terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lúgubre


O desejo retirou-se
Assim, como se não tivesse sido,
Como jamais tivesse havido,
Como flor que não brota:
Findo ao natural.
Como uma última gota
Que se esvai, garganta abaixo,
Para voltar a ser apenas mais uma
No mar do corpo saciado.
Acabou sem vestígio
Sem saudade ou lágrima
Sem um riso de alívio
Ou de escárnio.
Nada restou:
Nem agradecimento
Nem sofrimento
- Um nada depois de tudo.
Atrás de si, sequer escuridão
Ou mágoa ou dor;
Nem tristeza, nem amém.
Para trás, apenas a lembrança
Com curto prazo de validade
De um amanhã menos intenso
Repleto da certeza do esquecimento.
O desejo retirou-se
E eu não senti nem falta.
(Eu, que imaginava que morreria...)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Seda


Costuro o manto da alegria
Ciente que a linha da vida
Uma vez se acaba
- Uma vez só...

E que o tecido escolhido
Sempre poderia ser melhor
Ou pior.

Costuro meu manto colorido
Com afinco mas sem pressa:
Alegria demais se acaba
- Ou descostura.

Embora sempre inacabado
É este o manto que já me cobre,
É este o manto que me sustenta.

Costuro o manto imenso
Mesmo sabendo que o arremate
Me será sempre negado
- Eu, mortal.