segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dois


Canto em tua homenagem
Algo alegre e sereno
Harmonioso
Com sabor de braços enlaçados
E choro sentido de viúva antiga
Travessura sem idade
Cheiro de pão no forno
Abraço materno
Comida caseira
Satisfação premente
Dores ausentes
Intimidades secretas,
Discretas, corretas, nossas.
Canto em tua homenagem
Como quem te acompanha
Noite afora, escura, assombrosa;
A presença protetora
Justo quando mais precisamos,
Com ternura nos gestos
E leveza nos passos.
Canto em tua homenagem
Som de água corrente
(Perene)
Som de liberdade,
Rara pela franqueza absoluta do termo.
Canto em tua homenagem
O prazer sentido na pele
A sabedoria da imperfeição
A saciedade das descobertas
E a partilha do novo segredo.
Canto em tua homenagem
Amigo, parceiro, querido,
Num sussurro surdo, disfarçado,
Nessa voz que me resta
Por razões que conhecemos
E que só a dois interessa...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Começou!

Com umas cinco dessas eu enfrento qualquer adversidade

Finalmente algo aconteceu no mundo para disputar, com o caso Isabella, a atenção da mídia: a escassez global (ou a etiopização global). Começou com o arroz, para minha sorte. O milho tá na mira e com isso começo a pensar que tenho alguma coisa a ver com o assunto, porque não passo sem meu cuscuz. E o trigo, então? Sempre desprezei os conselhos de abandonar de uma vez o consumo do pão. Mas agora, sabendo que o nosso trigo vem quase todo da Argentina, vou pensar seriamente na hipótese.
Vi que nos Estados Unidos os amerinóicos já começaram a comprar arroz como se estivessem comprando água pura no deserto do Saara. A doidice é semelhante àquela de quando houve o atentado às torres gêmeas: todo mundo estocando tudo, a guerra começou, posso morrer bombardeado, mas de fome não!
Aqui no Brasil, se bobear tem gente que vai voltar à paranóia do Plano Cruzado, do Sarney. A única coisa que se via com fartura era fila. O dinheiro era tão escasso quanto a diversidade de produtos nas prateleiras do supermercado. Não tanto pelo volume (a escassez do dinheiro); era mais pelo poder de compra, a cada hora (literalmente) menor.
A tal da "escassez global" de hoje parece uma antecipação midiática do amanhã (não no sentido literal). Ficção científica. Tenho 37 anos, pretendo viver pelo menos por mais 20, e prefiro acreditar que até lá eventos pontuais sejam transformados em situações apocalípticas sempre que o Ibope diagnostique uma queda de audiência dos telejornais. Que está havendo uma crise, não duvido. Só não creio que estejamos vivendo o início de um daqueles filmes de ação em que o cenário é o fim do mundo. Ainda.
Como disse, minha pretensão de vida é bem razoável, 20 anos a mais está de ótimo tamanho. Não tenho nem terei filhos e assim estou livre de sofrer pelo futuro dos meus netos, bisnetos, tatara... Egoísmo? Assumido, e daí? Vou é voltar para o meu sítio, plantar uma horta reforçada, uma rocinha de macaxeira, aumentar o pomar, comprar uns pintinhos. Vou é garantir o meu futuro - isso é melhor do que confiar na aposentadoria do INSS.
Creio que uma hora vá faltar comida no mundo, só não creio que eu vá viver essa histeria. Bom, crer eu até posso crer (faz tempo que ando em crise quanto ao que creio ou não); eu só não quero crer, sabe? Mas pelo sim, pelo não, vou garantir o meu estoque de cerveja. O resto eu posso plantar ou criar, mas o que será da vida se faltar cevada ou lúpulo? Cada um tem seus limites - eu assumo alguns dos meus.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Teste


Eu queria uma vida sem pontuação dúbia complexa por vezes indecifrável Eu queria ver se entendia mais alguma coisa assim ou se tudo iria se misturar tanto que uma exclamação ou uma interrogação ou uma vírgula poderiam ser a causa de um indiciamento de um pedido de casamento de muito choro Coisas do tipo Um mundo sem pontuação Quase uma vida inteira regida pela tática estrutural de texto do imenso Garcia Marquez tudo transformado naqueles pequenos vilarejos colombianos fantásticos encantadores surreais que abrigam solidão secular e meninas de cabelos crescidos mesmo depois de anos de falecimento Vilarejos comandados por um capitão ao qual ninguém escreve nem obedece Grande Gabriel de pontuação econômica que obriga o leitor a ter mais atenção e impede a divagação Seria assim um mundo completamente sem pontuação Não sei apenas imagino Talvez é possível Um mundo sem ponto final e sem pensamentos reticencisuosos palavra que acabo de inventar acredito Pois nesse mundo sem pontos para dificultar um pouco mais também seria recheado de Gracilianismos e de novas palavras criadas não para confundir mas sim para deixar mais claro a um povo mais simples se bem que a prática também pode ser usada para distinguir ainda mais a intelectualidade dos reles mortais Enfim a virtuose também desvirtua isso só depende do uso que se faz das coisas Um mundo sem pontuação Nada de dois pontos sequer um Uma reformulação da gramática Quiçá um novo jeito de pensar Sem pontos sem regras sem discriminações Só não abro mão da acentuação seria meu limite Um mundo sem pontuação Taí gostei

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mar & Ana


Não sei o que há no mar que me acalma
E não sei por que o prefiro em solidão
Gosto de perder-me em sua imensidão
De imaginá-lo sem fim, inesgotável
Tão contrário a mim, ao Homem:
Miúdo, finito, sem importância;
Olho para o mar e reconheço minha pequenez
A inutilidade do orgulho.
Rendo-me à constatação:
Não sou sequer uma gota.
O mar me acalma.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Engano


Queridos amigos Artur, Dimas, Geó:

Quero me desculpar por não ter conseguido ir ao nosso encontro marcado, sábado passado. Sei que vocês pensam que eu fui, mas é só porque vocês não me conhecem bem. Soube até que Dimas, que me conhece, com certeza estranhou o ser que enviaram em meu lugar. Parece que o clone foi quase perfeito, pelo que soube. Não vi o tal vil ser.
Como vocês sabem, agora estou morando em Varginha (não sabiam? Pois é). Terra dos ETs. Como sou atéia e aeteia, não acreditava muito na história de que aquelas luzinhas verde-vermelha-amarela-laranja-branca-lilás vinham de outro mundo. Jurava que já as tinha visto mais ou menos na mesma ordem numas barracas que ficam instaladas junto do calçadão de Copacabana, ali bem em frente ao Hotel Copacabana. E, àqueles seres estranhos, parcamente vestidos e empunhando bandeirolas com essas cores todas, enquanto dançavam algo que certamente eles acreditavam ser sensualíssimo, os passantes davam outros nomes. Certamente não eram chamados de ETs.
Bem, como eu estava dizendo... Na sexta-feira à noite fui para Olinda para uma reunião de trabalho muito séria no QG. Discutimos sobre tudo, e como essas discussões sobre tudo, incluindo filosofia e principalmente a história do Partidão, demoram demais, só cheguei em uma casa (que não era minha) por volta das três da matina. Quando acordei, já era sábado à noite. Estava em outra casa, que também não era a minha. Tinha uma bruta dor de cabeça. O mundo rodava. O organismo estava em frangalhos. Foi quando descobri a primeira pista do que havia ocorrido: um terrível cheiro de cachaça mineira me invadia.
Juntando um mais um, concluí: fui abduzida por algum ET de Varginha, que certamente se escondeu na minha imensa mala quando eu vim a Recife. A razão de só agora ele se manifestar, eu sinceramente desconheço. A razão dele ter assumido um formato parecido com o meu para ir à reunião que havíamos marcado e que eu tão ansiosamente aguardava, é outro mistério que possivelmente só será solucionado na próxima reunião da Congregação ET EuTe Amo, no ano 2023, segundo as últimas informações que obtive.
Se o tal do ET fez alguma bobagem, não sei. Espero que algum de vocês tenha percebido a diferença entre o original e o genérico, e tenham se comportado tal qual um rei espanhol diante de um presidente venezuelano muito do inconveniente. De qualquer forma, peço perdão a vocês. Da próxima vez, vou revistar bem direitinho minha mala. Acho que o ET se escondeu no lugar da alça da mala. Não sei, mas prometo investigar a possibilidade.
Tudo isso, aposto: inveja do título de musa que vocês me deram. Ai, ai. Por isso que Marte não vai pra frente.
Bom, tudo isso eu escrevi para me desculpar com vocês (ai, vocês não têm idéia dos efeitos colaterais de uma abdução!), reafirmar que apesar dessa experiência traumática continuo atéia e aeteia, e pedir humildemente uma nova oportunidade de encontro, para que eu possa me redimir junto a vocês.

Sinceramente,

Ana Cláudia.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Crônica da Não-Crônica


Foi assim: de uma hora para outra perdeu a capacidade de enxergar. Não ficou cego; só deixara de enxergar o mundo como estava acostumado. Não se trata de romantismo, de amadurecimento, de secura. Talvez de costume. A questão é: como cronista, precisava continuar a se surpreender com as pequenas (e grandes) coisas da vida. Precisava voltar a lembrar aos seus leitores os detalhes que compõem o dia-a-dia e que a maioria já nem percebe. Ele era diferente, e era necessário conti8nuar a ser assim. Eram os detalhes que pagavam suas contas. Os detalhes e sua capacidade não só de enxergá-los como apresentá-los com lirismo, com humor, ironia, picardia, indignação e revolta. Ou como só mais um elemento, sem juízo de valor aplicado.

Estava tão cego que nem percebeu a dificuldade de enxergar. Quando ainda estava com o olhar afiado escreveu muitas crônicas excedentes que, ou por tema longevo ou por exagerada crítica à qualidade do texto, eram arquivadas em pasta à parte. Foi a sorte.

Era sábado e, como de praxe, foi ao mercado público se encharcar das conversas alheias, dos gestos ridículos ou ridicularizáveis, dos costumes explicitados em roupas, cores, cabelos, gírias, música. Às vezes nem chegava no mercado: no caminho até lá, uns dois quilômetros que percorria a pé, já se fartava de sua matéria-prima. Era uma anciã que caminhava de braços dados com a neta, um pedinte com ares de poeta, um jovem que fazia de seu carro um trio elétrico, um cartaz pregado no poste. A vida é riquíussima de detalhes.

O cronista nunca teve que se preocupar muito quanto à procura de seus temas. Até esse sábado - que, aliás, lhe passou despercebido.

Saiu de seu apartamento do bairro do Espinheiro (qual será a origem do nome do bairro?) em direção ao Mercado da Boa Vista. Deixou dormindo a esposa e as duas filhas. No portão do prédio não viu o porteiro e deixou de criar na mente as possibilidades daquela ausência. Estranhou, mas seguiu seu rumo dizendo a si mesmo para, na volta, comentar o episódio com o síndico em tom de reclamação.

A dificuldade de atravessar a movimentada via na frente do prédio também não lhe inspirou. Poderia ter falado sobre a selvageria do trânsito, acidentes, atropelamentos, riscos, motivos urgentes e motivos fúteis para a velocidade, o golpe do seguro, o poder das rodas, a superioridade do motorista diante do pedestre, a história da moça que se atira na frente do ônibus por mal de amor. Duas faixas, mão dupla, zilhões de histórias potenciais. Mas não para o pobre e cego cronista.

Resolve seguir o trajeto pela avenida João de Barros. Pela primeira vez para e pensa que tem que prestar atenção à sua volta. Para um olhar atento, até o não-acontecer é fato a se destacar. Olha a babá negra e linda, e tão séria quanto negra e linda. Empurra um carrinho de bebê, mas tem cara de poucos amigos. "É uma possibilidade", anima-se. Então começa a montar sua crônica, enquanto os pés produzem os passos. "A mão de unhas vermelhas contrastava com o tecido azul muito escuro que servia de berço ambulante para o filho do patrão. Percebia-se..." "Unhas vermelhas, carrinho azul, filho do patrão? Eca! O editor vai perguntar em que estribaria eu fui alfabetizado. Lixo". A auto-crítica indicava o que até a mecânica-crítica poderia ter dito: um péssimo começo para qualquer coisa, ainda mais se essa coisa qualquer é um texto com obrigação de agradar aos outros.

Quatro caras passam de bicicleta sem que o cronista note. "Pensando no parco, mas necessário salário, a magnífica babá empurra o carrinho com uma evidente mistura de mau humor e resignação". Uma garota aparentando não mais que 15 anos dorme sob a marquise. Carrega um ser no ventre e um tubo de cola na mão. O cronista quase tropeça nas pernas magras e sujas, espalhadas na calçada. Ele chega a desviar seu olhar para aquele ser humano de óbvio mas não importante sexo feminino. Continua obcecado com a imagem da babá, que há muito já saiu de seu campo de visão.

"Era linda. Corpo de generosas curvas, olhar negro carregado de mistério, expressão dura de quem pretende avisar ao mundo (e aos homens): comigo não, violão!" "Comigo não, violão? Diabos, de onde tirei isso? Cadê minha criatividade, cadê meu estilo, cadê minha verve? O que está acontecendo? Que pobreza de pensamento..." - um cão atravessa a movimentada rua como quem passeia pelo seu território, em total segurança - "Vamos lá: avisar ao mundo: sou moça séria!" "Sou moça séria... hum... ah, vou deixar assim por enquanto. O sentido é esse. Depois encontro algo melhor".

O cronista segue elaborando mentalmente seu texto e ignorando tudo ao redor. Não a mulher que agarra a bolsa como quem quer salvar do ladrão seu único tesouro; as duas colegiais que passam gargalhando em meio à narrativa de uma história 'irada' que 'rolou' com 'a galera do P.O.' na rave de ontem. Deviam ter a mesma idade da grávida viciada em cola que ficara estendida na calçada há um quilômetro atrás. O coitado do cronista mal se deu conta que deixara a João (de barro) e chegara ao Príncipe, a continuidade de uma mesma rua, como se de um destino de contos de fada. Passava nesse instante pelo muro do tradicionalíssimo Colégio Nóbrega, que recentemente fechou suas portas por falta de aluno. Uma falência não só da escola, mas sobretudo da tradição católica de ensino ou do antigo valor dado ao centro da cidade. O cara tem os olhos fechados para tudo isso, e toda a disposição voltada para a babá, mesmo avaliando o tema fraco e o enredo pior ainda. "Não está acontecendo nada na cidade. É o diabo!".

A essa altura, a magnífica negra de unhas vermelhas já estava revoltada com o bebê. Lembrou-se do aborto que fizera um ano antes. "Não pude cuidar do meu filho e hoje vivo cuidando do filho dos outros. A vida prega cada peça na gente...", pensava a personagem.

Também a essa altura, já perto do seu pretenso destino, o cronista, banhado de suor e já ciente das evidências de que esquecera de usar desodorante, assumiu somente para si que aquela história da babá não estava com nada, que não ia render, que não passava de desespero de causa querer transformar algo assim tão banal em algo delicado, ou triste, ou irônico, ou dramático. Uma babá passeando com um bebê filho do patrão é... só uma babá passeando com um bebê filho do patrão.

Prosseguiu, desanimado, até o mercado. Passou lá mais de um ahora vendo, observando, conversando. "Nada de bom, nada de diferente, nada de novo, nada de original. Até no mercado tem rotina", concluiu, sem sequer perceber o gancho para crônica que ele mesmo havia descoberto (até no mercado tem rotina). Desistiu. "Na volta encontro algo. Ô cidadezinha merda, onde nada acontece". Foi até a Conde da Boa Vista se desviando dos pedintes, dos camelôs, dos piratas, dos carrinhos de lanche. Tomou o ônibus e esqueceu de pegar o troco com o cobrador - que não fez nenhum gesto para lembrar o esquecido passageiro. Quando chegou ao prédio, o porteiro estava lá no posto de serviço. O elevador quebrou pela segunda vez na semana e ele preferiu subir até o quinto andar pela escada. O elevador do serviço fedia a mijo de cachorro - o dono do apartamento de cobertura cria um labrador que adora mijar no carpete do elevador. Isso porque no prédio há proibição normativa de criar animais domésticos.

Chega ao apartamento. A família ainda dorme. Liga o computador e acessa a pasta "Crônicas frias". Escolhe uma aleatoriamente e manda para o e-mail do editor. "Pronto, hoje me safei. Daqui pra mais tarde a inspiração volta, ou vai acontecer alguma coisa nessa cidade.

Isso aconteceu há quarenta dias. Hoje o cronista está desesperado. Só restam dois textos ainda não publicados. Está raspando o tacho da pasta "Crônicas frias".

"Quarenta dias. E nada acontece nessa porra dessa cidade!".

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ãos


Não há perdão possível

Quando a dor causada pelo ato

Torna-se ainda maior que o erro.

Não posso perdoar teu não

Jogado sem razão em minha vida

Justo quando mais precisei de teu sim.

Você o fez para ferir, e feriu.

Não sei o por quê, mas você assim o quis,

E o fez para mim. Tão sem motivo...

Aquele não carregava desesperança

E imagino que isso você não supôs.

Gerou mágoa sem vencimento.

Um não e o fim do nosso entroncamento

- E eu pensei que já era estrada dupla.

Um não e esse pedido de perdão tardio

Para o qual, cheia de razões, digo não.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Consumo oportunista


Droga. Descobri que havia deixado de ser consumista por falta de opção, e não por determinação. Em Alfenas não tem cinema, não tem shopping, não tem Americanas nem o São José. Em Alfenas não tenho amigos que gostem de farra - e aqui em Recife eu só tenho os que preenchem tal requisito, por sorte.

Estou com vergonha de comentar com alguém sobre o calor da terrinha. O suor pode escorrer à vontade, continua e desesperadamente, e mais nada falarei. Já enjoei de ser chamada de "fresca", de "metida", só por confessar que não suporto ficar longe de uma sombra, de um ar condicionado ou de um ventilador. Dimas arrasou com minha pernambucanidade quando ironizou minha reclamação comentando com Lenira, obviamente na minha frente como se não fosse comigo, que "o dia até que tá fresquinho hoje". Isso foi sábado passado, dia em que saí do chuveiro quinhentas vezes hiper-molhada, mais de suor que de água encanada.

O fedor do Capibaribe já perdeu o romantismo. O rio fede mesmo, e quem tem saudade desse fedor deveria ser obrigado a navegar pelo rio por uma hora todinha, bem na maré baixa.

Exercícios físicos também estão fora de cogitação. Tentei duas vezes, mas o resultado é pior que a inércia: saí da Riachuelo para o São José caminhando determinada a cumprir minha obrigação com o corpo, prevendo já o estrago alcóolico pelo qual o bichinho vai passar neste mês. Resultado: assim que cheguei no mercado corri para a lanchonete do Antonio e tomei uma jarra inteirinha de suco de pinha. Tive mais ou menos uma espécie nova de síndrome de pânico. Estava certa de que se não tomasse muito líquido gelado naquele momento eu iria bater as botas. Tinha certeza disso.

Na volta à Riachuelo, paro na esquina para tomar um copo de água de côco. Terminei tomando dois. Conclusão: parada em casa, lendo ou assistindo a filmes, consumo menos calorias. Aliás, praia é algo que está fora de cogitação enquanto eu não me readaptar ao bafo caloroso recifense.

Quer saber? Pode me chamar de fresca à vontade. Não tenho como negar que em Recife tá fazendo um calor miserável. Pensando direitinho, até dá para encontrar uma boa desculpa para meu novo surto consumista. Posso afirmar com certeza: todas as lojas em que comprei algo eram equipadas com potentes aparelhos de ar-condicionado. Menos os botecos, com suas cervas geladas. Não que eu goste de beber; é pura necessidade fisiológica. Pelo menos até eu me readaptar...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Dos Guararapes a Olinda


Cá estou, Recife:
suor escorrendo pelo corpo,
o fedor do Capibaribe invadindo as narinas
o prazer de mastigar a tapioca com queijo
o andar apressado pelas ruas
o caminhar distraído pelas pontes
o medo dos trombadinhas
a travessia fora da faixa de pedestre
a visita ao São José
a vista do mar
e a areia, mais invadida que invasiva
os amigos, meus caros amigos.
Cá estou Recife,
no velório de minha saudade.
Muito bom estar em Recife.