terça-feira, 8 de julho de 2008

Eu, sorvete de limão


Fui dormir com certa tranquilidade. Sim, estava frio. Aliás, os dias têm sido bem frios, cada vez mais. De um jeito e de outro a gente engorda nesse frio: fora a típica fome de quem precisa ficar dentro de casa bem agasalhado, ainda tem o fato da quantidade de roupas que se usa para poder estar confortável. Agora, por exemplo, visto uma camiseta, uma blusa de frio e um casaco; uma calça comprida grossa; duas meias. Tem gente que ainda se preocupa em estar bem-vestida, bonita e elegante com tanta coisa em cima do corpo. Eu tô mais preocupada é com não sentir frio - e aí, como diria o velho e bom Tim Maia, "vale tudo".

Fui dormir empacotada como um frango congelado - só que eu tinha menos água comigo. Além de vestir um monte de roupas, usei duas cobertas bem quentinhas. Uma delas, aliás, eu achava que era resistente a todo o frio do mundo. Quando a comprei morava em Sanca, conhecida pela alcunha de "a cidade do clima". A gente acordava na cidade sem coragem de tomar banho, ia trabalhar com vontade de voltar para debaixo do cobertor; no meio da manhã vivíamos um clima primaveril, um ventinho fresco e um sol quentinho, gostoso. Ao meio-dia, andávamos semi-despidos pela rua sob um sol nordestino sem trégua e uma umidade desértica; à tarde o clima era extremamente seco, os olhos ardiam e a boca era uma secura só - e isso sem nenhuma vantagem entorpecente como compensação. E à noite a gente congelava (eu pensava). Hoje sei o que é congelar, e ainda assim, sei que essa minha medida é tão relativa...

Pois bem. Embrulhada como frango, dormi sossegada. Acordei no meio da madrugada sem condições sequer de esticar o braço para fora daquele embrulho para pegar o relógio e conferir o pouco tempo que tive para dormir em paz. Virei para um lado, virei para o outro, desforrei completamente a cama, fui encolhendo, encolhendo, até ficar na posição mínima embrionária. Sinceramente, se fosse possível eu queria encolher até o tamanho do espermatozóide espremido entre seus milhões de colegas no saco de meu pai.

Nada deu jeito: o frio era daqueles que ultrapassa tudo quanto é escudo e penetra nos ossos. É sentido de dentro pra fora. É foda. Aí lembrei da velha tática do pinto (quem pensou que ia rolar sacanagem aqui, se deu mal...): lâmpadas acesas e focadas! Claro!

Agora eu não era mais um frango embrulhado. Era um pintinho de granja (eu???) que precisava de muito calor e aconchego (quem escreveu isso???) para crescer e engordar logo (ainda mais???), para poder ir ao abate (abate = trabalho) com toda a saúde e conforto do mundo (nem toda, claro). Depois de alguns minutos, realmente voltei a sentir conforto e peguei no sono.

Acordo pela manhã sem que o frio tenha dado trégua alguma. "É frente fria", palpita meu irmão. "É frente, lados e fundos, tudo gelado", completo. A moça do tempo não previu isso. Acho melhor não lavar a cara antes de tomar um café, tenho medo que os cílios congelem e quebrem. Encho uma xícara da coisa mais quente que encontro, um café recém-passado, e, com voracidade, viro tudo em minha boca. Bem, a mira sentiu o impacto do frio e errou feio. Levei um banho de café, a xícara inteira em meu blusão e em minha calça. O jeito foi tirar tudo e tomar um banho (quente, gente, banho quente).

Cheguei então àquela velha e sábia conclusão: tem dias que a gente não devia levantar da cama. Desculpe, chefe, mas enquanto esse tempo não voltar à normalidade, não tenho condição alguma de trabalhar. Cada um tem que ter consciência de seus limites. Não sou preguiçosa, sou prudente (Familiares advertem: o mau humor de Ana Cláudia faz muito mal para a saúde dos outros).

5 comentários:

Anônimo disse...

Hehe... Mal-humorada ou não, vc fez uma crônica ótima. Perrusi Pai diz que é incompreensível a fuga do Homo sapiens da África, lugar bem quentinho e decente para a vida humana. Aventa a hpótese de que fugiram da mosca Tsé-Tsé. Fugiram da Doença do Sono, imagine só! São loucos, esses humanos!

Detesto frio de raio x. Frio que entra nos ossos.

Ah, sim, aqui em Jampa tá o maior calor! (hehe...)

Canto da Boca disse...

(Acrescente a umidade do Rio Douro, o vento frio que parece lâmina cortante, cortando... E não pode faltar à sessão, tem a tal da porcentagem de presença. Mas "o clima em Olinda tá até colaborando". Outra coisa, meu humor deve estar igual ao seu. Beijos, e me conta daquele assunto do imeil?)

Anônimo disse...

Carai....aconteceu isso comigo ontem aqui no trabalho....tomei um banho de café......também ontem não era meu dia não......aliás, essa semana eu deveria ficar de cama....grande beijo.
Yvette

A Autora disse...

Artur,
P.P. é um sábio, embora eu confesse preferir o "friozinho" de Jampa ao calor africano. Mas bem que podíamos importar a Tsé-Tsé.

Boquinha, quando eu estou com mau humor a vida ao meu redor fica insuportável. Mas o seu mau humor abala continentes! Coitadas de minhas sobrinhas...

Yvette, obrigada pela visita. E quando o dia estiver para ficar na cama, obedeça às leis da gravidade e fique, oras!

leve solto disse...

Odeio frrrrio!!!

Sinto falta da cidade onde morava.. 40 graus..rs Tá bom, exagero também!
Mas não concordo quando dizem que no inverno as mulheres ficam mais elegantes... Eu me sinto mais elefante isso sim! Morro de frio.
A propósito, sexta-feira, cheguei eu no trabalho toda bonitona, pashmina (sei lá como escreve..rs) clarinha, linda... e errei a mira do café, ou babei tudo.. enfim, derrubei tudo sobre meu peito.. e lá se foi a beleza toda da suposta elegância..rs

bjs

Mara