quinta-feira, 17 de julho de 2008

Pelo celular (em tempos de grampos...)

Uma singela homenagem aos meus grampeadores

- Oi. E aí?
- Então, conseguiu?
- Mais ou menos.
- Mais ou menos? Mas mais pra mais ou mais pra menos?
- É que deu rolo.
- Não fala em rolo, meu telefone tá grampeado. O que houve?
- É que... Não sei se eu posso falar, teu telefone tá grampeado, e se teu telefone tá grampeado, a essa altura do campeonato o meu também tá.
- Fala por código, mas fala.
- Não podia ser pessoalmente? Onde você está?
- Eu tô aqui, mas tá difícil.
- Pera. Você tá onde, e o que é que tá difícil?
- Eu tô aqui, aqui, no QG, sacou? No QG. Mas tá difícil porque eu não posso sair daqui.
- Então eu vou aí.
- Não! Ta louco? Vem não. A figura tá aqui.
- Figura? Que figura?
- "A" figura. Não posso falar o nome, meu telefone...
- ... tá grampeado. Já sei, já sei. É o A?
- Aham.
- Tá sacando que eu tô falando "o A" pra disfarçar, né? Que na verdade esse A a que estou me referindo nem tem A no nome nem é mulher. Entendeu né?
- Como é que é?
- Deixa pra lá. O A é quem eu tô pensando que é?
- Deve ser. É o A de sempre, ele mesmo.
- E por que é que eu não posso ir ao QG quando o A está lá?
- Lá onde?
- Lá. Quer dizer, aí, no QG.
- Ah!
- Tá falando comigo ou com o A?
- Hein?
- Eu escutei. Você falou "A". É um código novo ou você estava falando com o A?
- Eu falei A? Falei não...
- Falou, eu ouvi.
- Deixa eu ver... Ah não... Eu não falei A, eu falei Ah!
- Aaaahhhh... Sei lá, acho que entendi. Mas deixa pra lá. E o treco?
- Então, conseguiu ou não conseguiu?
- Consegui, mas não tudo. E sem nota. O cara se recusou a entregar a nota.
- E você comprou mesmo sem nota? Tá louco? Como é que vou prestar contas depois? Eita porra, estamos falando demais. O telefone tá grampeado, esqueceu?
- Puxa, eu quase esqueci desse detalhe. Sacanagem grampearem o telefone da gente né?
- É, sacanagem mesmo. Mas deixa pra lá, da gente eles não vão conseguir nada.
- Tudo bem. Mas como é que eu faço pra me livrar do troço, já que eu não posso ir aí?
- Arranja um carro disfarçado de comum. Sabe, do tipo gol branco? Então. Arranja um desses e leva até a esquina do QG. Chegando lá, você dá um toque e meio no meu telefone.
- Pera. Como é isso de dar um toque e meio?
- É fácil. Você... Deixa pra lá, dá dois toques mesmo. Aí eu vou me encontrar com você duas ruas abaixo daqui. Você desce as duas ruas, entra à esquerda, vira na segunda à direita e deixa o pacote embaixo de uma árvore florida que tem na calçada.
- Beleza, estamos combinados. Já vou.
- Valeu.
(Meia hora depois)
- Ô, cadê você? Estou te esperando há mais de meia hora!
- Estou aqui, no lugar combinado. Você não apareceu!
- Eu fiz tudo como você mandou. Desci, dobrei, dobrei de novo e tô embaixo da árvore.
- Caraca, eu não acredito! Você foi para onde eu mandei você ir? Você tá louco? A essa altura do campeonato tem uns 15 PFs disfarçados a seu lado para nos flagrar enquanto você me passa o troço.
- Mas você marcou!
- Dãããã! Era pra fazer tudo exatamente ao contrário, mané. Não lembra? Meu telefone tá grampeado!
- E como é que eu vou adivinhar?
- Deus, contratei uma anta! Já que estragou tudo mesmo, que os policiais federais estão lhe seguindo, então vem direto para o QG e entrega logo essa porra dessa marmita de uma vez, merda!

sábado, 12 de julho de 2008

Destino


Essas unhas esmataldas
Essas cutículas à mostra
A pele um tanto ressecada
(marcas do tempo frio e seco)
Meio áspera, pouco calosa
Um polegar meio torto
Uma queimadura
Aliança na esquerda
Um número escrito na palma
Corpo longo, riscas longas
(longa vida, dizem)
Linhas marcantes
A do coração entrecortada
A dos filhos (dois!)
A profunda é a da cabeça
Do indicador ao pulso, a vida.
Minhas mãos,
Meu perfil,
Minhas linhas,
Minha vida
(em minhas mãos).

terça-feira, 8 de julho de 2008

Eu, sorvete de limão


Fui dormir com certa tranquilidade. Sim, estava frio. Aliás, os dias têm sido bem frios, cada vez mais. De um jeito e de outro a gente engorda nesse frio: fora a típica fome de quem precisa ficar dentro de casa bem agasalhado, ainda tem o fato da quantidade de roupas que se usa para poder estar confortável. Agora, por exemplo, visto uma camiseta, uma blusa de frio e um casaco; uma calça comprida grossa; duas meias. Tem gente que ainda se preocupa em estar bem-vestida, bonita e elegante com tanta coisa em cima do corpo. Eu tô mais preocupada é com não sentir frio - e aí, como diria o velho e bom Tim Maia, "vale tudo".

Fui dormir empacotada como um frango congelado - só que eu tinha menos água comigo. Além de vestir um monte de roupas, usei duas cobertas bem quentinhas. Uma delas, aliás, eu achava que era resistente a todo o frio do mundo. Quando a comprei morava em Sanca, conhecida pela alcunha de "a cidade do clima". A gente acordava na cidade sem coragem de tomar banho, ia trabalhar com vontade de voltar para debaixo do cobertor; no meio da manhã vivíamos um clima primaveril, um ventinho fresco e um sol quentinho, gostoso. Ao meio-dia, andávamos semi-despidos pela rua sob um sol nordestino sem trégua e uma umidade desértica; à tarde o clima era extremamente seco, os olhos ardiam e a boca era uma secura só - e isso sem nenhuma vantagem entorpecente como compensação. E à noite a gente congelava (eu pensava). Hoje sei o que é congelar, e ainda assim, sei que essa minha medida é tão relativa...

Pois bem. Embrulhada como frango, dormi sossegada. Acordei no meio da madrugada sem condições sequer de esticar o braço para fora daquele embrulho para pegar o relógio e conferir o pouco tempo que tive para dormir em paz. Virei para um lado, virei para o outro, desforrei completamente a cama, fui encolhendo, encolhendo, até ficar na posição mínima embrionária. Sinceramente, se fosse possível eu queria encolher até o tamanho do espermatozóide espremido entre seus milhões de colegas no saco de meu pai.

Nada deu jeito: o frio era daqueles que ultrapassa tudo quanto é escudo e penetra nos ossos. É sentido de dentro pra fora. É foda. Aí lembrei da velha tática do pinto (quem pensou que ia rolar sacanagem aqui, se deu mal...): lâmpadas acesas e focadas! Claro!

Agora eu não era mais um frango embrulhado. Era um pintinho de granja (eu???) que precisava de muito calor e aconchego (quem escreveu isso???) para crescer e engordar logo (ainda mais???), para poder ir ao abate (abate = trabalho) com toda a saúde e conforto do mundo (nem toda, claro). Depois de alguns minutos, realmente voltei a sentir conforto e peguei no sono.

Acordo pela manhã sem que o frio tenha dado trégua alguma. "É frente fria", palpita meu irmão. "É frente, lados e fundos, tudo gelado", completo. A moça do tempo não previu isso. Acho melhor não lavar a cara antes de tomar um café, tenho medo que os cílios congelem e quebrem. Encho uma xícara da coisa mais quente que encontro, um café recém-passado, e, com voracidade, viro tudo em minha boca. Bem, a mira sentiu o impacto do frio e errou feio. Levei um banho de café, a xícara inteira em meu blusão e em minha calça. O jeito foi tirar tudo e tomar um banho (quente, gente, banho quente).

Cheguei então àquela velha e sábia conclusão: tem dias que a gente não devia levantar da cama. Desculpe, chefe, mas enquanto esse tempo não voltar à normalidade, não tenho condição alguma de trabalhar. Cada um tem que ter consciência de seus limites. Não sou preguiçosa, sou prudente (Familiares advertem: o mau humor de Ana Cláudia faz muito mal para a saúde dos outros).

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Amava os Beatles e os Rolling Stones...

Nos anos 70, os jovens brigavam pelo fim da ditadura.
Nos anos 80, lutavam pelas eleições e pela anistia política.
Nos anos 90, a preocupação era conseguir um bom lugar no mercado de trabalho.
Nesta década ainda não vi jovem algum brigar por nada. O que eu vi foi um presidente de DCE de universidade federal procurar um candidato para leiloar o seu apoio político. Felizmente, ele procurou exatamente aqueles que eram jovens típicos nos anos 70. Não foi levado a sério e saiu esbaforido, raivoso, jurando que iria trabalhar para o candidato opositor, em represália pela negativa. Por míseros mil reais. Tão jovem...