muito claro e inquestionável - como um fato - que era exatamente aquele tipo de toque que a fazia se apaixonar.
O rapaz ainda a segurava e falava, enquanto na cabeça dela passava um filme numa velocidade impressionante. Lembrou das quatro grandes paixões de sua vida. Lembrou do modo com que todos a seguravam no braço: era aquela mesma segurança de quem possuía algo muito seu e de valor, algo que precisava de cuidado.
Tentou voltar a si e manter o diálogo iniciado com o grupo, mas só conseguiu fazer de conta que escutava e assentia, distraidamente, incapaz de absorver qualquer palavra, qualquer idéia ali em discussão. A mão permaneceu em seu braço por um tempo que lhe pareceu muito, mas em verdade deveria ter sido muito pouco. Quis encerrar o encontro, tinha muito a lembrar e analisar sobre a descoberta que há tanto tempo queria encontrar, e que tinha lhe custado boas noites de sono.
Assim que pôde, fugiu e foi caminhar pelas ruas. Sentou no primeiro banco de praça que encontrou.
A primeira paixão inexplicável foi aos 20, com Luiz. Um mau caráter nato: narcisista, sem ética, incapaz de respeitar alguém, inclusive as mulheres com quem se relaciona. Ela comeu o pão que o diabo amassou nessa relação, muita sujeição, muita entrega para quase nenhum retorno. Foram dois anos desse jeito. Ela sabia que tinha se metido com um homem que não valia a pena, e a consciência do que acontecia a fizera sentir muita vergonha, ao ponto de jamais apresentar Luiz para seus amigos ou seus familiares. Sofreu muito, principalmente por não conseguir entender o que a fizera se entregar assim numa paixão tão improvável e dolorida. Desde aquele tempo, porém, sabia que a sua prisão estava relacionada ao jeito que ele dormia com ela. Era uma impressão. Mas agora ela lembrava nitidamente, e tinha a certeza: ele dormia segurando o braço dela, enroscado nela, tomando-a como objeto caro e delicado, e seu. Foi isso.
Na tentativa de esquecer Luiz, passou a sair com Carlos, um homem maduro que há pelo menos um ano a cercava e se dizia apaixonado. Ela o usava como boa companhia e como alimento para o ego, sem intenção de dar a menor chance para que a relação entre os dois passasse disso. Até que uma tarde, durante um passeio, ele a pegou pelo brbaço - é, daquele mesmo jeito! - e ela se sentiu entregue. Ele teria percebido sua vunerabilidade e creditado a isso as palavras ditas, o companheirismo desde sempre, a paixão confessada que ele sentia por ela. A beijou, e assim começou um namoro muito feliz.
A terceira paixão de sua vida foi Henrique, um amigo desde a adolescência. Sempre foram muito unidos, um aconselhava ao outro, quase irmãos. Sem que nenhum dos dois esperasse, uma noite qualquer num barzinho, onde ela tentava explicar porque tinha posto fim ao namoro com Carlos - e Henrique agia como "cupido" por ter a crença que Carlos e ela tinham sido feitos um para o outro -, aconteceu. De repente, olho no olho, a descoberta de um sentimento diferente, a necessidade de possuir o outro. Foram em frente, não hesitaram em vivenciar aquilo que explodira sem aviso. Enquanto viveram juntos, sempre se questionavam quando é que a paixão começara. Não sabiam dizer, nem um, nem outro. Mas agora, tudo estava claro para ela. Foi exatamente quando Henrique estava dizendo: "presta atenção, menina!". E enquanto falava essa frase, Henrique a segurou. No braço. Firme, tomando a atenção de seus olhos e de todos seus sentidos. Ela não escutou mais nada, ficou perdida. Olhou o amigo nos olhos. Ele ainda falara mais algumas palavras, e se deu conta do olhar que o perscrutava. Ficou sem entender, encarou, demorou-se. E quando se deram conta, já eram amantes.
Por fim, Renato. Um homem absolutamente desinteressante. Cismara com ela desde o dia em que se conheceram, em um barzinho. Ela o achou divertido, mas odiava as cantadas sem graça que ele despejava a cada 15 minutos. Uma companhia agradável para se estar em bar com uma turma de amigos, mais nada. Numa saída dessas, ele a convidou para dançar - não tinha sido a primeira vez. Ela foi. Ficou ouvindo as cantadas batidas dele e quando estava já se irritando com a frequência e com a tolice, ele afastou o corpo, a segurou pelos dois braços, e a encarou de modo sério. Disse que estava apaixonado. Aproximou o rosto para um beijo, e ela, inerte, pasma, perdida, não resistiu. O braço, sempre o braço.
Enquanto se lembrava das quatro histórias, podia sentir perfeitamente o peso dos dedos de cada um de seus homens; a força que eles utilizavam para segurar; a suavidade dos dedos, que o cérebro interpretava como "você é minha, eu cuido de você, não posso te deixar ir".
Suspirou.
Riu de sua descoberta, a achou tola por demais. Entretanto, sabia que era algo real, para ser analisado com mais profundidade. Resolveu ir a fundo na investigação.
Então lembrou de mais uma coisa: podia estar apaixonada pelo novo moço. O toque tinha sido o mesmo...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Contido



O amor que sinto não se revela
Mesmo quando choro, mesmo quando rio
Mesmo quando o peito estronda.
Na caverna em que se esconde
O sentimento se aninha em paz:
Aguarda o encanto de tua presença.

Soda cáustica, água oxigenada, ácido nítrico. Era esse o coquetel que eu estava tomando há meses no desjejum. Tudo misturado com leite e água, para disfarçar o gosto ruim. Estava fazendo isso por pura caridade; meu espírito solidário quis colaborar com as cooperativas de leite e derivados de Minas.
Confesso que algumas vezes já pensei em suicídio, e embora essa idéia não esteja próxima de mim agora, não a rejeito em absoluto: acho que cada um deve ser dono de sua vida e sua morte, sem drama. No entanto, juro: NUNCA na vida pensei em me matar tomando soda cáustica ou me envenenando aos poucos. E era justamente isso que estava fazendo, em pequenas proporções, claro, mas cotidianamente: me evenenando ao tomar leite tipo longa vida absolutamente adulterado, segundo a Polícia Federal.
A ANVISA entrou ontem no debate para tranquilizar mães desesperadas que há dois anos davam leite com soda cáustica aos filhos. Disse que é bem provável que a PF esteja enganada. Argumenta que "é comum" adicionar água e soro de queijo na mistura do leite para "dar mais volume" ao produto (ou seja, roubar o consumidor). E que o ácido nítrico e a soda encontradas pela PF nas cooperativas são "comumente utilizados para limpar os equipamentos". Hein? Esquisito, né não?
O fato é que o leite longa vida desde ontem é uma droga a menos na minha vida. Não me interessa se as misturas para me enrolarem são comuns, eu não quero ser enganada, muito menos quando o engano significa eu ingerir soda cáustica. Sei também que a quantidade era mínima, mas mesmo assim me recuso a consumir conscientemente.
Fico com pena das cooperativas e dos cooperados. Putz, sério: prefiro adquirir produto de cooperativas e associações que do comércio e da indústria formais do sistema. Sei quanta gente depende dessas iniciativas solidárias. De repente, os cabeças da cooperativa fazem uma merda dessas, e de uma hora para outra, 200 pessoas diretas ficam sem trabalho, sem renda, sem perspectiva. Produtos de outras cooperativas serão, mais frequentemente ainda, olhados com desconfiança pelo público. Tudo isso para gerar lucro.
Filhos da puta.
Agora só me resta torcer para que a PF esteja errada e a Anvisa certa. Pelo bem do meu estômago, do público, das cooperativas, da economia solidária.
Filhos da puta.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Quadrinhas


Caso queiras quanto quero quem contará qualquer quantia?
Busco o belo, embora a bola bem barata bastaria.

Se sossegado saía, sempre sua saia sacodia,
desmonstrando o desvelo desta doida dramaturgia.

Chama cheia se sai chuva ou enchente,
vento velho varre viúva efervescente.

Tagarela, toma tez,
tira a tralha da tontinha.

Cinco são com santos guias,
sentes como são corrilhos?

Rente à ronda resolvia requerer à reitoria
rapidez na rotação e revolver toda rendilha.

Bola de meia, bola de gude


Acabo de receber e-mails de dois amigos extraordinários que tenho.
Uma segue de mudança hoje para Granada, aumentando enormemente nossa distância física.
O outro, figura incondicionalmente amada por mim, revela-me estar "sem graça e sem verbo".
Respondi aos dois. Mas senti a necessidade de acrescentar aqui algo a mais. Pensei, pensei, escrevi, apaguei, escrevi de novo, deletei de novo, e decidi: nada que eu possa falar para vocês poderá ser tão bem resumido quanto a música "amizade sincera", de Renato Teixeira:

Amizade Sincera

Amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo
Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo


Obrigada pela amizade que me dedicam. E contem sempre comigo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Made in Brazil


No último acidente ocorrido com um avião da TAM, mais de uma centena de pessoas morreram. Houve falha mecânica? Houve falha humana? O problema era a pista? Sei lá. O que sei é que tem alguém preso nessa história: o dono do puteiro. No Brasil é assim que se faz justiça: um avião cai e o dono da zona vai pra cadeia.
Não vou aqui defender ou incriminar cafetão. Não gosto nem um pouquinho da espécie, embora não seja contra a prostituição - o que detesto no cafetão é que ele ganha vendendo algo que não tem; explorando. Mas esses são outros quinhentos.
Vi ontem uma reportagem na Carta Capital de setembro (não sei a data) com o tal dono do puteiro que fica ao lado do Aeroporto de Congonhas. O cara tá preso. No seu puteiro tem boate, restaurante, hotel, além do produto óbvio. O cara é psicólogo formado, tendo já experiência em clínica. Talento perdido: se daria muito melhor (aliás, se deu muito melhor) como publicitário, marqueteiro. Um criador de factóide. E, para meu terror, quer ser o próximo prefeito de São Paulo. Impossível ser eleito? vide Maluf, Clodovil e etc. O povo de São Paulo... sei não, mas não é de confiança pelo menos neste aspecto.
O "empresário da noite" (eufemismo para cafetão com muito dinheiro) chega a ser simpático com as palavras. Diz que não explora mulheres: cada uma paga 25 reais para entrar em seu puteiro, e cada cliente paga 150. O lucro para o cafetão viria daí, além da bebida, da comida (refiro-me aqui a alimento que passa pelo sistema digestivo, claro) e do aluguel dos quartos. Se for assim, ele realmente não cometeu crime algum. Bom, de qualquer forma ele já se livrou de cinco ou seis acusações antes, e possivelmente irá se livrar dessa também.
O problema é que dessa vez ele foi apontado pelo atual prefeito paulistano como um dos responsáveis pelo acidente da TAM. Não sei como, mas imagino algumas possibilidades para o atual prefeito estar certo:
1 - para expandir os negócios, o empresário mandou amostra grátis dos seus produtos para cinco minutos de demonstração aos pilotos. A demonstração era para ser feita em pleno vôo, mas o produto era loiro e sentou no colo do piloto durante a aterrisagem;
2 - O empresário teria feito um mega outdoor cobrindo todo seu prédio com a foto de seus produtos in natura; o piloto viu, ficou embasbacado e esqueceu que estava pilotando um avião;
3 - o empresário quis criar um factóide a la Cesar Maia para dar maior visibilidade aos seus negócios. Para isso, criou uma imagem holográfica de mais uns seis andares de seu prédio (construído com licença da Prefeitura, vale ressaltar), desorientando o piloto acostumado a desviar de apenas dez andares...

Não sei. A imaginação tem que ir muito longe para tentar alcançar o raciocínio de nossos políticos e dos nossos empresários. Eu sou apenas uma amadora, creio que nem usando LSD de meia em meia hora eu conseguiria chegar ao patamar da criatividade deles.
O que eu sei é que mais de cem morreram num acidente aéreo, e quem foi preso foi o dono do puteiro.
A justiça é cega mesmo.
Yes, nós temos banana...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Para João


17 de outubro de 2007. Meu irmão caçula está fazendo 28 anos. Será que ele já sabe disso?
João continua a ser uma figura ímpar. Hoje, por exemplo, ele escolheu passar o aniversário entre hospital e casa. Resolveu peitar uma pedra no meio do caminho, e não estou falando em metáfora. Não é Drummond; é João Ricardo mesmo. A pedra estava lá, no meio do caminho, e ele de moto. O que um adulto faria? Tudo bem: o que um homem de 28 anos faria? Desviaria a moto, simplesmente. Mas João é João. Peitou. E caiu. Resultado: fissura no ombro. Oh happy day, maninho.
Nada que eu possa falar aqui traduz melhor João do que esse exemplo. É real, não fruto da imaginação ou exercício literário. Ele é assim mesmo: parece ter saído de um livro infantil; uma personagem com sérias dificuldades em admitir a saída do mundo infantil. Peter Pan olindense: João Ricardo.
Há uns anos ele resolveu brincar de boneca, só pra conquistar uma Wendy. E eis que Wendy passou, a boneca ficou (ou melhor, o boneco, lindo!) e taí: João não consegue dormir sem estar abraçado a ele. O nome do boneco bem que podia ser Grilo Falante, a consciência do Pinóquio. É, como todo garoto, João tem um bocado de Pinóquio também. E Bruninho tem um bocado de responsabilidade (alguém tem que ter isso dentro daquela casa).
Eu os amo muito, tanto Peter Pan quanto Grilo Falante.
Todos os anos, nesta data, escrevo algo para ele. Estamos distantes, é mais fácil e barato. E todos os anos, invariavelmente, tanto falo da sua meninice quanto do meu amor por ele. São incondicionais. Tenho a impressão que daqui a uns doze anos estarei na frente de um computador tratando dos mesmos temas, qualidades e defeitos.
É um pedido, viu, João?
Outro pedido pra você: sare logo. E venha me visitar em breve. Estou morrendo de saudade.
Um imenso beijo, meu irmãozinho sem juízo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Quase nada


O suor que escorre da fronte
É menos que o necessário
Para evitar a tatuagem de barro
Consolidada na pele

Pés, pneus, patas, folhas
Tudo é razão de vida e movimento
Do mergulho indesejado
Dos sentidos alterados

O suor que escorre da fronte
É menos que o necessário
Para fazer crescer a sombra
Que irá secar o suor

Estupidamente se espera
O acalanto do magoado
A ressurreição da ferida
O fim da conseqüência

O suor que escorre da fronte
É menos que o necessário
Para enxergar o real
E agir, reagir, acionar

Chumbar nuvens
Aliviar o pulmão
Devolver esperança
Abandonar o lamento

O suor que escorre da fronte
É sagrado, respeitado.
É muito menos que o necessário.
É quase nada.

sábado, 13 de outubro de 2007

Meme


O Blog dos Perrusi mandou, eu obedeço. É para fazer o seguinte:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.”

Isso é um meme, pelo menos é o que dizem porque, para ser sincera, eu não lembro de ter ouvido falar no termo. Mas também dizem que os memes são sagrados. Logo: estou relendo Sexus, de Henry Miller (foto), e é ele o que vi primeiro para citar aqui.

Tenho a mania de reler alguns livros que eu acho que não tenha interpretado bem na primeira leitura, ou que eu não tenha conseguido vislumbrar tudo quanto possível ou quanto queira. É assim com "Livro de Desassossego", de Fernando Pessoa, que sempre está na cabeceira para de vez em quando dar uma olhadinha em seus trechos. Perdi a conta do número de vezes que o li, e a cada releitura descubro mais mágica naquelas palavras.
E agora releio Sexus em casa. Lembro de o ter lido acho que com uns 20 anos, por aí. Recordo de ter ficado agradavelmente impressionada sobretudo pelas narrativas sexuais, que é de uma crueza natural, instintiva. Mas o livro não me marcou tanto.
Dia desses estava lendo alguns artigos literários e um deles tratou de Sexus como obra-prima. Gostei do artigo, mas não consegui identificar muitos dos pontos de vista colocados. Fiquei curiosa. No dia seguinte fui a um sebo e comprei o livro. Estou na parte final, infelizmente faltam apenas umas 30 páginas das 511.
Mas o que está dito na página 161, 5ª frase (cumprindo o meme)?

"Eram insensíveis, sem coração, extremamente egocêntricos, extremamente desinteressados das coisas, exceto sua própria prosperidade."

Henry falava sobre os médicos de um hospital que ele frequentava por ter um deles como seu amigo. Criticava a falta de interesse pelo paciente e a excessiva preocupação, de homens com missão de cura, por dinheiro, lucro, status. Médicos. Homens.

Bem, cumprindo o meme (que aliás, achei bem interessante), envio agora para os seguintes blogs:
Canto da Boca
Blog do Michel
Todo Prosa
Pseudoblog
Manual do Cafajeste.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Patropiqueiros


Quinta-feira com cheiro de sexta é uma delícia.
Eu sinceramente acho exagerado o número de feriados no Brasil. Aqui em Minas, aliás, na cidade onde estou, segunda-feira dia 15 também é feriado; as escolas públicas fecharam de 8 a 15, já que tinha feriado dias 12 e 15. É mole? Ô.
Mas como nada nesse país deve ser levado tão a sério, então inverto a queixa: devia ter pelo menos um feriado por mês.
Vou imaginar um calendário de feriados ideal, com desculpas plausíveis:

Janeiro: 01 (dia internacional da ressaca); 06 (Dia de Santos Reis) - Juntando o 1 com o 6, mais o 25 ao 31 do dezembro, já pensou que feriadaço?

Fevereiro: Carnaval por 15 dias no Nordeste e uma semana no resto do país, com exceção do RJ.

Março: Semana Santa. Mas que seja a semana inteira mesmo, nada desse feriado só de Sexta da Paixão.

Abril: 01 (o dia da mentira devia ser feriado nacional em homenagem aos Poderes legalmente constituídos no nosso país); e 21 (Tiradentes).

Maio: 01 (Dia do Trabalhador) e 22 (Corpus Christi)

Junho: 12 (Dia dos Namorados), 24 (São João) e 29 (São Pedro). Aqui mostro todo o meu fervor católico.

Julho: 10 (Dia da Pizza - símbolo maior do Estado Brasileiro) e 25 (Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas - e com essas estradas daqui, sabe como é que é... melhor render homenagem ao padroeiro).

Agosto: 11 (Dia da Televisão. Nesse dia as TVs fariam de tudo para agradar os clientes, quer dizer, os telespectadores. A Globo, por exemplo, daria a melhor programação possível, segundo critérios deles: Ana Maria, Xuxa, Caldeirão do Hulk, Turma do Didi, Faustão, Transmissão ao vivo do jogo Panamá x Sultão, Novela das 5, novela das 6, novela das 7, JN, novela das 9, uma edição especial do Fantástico com reportagem especial de Pedro Bial sobre os bastidores do BBB 987, seguida por uma edição curtinha do Globo Repórter inédito sobre a dificuldade dos animais em cortar as unhas dos pés; No Linha Direta especial, você vai conhecer a incrível história da mulher que foi morta pelo seu próprio assaltante por motivo banal; Jornal da Globo e, finalizando o sensacional dia da TV, Jô Soares entrevistando... ele mesmo!).
O segundo feriado de agosto seria dia 28, Dia do Bancário. Rendamos nossa homenagem a esta raça em extinção.

Setembro: O Dia da Independência (7) permanece feriado, até que enfim conquistemos a independência. E dia 18, Dia dos Símbolos Nacionais (sabia disso?), uma data patriótica que merece inclusive um replay do desfile de 7 de Setembro (todos os caretas vão para o desfile e a praia fica mais liberada).

Outubro: 01 (Dia Internacional da 3a Idade. Um dia todos nós vamos passar por isso. Ou não, o que é pior ainda); e dia 31 Dia das Bruxas (em respeito a outros cultos não-católicos).

Novembro: Ficam o 2 e o 15, mas gostaria de acrescentar o 20, Dia Nacional da Consciência Negra. E como a festa vai ser boa, a gente já emenda o feriado do dia 15 com o dia 20 e tudo bem, até porque final de ano não tem muita coisa acontecendo mesmo, no trabalho as coisas ficam mais paradas e... já convenci?

Dezembro: 25 e 31, claro, além do dia 8 (Dia da Imaculada Conceição), que sempre tem o feriado no Recife (lembra da musiquinha das Casas José Araújo: senhora da conceiBUM (o bumbo tocava bem aí)/minha mãe, minha raiBUM/ dai-me a vossa proteBUM minha querida maBUM).

Ah, como é bom festejar as datas importantes para o país... Aceito mais sugestões.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fofoqueira não: curiosa!


Acho divertido ouvir a conversa dos outros.
Almoço sempre num self do centro da cidade, ou seja, um local com clientela múltipla. Vai desde balconista de loja até a - como descobri hoje - senhoras de terceira idade que viveram um esplendor financeiro na juventude e agora sobrevivem literalmente do passado.
Uma dessas estava com outras duas mulheres almoçando numa mesa próxima à que eu tinha escolhido. Com sua voz pausada, grave, refinada, explicava às outras o que a enlouquecia nos tempos atuais. Empregada se recusa a usar farda, e você nem pode mais contratar direito, porque você é boa, trata bem, como se fosse uma pessoa normal até; e como elas pagam? Colocando você na Justiça do Trabalho.
A conversa dobrou uma esquina e mudou de ambiente, da cozinha para a Sala de Justiça. Já perceberam como o juiz daqui, fulano de tal, é novinho? Nem parece que ele terminou a faculdade, quem dirá que já é juiz. Mas como eu ia dizendo, tudo quanto é juiz hoje em dia só dá ganho de causa para empregado. Parece que todo patrão é ruim. Eu, por exemplo, não sou. A minha empregada come tudo o que eu como, dorme na minha casa, e ganha salário mínimo. Assinar a carteira eu não assino, senão vai ter que pagar imposto e aí fica caro.
As outras concordam e dão depoimentos semelhantes. Todas elas ali eram ótimas, e todas concordavam que assinar carteira de empregada doméstica era uma besteira, que era coisa do governo para tirar mais dinheiro do povo.
(Eu não estava horrorizada ouvindo essa conversa. Desde ontem - ver post anterior - estou em estado meio que letárgico).
Resolvi mudar o roteiro da audição e prestar atenção na conversa de duas garotas vestidas de branco (possivelmente estudantes universitárias). Falavam do assunto predileto de garotas: meninos e meninas. Fulana de tal terminou o namoro com Cicrano, mas com toda razão: o cara era o maior galinha. E uma vez que ele agarrou Beltrana na festa da república tal? Na frente de todo mundo.
Esse papo eu já conheço de cor e salteado. Pulei para outra mesa, minha feijoada já no fim.
Um casal. Ele, barba grisalha e um enfadonho ar de professor de análise metódica de microorganismo do curso de Odontologia. Ela, cabelo de tintura ruiva e um enfadonho ar de esposa de professor de análise metódica de microorganismo do curso de Odontologia. Papo: silêncio enfadonho, só interrompido, durante o período em que observei, por uma pergunta e uma resposta: "Fulano vai?" "Vai". Silêncio.

Preciso lembrar de nunca almoçar com ninguém. Pode ter algum curioso de butuca querendo ouvir a conversa dos outros. Coisa de gente mal educada, frustrada, que não tem mais o que fazer.
E nem adianta mudar de restaurante.

Produto da privada na vida pública





"O usuário não interessa.
Ele pode gritar, pode chorar, pode fazer o que quiser.
Eu tenho coisas mais importantes para me preocupar."


Frase que ouvi ontem de uma integrante do segundo escalão de uma administração pública municipal.

Não vou escrever mais nada aqui hoje. Estou engasgada.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Declaração de amor



Quando chego em casa ela tá lá, me esperando no portão, feliz por me rever. É companhia certa na subida da ladeira, onde pede carinhos e os faz. Chama a atenção de várias formas: pode ser uma parada súbita onde me vejo obrigada a manter os olhos fixos nos dela; ou pode estar irritada, ciumenta, estressada e simplesmente parte para cima de mim como uma fera, sem chance de negativas.
Pergunta com um olhar pidão o que vai ter para o lanche da noite e em troca sempre ganha algum petisco. Satisfeita, conversa, pula, brinca e me beija. Quando vou dormir, basta dizer "vamos, meu amor, deitar?" e pronto: ela chega primeiro que eu no quarto e já se acomoda em seu ninho.
Costumo acordar entre 5 e 5h30 diariamente, e ela sabe disso. Antes mesmo do despertador cumprir sua irritante função, ela já me chamou e deu alguns beijinhos, embora nem sempre estes gestos tenham uma resposta agradável de minha parte. Saímos do quarto e ela se espreguiça e me acompanha até a cozinha, quando enfim nos despedimos temporariamente. Eu a sustento, então tenho que trabalhar. Ela toma conta da casa.
Adoro minha Galega.
Não consigo entender quem não gosta de animais. Principalmente de cães.
A Galega é uma mistura de Pastor Alemão e Husky Siberiano - razão pela qual costumo dizer que ela é um Husky Alemão, e, acredite: muita gente cai nessa. Tem a alegria, a desconfiança e o sentido de caça de um Husky, para desgraça de insetos e pequenos bichos intrusos. E tem a fidelidade irrestrita do Pastor.
Como já disse, adoro minha Galega.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Um ano livre da droga


Onde moro não tem cinema. Nem lanchonete ou restaurante de rede. Não tem shopping. Se há algum bar interessante, não conheço. As propagandas locais não conseguem nem me induzir a beber um copo de água num forte dia de calor. Os jornais não conseguem nem se esforçam para se libertar do velho esquema de assessoria. A única livraria que conheci aqui - uma Nobel, da rede! - não passa de três fileiras de estantes entre a porta de entrada e os guichês lotéricos ao fundo da loja. Para ser justa, tem um sebo bem decente, com biscoito fino a preço de feira.
Nunca havia morado em lugar tão pequeno assim. Tem a praça da matriz e várias outras pela cidade. Lanchonetes, lojas de roupas e calçados, lotéricas, sorveterias, agências bancárias ficam no entorno da praça principal. Tem duas universidades, uma pública federal e outra privada, o que garante público de segunda a sexta e quartos vazios no sábado e domingo.
Convivo nesta cidade, mas não moro nela. Moro em sítio. Montamos uma comunidade pernambucana em Minas. A mistura vem dando certo. Eu tenho minha casa; meu irmão e a família ocupam outra; duas famílias de caseiro vieram, e cada qual tem sua casa. Tudo no mesmo sítio, que tem internet, DVDs à vontade, CDs e livros até enjoar. Tem o espaço físico muito bonito, os animais que adoro. Sossego tem de sobra. Piscina para os dias quentes. E, principalmente, um clima fantástico entre todos nós, moradores.
Beleza. Só não consigo é me desprender completamente das facilidades da cidade grande. Do fundo do coração, sinto falta de um shopping com uma boa sala de cinema com uma loja do Mac Donald´s ao lado, e uma livraria decente onde se possa matar o tempo e a conta bancária.
Digo a mim mesma que isso vai passar. Não se livra de um vício como o consumismo assim, de uma hora para outra. Já completei um ano sem consumir um único capuccino em shoppings. Olho meu saldo bancário e tenho a certeza de que não irei gastar futilmente por mais um bom tempo. Vejo meu cartão de crédito cortado ao meio (uma espécie de símbolo da minha luta) e renovo as esperanças.
Pego uma cerva, enrolo um, boto um filme pirateado no DVD, deito na cama Ortobom, passo hidratante do Boticário no corpo, um hidratante da Natura no rosto, olho meus livros da Saraiva em cima da cômoda da Tok&Stok junto com minha carteira de Carlton e repito para mim mesma: não ao consumo!!! Só hoje não vou gastar! Não às drogas!!!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Crime e castigo


Leonardo, um amigo que frequenta este blog mas prefere comentar os tópicos pelo msn comigo, tentou me convencer ontem que eu estava usando dois pesos e duas medidas no meu conceito sobre censura. Isto porque há algum tempo conversamos sobre uma propaganda que diz que "toda censura é burra", e ridiculariza casos. Eu odeio essa propaganda, a idéia que passa ao público. E ontem eu condenei aqui a iniciativa de um fulaninho que quer tirar o blog do santinha do ar.
Leonardo acha que eu tenho que me posicionar melhor em relação ao tema censura.
Eu acho que o equívoco é da tal propaganda, que mistura propositalmente censura e limite.
Ele não me convenceu. Nem eu o convenci. Vou tentar de novo agora.

Primeiro vou falar da propaganda. A peça satiriza os limites impostos à publicidade de alguns produtos. A peça em questão utiliza banana e bola como referências ridicularizadas de censura - "banana é ótima, mas cuidado para não escorregar na casca", para mim é igual a "beba com moderação". Não à toa, essa propaganda começou a ser exibida no período em que as TVs foram obrigadas a fazer a indicação de público para cada programa (tá lá indicado, você vê ou não). Exigir bom senso não é a mesma coisa de censurar. E a liberdade da propaganda deve ser igual a qualquer outra liberdade: limitada às possíveis consequências. Se eu não gosto da propaganda, meto o pau nela. Se ela me atacar diretamente, vou exigir que se corrija. Mas não penso em tirar a emissora do ar por causa de uma propaganda.

Agora vamos ao blog do santinha. Li vários tópicos por lá, não vi sinal de assunto a ser censurado. Vi críticas a uma administração de clube de futebol, a atuação do time, e todo o repertório usual do jornalismo esportivo. Lembrando que o site é para um público dirigido e feito por torcedores acima de tudo. E lembrando que futebol é tipicamente assunto fértil de discussões acaloradas.
Já pensou se cada árbitro decidir processar cada torcedor que o chama de filho da puta em cada partida? E se um cartola processa todo torcedor que levanta suspeitas sobre sua administração (não seria mais fácil ele provar por A+B que foi honesto? Seria, se fosse verdade). Pois é este segundo exemplo absurdo que está acontecendo. Tentativa de censurar críticas.
Mais uma vez: creio que toda liberdade é limitada às possíveis consequências. O cartoleiro maluco acha que fez uma excelente e honesta administração? Pois que prove. Acha que quem o contesta está mentindo? Pois que desminta. Acha que merece um direito de resposta? Pois que peça. Acha que tem direito a ganhar R$ 100 mil de alguém que repercutiu o que todo mundo comenta? Pois que processe, certamente os jornalistas têm ótimos argumentos contra. Acha que tem o direito de tirar um veículo de comunicação do ar? Pois que se dane, não tem. Isso é censura.

Viu, Leonardo?

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

E por falar em absurdo...


Fidelidade partidária que se dane, temos aqui outro assunto muito mais sério.

O ex-presidente do Santa Cruz Futebol Clube, José Cavalcanti Neves Filho, quer calar a boca dos torcedores na marra. Pretende tirar do ar o Blog do Santinha, fundado pelos jornalistas Inácio França e Samarone Lima. O que o ex-vereador recifense quer é "somente" tirar o blog do ar e engordar a conta bancária em R$ 100 mil (valor pedido a título de indenização).

O duas vezes ex acha que alguém tenha se dado ao trabalho de fazer um blog que EXCLUSIVAMENTE para “denegrir a imagem e a moral” dele. Pensando bem, acho que daria um bom material para enciclopédia e... epa. No blog do santinha, os jornalistas pedem para que a gente não faça xingamentos, acusações, queixas, reclamações e/ou adjetivações não positivas contra o sr. José Neves. Sendo assim, nada mais tenho a falar dessa figura, pelo menos nenhuma verdade a seu respeito. Mas posso ao menos comentar que é feio o advogado de um ex-vereador usar um termo racista como "denegrir", não posso? Não? É? Tudo bem, então nem isso falo.

À parte os absurdos mais periféricos, o que me preocupa é isso que parece ser uma onda: a censura aos blogs. Está ficando cada vez mais comum ouvir falar nesse tipo de coisa. O que querem agora? que a gente não expresse opinião ou (melhor ainda) que a gente não tenha opinião? Essa intimidação já foi tentada, muita gente sofreu muito por causa dela, mas ela terminou na lata do lixo - de onde não vai sair assim por tão pouco.

Samarone, Inácio, estou com vocês.
E quanto ao (...) que fez a (...) de (...), eu quero que (...).
Fui clara?

PS: declaro, para todos os fins, que o texto acima é de minha autoria; que não fui estimulada, animada, explorada, chantageada, torturada, ou usada para escrever o que escrevi; declaro que não obtive qualquer vantagem para elaborar o texto; e, por fim, declaro que não tenho um puto (ei, puto pode: estou me referindo a dinheiro, tá?) no banco ou em qualquer cofrinho - é, portanto, perda de tempo tentar me processar.
PS2: queria fazer um texto sério, mas o assunto é tão absurdo que não consigo. Desculpem.
Assinado,
Ana Cláudia Nogueira

Blog do Santinha: http://www.blogdosantinha.com
..................................
Reprodução do texto do blog sobre o assunto:
Ex-presidente do Santa Cruz vai à Justiça tentar calar o Blog do Santinha

O presidente da Futebol Brasil Associados (FBA), ex-presidente do Santa Cruz e ex-vereador do Recife, José Cavalcanti Neves Filho, entrou na Justiça estadual com uma ação para tirar do ar o Blog do Santinha.

Na ação, que tramita na 28ª Vara Cível da Comarca de Recife (www.tjpe.gov.br, processo nº 001.2007.022862-1), o presidente da entidade que gere os recursos das cotas de patrocínio dos clubes da Segunda Divisão pede a desabilitação do Blog que se transformou no principal fórum de discussões dos torcedores do time que ele presidiu, sob o argumento de que o intuito do Blog do Santinha seria “denegrir a imagem e a moral do autor”. Além disso, ele quer receber, a título de indenização por supostos danos morais, a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

O processo judicial - direito constitucional de quem se julga prejudicado ou ofendido - foi ajuizado contra os jornalistas Inácio França e Samarone Lima, fundadores da página, que conta com a colaboração de, pelo menos, outros vinte tricolores.

A contestação de Inácio França foi apresentada ontem, defendendo que o sr. José Neves jamais sofreu quaisquer danos morais por conta das postagens publicadas pelo Blog desde agosto de 2005, quando o site foi criado, além de rechaçar o pedido de desabilitação do Blog.

Mais que vencer uma batalha jurídica propriamente dita, o Blog do Santinha informa aos torcedores corais e a todos que freqüentam esse espaço virtual que a nossa intenção é mobilizar blogueiros de todo o país, internautas, militantes pela liberdade na Internet, políticos e entidades da sociedade civil, para denunciar isso que entendemos como uma tentativa de censura à liberdade de expressão e uma tentativa de intimidação a quem exerce o direito de crítica, direitos considerados fundamentais pela Constituição Federal.

Como sempre aconteceu nesses dois anos, não fugiremos do bom combate por uma causa justa, tampouco deixaremos de lado o que nos encanta na vida: música, ironia, poesia, beleza, alegria e lágrimas… tudo isso que, vez ou outra, os internautas encontram no Blog do Santinha.

À Justiça caberá decidir quem está com a razão e que a justiça se faça. A quem entende que o pedido de desabilitação do Blog do Santinha atenta contra princípios democráticos, solicitamos que se engaje nessa nossa campanha, até mesmo para evitar novos casos similares.

P.S: por orientação do advogado de Inácio França, solicitamos que xingamentos, acusações, queixas, reclamações e/ou adjetivações não positivas contra o sr. José Neves sejam evitados. O Blog do Santinha não pretende se voltar para um triste passado que entende para sempre enterrado no Santa Cruz; pretende é conseguir o apoio de quem é contra a censura.

Eu explico, ET


Receber por fora pode.
Desviar recursos pode.
Fraudar licitação pode.
Pagar propina pode.
Apresentar documentos falsos pode.
Fazer denúncia infundada pode.
Votar contra o bem comum pode.
Aceitar mesada de empreiteiro pode.
Ganhar carro e casa de publicitário pode.
Fazer sacanagem com dinheiro público pode.
Não cumprir programa de governo pode.
Comprar voto pode.
Comprar sentença pode.
Fazer caixa 2 pode.
Fraudar prestação de contas pode.
Inocentar bandido pode.
Esconder voto contra cassação pode.
Trocar socos pode.
Nessa terra tudo pode.
Menos mudar de legenda. Senão perde o mandato.

Alguns números, para esclarecer:
De acordo com o TSE, nas eleições de 2006 cerca de 23 milhões de brasileiros votaram não nos candidatos, mas nos partidos. O PT recebeu o maior número de votos em legenda: 4,9 milhões (21,3%). Em segundo lugar ficou o PSDB, com 4,2 milhões de votos; em seguida, o PMDB (2 milhões) e o PFL (1,8 milhão). Os votos em legenda ficaram restritos às eleições de deputados (federais, estaduais e distritais).
Os números demonstram que o voto pessoal é mais forte que o voto partidário. Vejamos o caso dos deputados federais: o placar foi de 84 milhões de votos contra 9 milhões de votos na legenda. Nas assembléias legislativas a diferença foi mais amena: 79,5 milhões de votos nominais contra 13,8 milhões de votos para os partidos.

Como estou com tanta fé em político quanto em papai noel, pergunto: e o quico? Se pode roubar, pode trair, é claro - até pq este tipo de roubo é sempre traição.
STF: tem coisa melhor pra fazer não?