quinta-feira, 29 de maio de 2008

Encruzilhada

Tanto sonho perdido
E a vida não quer saber:
Se não foi, não será jamais
E se foi, foi. E só.
Cada escolha, racional ou instintiva,
Elimina uma chance
Um sucesso, um fracasso, um nada
E sempre resulta em perda.
E no entanto,
É querido sonhar,
É necessário perder;
Uma escolha a cada segundo
Chances muitas, de tudo, todas
Boas para quem sabe
Que sempre há ganhos
Mesmo os nunca sonhados...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Terceira Infância


"Doutor, olha essas bolhinhas que apareceram no meu braço, de ontem para hoje". Ele olhou, olhou... Mandou que eu sentasse, examinou com olhar de curiosidade. Parecia não estar acreditando em alguma coisa que eu nem suspeitava que fosse. Mandou abrir a boca. "Ahhhhhh". Como quem teme ser acusado de tarado, irritantemente hesitante, pediu para que eu levantasse "um pouco" a blusa para ele avaliar as bolhas que já começavam a invadir costas e barriga. Tirei logo a blusa toda.
- Um minuto, eu já volto.
Coloquei a blusa de novo e fiquei esperando. Quando o médico voltou, vinha carregando um colega. "Esse é meu colega. Ele é pediatra, você se importa que ele lhe examine?". "Hein? Ser examinada por um pediatra? Claro que não me importo! Isso vai fazer bem ao meu currículo", respondi. Aos 37 ser examinada por um pediatra? Hahaha... Eu sempre disse ter alma de criança.
Foi engraçado ver a cara do pediatra examinando as bolhas ante o olhar incrédulo do clínico. O pediatra parecia estar enxergando, em cada uma delas, o Santo Graal. Maravilhado (médico é esquisito!), ele abre um sorriso largo ao clínico e diz que as suspeitas dele estavam certas: a paciente (euzinha) está com catapora.
- Tá coçando?
- Um pouco.
- Começou quando?
- Ontem à tarde comecei a coçar o braço, mas as bolhas só apareceram agora de manhã.
- Catapora. Isso é catapora. Teve febre?
- Não.
- Bota o termômetro nela.
Lá vem o cheio-de-dedos quase tendo um troço porque teria que colocar o termômetro (obviamente) por baixo de minha blusa.
Enquanto passava o tempo do termômetro, expliquei ao pediatra já ter tido catapora na infância, e pelo que eu sabia, catapora só dá uma vez.
- Você está certa, catapora só dá uma vez. Então você está tendo pela primeira vez agora.
- Não senhor, eu já tive na infância. Peraí, minha mãe (que estava na sala de espera) pode confirmar para o senhor.
Ao meu chamado, entrou a família quase inteira no consultório. Todos confirmaram minha catapora na, digamos assim, primeira infância. E mais: meu irmão mais velho já teve catapora três vezes. Fomos ridicularizados pelos médicos. Para eles, das outras vezes foram feitos diagnósticos errados. E aí, como é que eu posso provar que eu tive o que eles dizem que eu não tive, tanto tempo passado? Sou um objeto de estudo da medicina, e os dois plantonistas dispensando esse material. Paciência.
O pediatra se foi, a família foi dispensada, voltei a ficar a sós com o clínico. Ele pediu então para examinar novamente minhas costas, e eu nem esperei ele pedir para levantar um pouco a blusa. Tirei. Olhou, olhou, cutucou e disse que eu poderia colocar a blusa. "E a perna, tem bolhas nas pernas?". "Hum... pouquinho. Acho que tá começando a estourar agora, quando eu saí de casa não tinha nenhuma". "Eu poderia...", "Sim, sim, claro". E desci a calça até o chão. Hahaha... o médico não sabia se chegava perto ou corria - bom, nem sou tão gostosa assim nem tão horrível assim. Acho que a timidez dele é que causou aquela suadeira.
Pois é, o fato é que estou com catapora. Dessa vez, exigi o exame que comprove a suspeita, para esfregar na cara do próximo pediatra em caso de reincidência. Será que vou chegar aos 50 sendo examinada por pediatra?

PS: acho um desperdício ficar doente quando você não precisa cumprir horário. A única vantagem de ficar doente na "terceira infância" é o atestado médico para justificar a falta ao trabalho. Infantilidade? Oras, estou com catapora, você queria o quê?

sábado, 17 de maio de 2008

Ressaca (mais uma vez)


Agonia
Lembrança do passado recente
Súbita transformação:
Mal-estar
Arrependimento
Juras sem crédito
Expulsão
Fuga da força
Dor, cabeça e estômago
(Onde houve o exagero?)
Almejada cama
Suor, agonia
Expulsão, tontura
Tortura
Água fria
(Onde está meu sangue
Que não corre nas veias?)
Exaustão:
Cama, cama, cama
Olhos fechados
Corpo entregue
Bambo, inerte
E outra agonia
E não; não é possível!
Foi, passou, passou
(Desejo a morte rápida
Que me tire desse estado)
Calor por dentro
Frio por fora
A pílula do mal-estar
Cobertor ao feto
Quentinho, quentinho
Parou, sossegou
Esqueceu, foi-se
Olhos fechados, sono
Descanso, fim:
"Nunca mais eu bebo", minto.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mó viagem...

Esses olhos do ET de Varginha enganam alguém?
Vamos combinar: se todo mundo tivesse o hábito de fumar maconha, o mundo ia ser muito mais legal, muito mais tranquilo. Que povo esquizofrênico esse! Vôte! Quase que prenderam um inocente cachorrinho só porque ele trazia consigo um manifesto pela descriminalização! E olhe que o pobrezinho nem tragou. Paz, gente, paz.
Agora tão pegando no pé do coerente, lindo, maravilhoso, PHD em THC e o tudo de bom do Marcelo Anthony só porque ele comentou que maconha não fazia mal algum para ele, mas a corrupção e a violência sim, fazem mal. E né não? Aí eu vi na Istoé um leitor ou uma leitora dizendo que o Marcelo é aloprado, que vive noutro mundo (mais ou menos, né?), pois é a maconha que gera o tráfico e o tráfico que gera a violência e... bom, ele não chegou ao final do ciclo, mas imagino eu que, na mente de uma figura dessas, se você chegar no fiteiro e comprar seda já pode ser preso pelo Pentágono por financiar o degelo lá na Antártida. Ainda vamos chegar a este ponto.
Mas onde é que eu estava mesmo? Ah, sim, no Anthony. É lindo né? Putz, vai ser gostoso assim na... Não! Eu já tinha pulado essa parte. Ah tá, essa história da maconha versus violência. Então. Pô, o Anthony tá certo. Violência sempre me faz mal, corrupção me dá embrulho no estômago. Fumar só me faz mal de vez em quando, e mesmo assim quando ela é misturada (ou seja, quando foi submetida a violência anterior ao consumo). Tudo bem, se não houvesse consumidor não haveria tráfico. Rebato, usando a mesma pobre lógica: se não tivesse lei proibindo, não seria tráfico - ou seja, corre prum lado e pro outro e a culpa cai mesmo no colo do governo.
Cara, e esse troço de marcha? Não é idéia de maconheiro, aposto. Claro que não poderia acontecer: todo mundo ia ficar viajando na concentração mesmo, ninguém estaria a fim de enfrentar asfalto quente. Não faz sentido. Pelo menos pra mim.
Uma amiga perguntou se na cidade onde moro agora, Varginha (MG), tinha muito maconheiro. Respondi que até agora, pelo que eu sei, infelizmente não conheci nenhum (eu gosto mesmo dessa turma, o pessoal é divertido). Ela então veio argumentar que é interior mineiro, gente conservadora e tal. Nada a ver, rebati. Tô morando numa cidade onde um monte de gente diz ter visto uma nave voadora caindo e dois ETs, com uns olhões vermelhões pra caramba, correndo da polícia. Esse povo viaja demais, eu é que preciso descobrir direitinho onde é que funciona esse "aeroporto de ET". De repente me bateu uma grande vontade de estudar o assunto. Vou ali na banca comprar uma "Planeta", daqui a pouco tô de volta. Não fuma tudo não! Peraí que eu já volto...

Blogueira


Ando sem tempo pra nada
Exceto para buscar a beleza
Presente na dor do Poeta;
O sentimento do mundo
Na toca do Bom Ladrão;
Essa nova Excalibur
Feita de delírios insanos
E ironia cortante;
O fantástico Reverendo
Surreal até na ausência;
A paixão que emana dos corpos
E escorre pela Boca;
A inocente indignação
E a timidez Oriental;
O veneno do Torcedor
Que se derrama com graça
Na arquibancada virtual.
Ando sem tempo para nada
Além de cultivar meus vícios
E alimentar minh´alma...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Tolafonia

Mal o frio assola
A sola do sapato acusa
Usa e abusa do ruído
Doído, rasteiro, fanático
- Tico de som num mundo
Mudo de tanto absurdo
Surdo de sentimentos
Mentalmente insano
Ano a ano piorado
Irado, nem sabe mais por qual razão.

Mal a razão aflora
É hora de ouvir o grito
- E tu, que fazes num mundo
Mudo, surdo, absurdo?