quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Lisérgica


Sinto o som extravasando em mim

Em minhas veias, minhas têmporas

Em meu amor perdido para sempre

No prédio ao lado, ou atrás, quem sabe?

Recorro a qualquer coisa e a nada.

A sensação é muito boa, iluminada:

Rojões, fogos, buzinas, silêncio

O caos do centro paulistano em que habito

Implosão. Conforto, receio, fumo. Ar.

Poluo-me com prazer e sem opção

Luz branca, computador, televisão

E meu coração não consegue ver nada.

Essa confusão é minha, eu a criei

E como tudo na vida, não tem explicação:

Minha única e esfarrapada desculpa

É ser o que sou, o que penso, e o que digo

O som reverbera em minha caixa de ser

E só me implode, e implode, implode...

Penso que seja uma angústia súbita,

Mas sei que é só saudade danada

Danada e negada, a safada.

Negada por não poder ser

Safada por invadir indesejada

E minha, por pura covardia.

O cigarro acaba, mas o som não.

E ainda sobra essa implosão...

Fodo meu fígado, arregaço o pulmão

Viro de bruços, sem sono, culpada.