terça-feira, 20 de abril de 2010

A culpa é do Serra

Voltei a fumar.
Depois de dois anos, mais de 10 kg acrescentados ao meu corpo, voltei a fumar.
Não bastasse isso por si só – eu rendida, submissa, escravizada por gosto próprio – moro em São Paulo.
A São Paulo do Serra.
A São Paulo (prepare o riso) politicamente correta (dá-lhe Maluf).
A São Paulo serrista anti-tabagista.
É, volto a fumar onde fumar virou crime. E não é exagero.
Segunda-feira passada estive em Bauru. Às 13h, calor medonho, troquei o restaurante e conseqüente almoço por um simpático barzinho que tinha dez mesas na calçada. Pedi um chopp, saquei a carteira de cigarro da bolsa.
Antes de encontrar o isqueiro, um lépido garçom me alerta, com ar espantado: é proibido fumar no bar.
Bar? Dentro do bar? Mas eu estou na calçada... aliás, o bar está ocupando a calçada!
Não importa. O bar pode estender suas mesas e seus lucros à calçada, em rua onde o trânsito de veículos é fechado porque é passagem livre para os incautos que queiram fazer compras no comércio. O bar pode. Eu, não.
Desconfio que vou usar o meu retorno voluntário ao vício como desculpa ideológica, só para poder falar mal do Serra com propriedade em relação a este assunto.
Não adiantou meu protesto. Não adiantou minha indignação. Nada adiantou: se eu quisesse fumar, teria que dar – atenção, isso foi dito seriamente: eu teria que me levantar da mesa e dar DOIS PASSOS à esquerda (pelo menos foi para este lado), porque DOIS PASSOS depois da minha mesa que estava invadindo a calçada, eu estaria FORA DE UM ESTABELECIMENTO COMERCIAL e, aí sim, poderia fumar.
Não fosse o chopp outro vício, o dono do bar ia ver uma coisa. Mas é, portanto guardei minha indignação junto à carteira de cigarro dentro da bolsa e desagüei o copo de uma só vez.
Levantei, paguei a conta, fui ao lado da mesa onde outrora havia sentado e saquei minha arma. Acendi a pólvora e mirei o alvo: a fumaça do cigarro apontada para a mesa ao lado, onde duas moças almoçavam coxinhas; a fumaça expulsa da boca (aquela que nem meu pulmão aceita) na cara do garçom.
Coitado, pensei. Ele só cumpre ordens.
Foda-se, pensei. Ele tem cara de quem vota no Serra.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sanguínea

Volto a ter sede de vida
De novidades benditas
De exploração ao outro
De mundos marginais
Lágrimas matinais
Sobre corpos outros
E risos estridentes
Desejos malevolentes
Insanas aventuras
Tragáveis desventuras
Volúveis capturas
Dos olhares passantes
Dos pedestres distantes
De mãos em mim – seus toques...

Estendo a mente
Ao desconhecido, ao profano
Aos amores nos cantos
A todos os encantos
Ao novo, ao estranho
Ao convite feito
Ao beijo perfeito
Ao efêmero do acaso
Para quem abro os braços
E me largo, solene,
Feliz e contente
Um tanto demente
Um tanto temente
Integralmente

Libero meu riso
Em nada sofrido
Ao carinho recebido
Às palavras despejadas
Com a vã facilidade
De quem não tem
Razões para mentir
Ou desculpas para dar
A quem me pede um beijo
Ao qual não vou recusar
A quem irei me entregar
Por ordem de meu desejo
Por querer tal lampejo
- E assim ora me vejo...


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Língua" atualizada

Paródia da genial “Língua”, adaptada ao novo Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua ferir
Os que não lêem Luís de Camões
Gosto de ser um star
E quero me dedicar a criar confusões e fofocas
E uma profusão de asneiras
Que vendam jornais
E ocupem espaço no Estadão
Gosto do Fernando no poder
Da Sampa do Serra
E sei que a cortesia está tão por fora
Assim como ACM tem a minha amizade
E quem há de negar que o tucano é superior?
E quem há de negar que o tucano é superior?

E deixe os pobretões morrerem à míngua
Minha pátria é minha íngua
Viva o Green Card!

Corro do Lula tão próximo
Dessa América só quero o pó
O que mais quer,
Quanto quer esse merda?

Vamos atentar para a cultura elitista
E falar em inglês com os turistas
Eu sou um imperialista!
(o quê?)
Eu sou um imperialista!

Vamos festejar o sucesso das carmens mirandas
E levar o Chico Buarque de Holanda pro abate
E (no arremate!) cantemos a Luana
Ouçamos com atenção o editorial da TV Globo
Nós somos a nata da nata da nata
Nata da nata da nata da nata

Adoro homens
E adoro fãs
Que sejam meus,
E não de minha irmã
E não de minha irmã

Estou com fome
Quero escargot ao molho Chevalier,
Algo pastoso e algum canapé
Traz, Maria José, algum canapé!

Corro do Lula tão próximo
Dessa América só quero o pó
O que mais quer,
Quanto quer esse merda?

Se eu tenho uma ideia incrível, aproveito e faço uma canção
Está provado que só é possível falar merda ao Estadão
Bolsa-Família quer dizer “corro risco”
Escola pra pobre me deixa azedo
E o movimento dos sem-terra me perturba o ano inteiro!

A grana é minha pátria
O Rio é minha casa e eu tenho mágoa
Muita mágoa

O PAC não é concreto, o governo é caótico
E os imbecis ainda votam nele
Pois... deixem que votem, se fodam e se lasquem!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

CAETANO VELOSO: UM SUJEITO ALFABETIZADO, DESELEGANTE E PRECONCEITUOSO


Esse cordel merece reprodução... Cala a boca, Caêfeagácê!
____________________________
Autor: Antonio Barreto, natural de Santa Bárbara-Ba, residente em Salvador.
Eu já estava estressado
Temendo até por vingança.
Meus alunos na escola
Leitores da ‘cordelança’
E a galera em geral
Sempre a me fazer cobrança.
Todo mundo me acusando
De cordelista medroso
Omisso, conservador
Educador preguiçoso
Por não me pronunciar
Sobre Caetano Veloso.
Logo eu, trabalhador,
Um pouco alfabetizado
Baiano de Santa Bárbara
Sertanejo antenado
Acima de tudo um forte…
E por que ficar calado?
Resolvi tomar coragem
E entrei logo em ação.
Fui dialogar com o povo
E colher a opinião
Se Caetano está correto
Ou merece punição.
Lápis e papel na mão
Comecei a anotar
Tudo em versos de cordel
Da cultura popular
A respeito de Caetano
Conforme vou relatar.
— Artista santo-amarense
Amante da burguesia
Esse baiano arrogante
Cheio de filobostia
Discrimina o presidente
Esbanjando ironia.
— Caro artista prepotente
Tenha mais discernimento.
Seja um Chico Buarque
Seja Milton Nascimento
Seja a luz do Raul Seixas
Deixe de ser rabugento.
— O Caetano deveria
Ser modesto e mais gentil
Porém o seu narcisismo
Que não é nada sutil
Faz dele um homem frustrado
Por ser bem menor que Gil.
— Seu comportamento vil
É algo de outra vida
Ele insiste em muitos erros
Não cura sua ferida
Por isso sua falação
É de alma involuída.
— Caetano é um arrogante
Partidário da exclusão
O que ele fez com Lula
Faz com qualquer cidadão
Sobretudo gente humilde
Que não tem diplomação.
— Por que este cidadão
(O Caetano escleroso)
Não criticou Figueiredo
Presidente desastroso?
Além de aproveitador
O Caetano é medroso.
— Esse Cae que ora vejo
Não representa a Bahia.
Ser o chefe da Nação
Esse invejoso queria
Mas a sua paranóia
Pouco a pouco lhe atrofia.
— Já pensou se o Caetano
Fosse então educador ?!
“Mataria” os seus alunos
Pela falta de pudor
Pela discriminação
Pelo brio de ditador.
— Ele não leu Marcos Bagno
Pois é leitor displicente.
Seu preconceito lingüístico
Contra o nosso presidente
Discrimina Santo Amaro
Terra de Assis Valente.
— Ele ofende até os mortos:
Paulo Freire, Gonzagão
Patativa do Assaré
O Catulo da Paixão
Ivone Lara, Cartola
Pixinguinha, Jamelão…
— Caetano é um imbecil
Da ditadura um amante.
Um artista egocêntrico
Decadente ambulante
Se julga intelectual
Mas é mesmo arrogante.
— A Bahia está de luto
Diante da piração
Desse artista rabugento
Que adora a exclusão,
Vaca profana, ególatra
Que quer chamar a atenção.
— Vai de reto, Caetanaz
Pega o Menino do Rio
Garoto alfabetizado
Que te provoca arrepio.
Esse sim, não é grosseiro
Nem cafona pro teu cio.
— Um burguês reacionário
Que odeia a pobreza.
Ele não gosta de negro
E só vive na moleza.
Sempre foi um lambe-botas
Do Toninho Malvadeza.
— Vou atender meu cachorro
Pois é algo salutar
Muito mais que prazeroso
Que parar pra escutar
O Caetano elitista
Que começa a definhar.
— Certamente o Caetano
Esqueceu do Gardenal.
Bem na hora da entrevista
Lá se foi o bom astral
Desandou no Estadão
Dando um show de besteiral!
— Caetano ‘Cardoso’ segue
Sempre a favor do “vento”
Por entre fotos e nomes
Sem lenço nem argumento
Vivendo só do passado,
Cada vez mais ciumento.
— Eu respeito a sua arte
Mas preciso declarar
Que quando não tá na mídia
Cae começa a atacar
Sobre tudo as pessoas
De origem popular.
— O Caetano gosta mesmo
É de gente diplomada:
Serra, Aécio, Jereissati,
Toda tribo elitizada…
Bajulou FHC
Que fez muita trapalhada.
— O Caetano discrimina
Pois está enciumado.
Na verdade, o nosso Lula
É um homem educado.
Um nordestino sensível
Muito mais que antenado.
— Dona Canô, com 100 anos
Não perdeu a lucidez.
Mas seu filho Caetano
Ficou pirado de vez
Transformando-se num “cara”
De profunda insensatez.
— Ofendeu Marina Silva—
Através do Silogismo
Mistura de Lula e Obama
Logo quer dizer racismo:
Mulher cafona, grosseira
Analfabeta – que abismo!
Adoro Mabel Veloso,
Betânia, dona Canô…
Para toda essa família
Meu carinho, meu alô.
Mas o mestre Caetanaz
Já está borocoxô!
É proibido proibir
O cordelista versar
Pois conforme disse Cae
“Gente é para brilhar”.
Então permita ao poeta
Liberdade de pensar.
Brasileiros, brasileiras
A Bahia está de luto.
Racistas em nossa terra
Radicalmente eu refuto.
Estamos envergonhados,
Todos fomos humilhados
Oh Caetano ‘involuto’.