quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Lisérgica


Sinto o som extravasando em mim

Em minhas veias, minhas têmporas

Em meu amor perdido para sempre

No prédio ao lado, ou atrás, quem sabe?

Recorro a qualquer coisa e a nada.

A sensação é muito boa, iluminada:

Rojões, fogos, buzinas, silêncio

O caos do centro paulistano em que habito

Implosão. Conforto, receio, fumo. Ar.

Poluo-me com prazer e sem opção

Luz branca, computador, televisão

E meu coração não consegue ver nada.

Essa confusão é minha, eu a criei

E como tudo na vida, não tem explicação:

Minha única e esfarrapada desculpa

É ser o que sou, o que penso, e o que digo

O som reverbera em minha caixa de ser

E só me implode, e implode, implode...

Penso que seja uma angústia súbita,

Mas sei que é só saudade danada

Danada e negada, a safada.

Negada por não poder ser

Safada por invadir indesejada

E minha, por pura covardia.

O cigarro acaba, mas o som não.

E ainda sobra essa implosão...

Fodo meu fígado, arregaço o pulmão

Viro de bruços, sem sono, culpada.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Renascendo


Retiro da vida tudo o que não me convém:
palavras mal ditas, ideias ultrapassadas,
amigos que não sabem o que é amizade,
amores que nunca iriam frutificar.
Nessa faxina sempre necessária
não deixo restos de pó sob tapetes
escondidos nos cantos da alma
ou mal catados por distração do conforto.
Limpo-me, escovo-me, desgasto-me.
Mesmo o lixo deixa saudade
pelo que foi, e pelo que poderia ser
e, na verdade, nunca chegou a ser.
Procuro não ser injusta
procuro não me iludir
penso no que posso perder
mas sigo, e limpo, excluo, jogo fora.
Sem acúmulos, sou mais leve.
Sem falsidades, sou mais feliz.
Sem lixo, estou mais limpa
e tenho mais espaço para o bem.

sábado, 17 de setembro de 2011

Agora


Meus músculos doem
Não domo meus pensamentos
Não tenho calma
Me sobram perguntas
Me farto de respostas possíveis
Me dói a imagem do amanhã
Sofro que só o diabo.
E nem era pra isso tudo.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vodka Piauiense


Por que me fiz passional
no meio do meu mundo lógico?
Como me encantei assim
se não há razão palpável?
Desequilibrar-me entre o que quero
e o que sei, é o que tenho feito.
Te conhecer e ser tua
me trouxe uma feliz tristeza
uma ânsia perene e serena
a vontade insaciável de findar-te.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

37 graus


sou assim, antagônica.
meço-me pelo não eu
angustio-me a cada escolha
gozo da liberdade de prender-me
(ou não)
seco de tanto beber
vomito de tanto comer
enjoo somente do que gosto
entristeço com quem amo
apavoro-me com o que não conheço
corro pra viver tranquila
mato-me para suportar a vida
trabalho para divertir-me
tenho pesadelos quando descanso
canso-me de nada fazer
choro quando estou muito alegre
escrevo quando não tenho nada a dizer
temo quanto mais amo
às vezes fujo da felicidade
não me reconheço no espelho
e tantas vezes me vejo no outro...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

De mim pra mim

Alinhar ao centroQuem for mais feliz que esse, que atire a primeira pedra!


Marolarebuscadafrequentaminhamentefrenéticaefrequentemente
Sobosomdocabrueiramelembreidaparaíbameusirmãosdericarima
Quandootédiotomacontaeunãoseioquefazerentãofaçoqualquercoisa.
Qualquer.
Eseocaosmeengoleeumebatoeulhecuspolhevomitoeescovoosdentes
Essemeuretardamentonãotemcuraconhecidaeseeuconheciesqueci
Porquepiorquetransgeversaréviversemoversoaloucuraousemoespelho.
Desespera.
Eninguémtemnadacomissoestamosentendidosouquerqueeudesenhe?

domingo, 14 de agosto de 2011

Conversa de bar (que não tive)


Isso já nem é mais inspiração, é inveja pura mesmo. Só me coço pra escrever depois de visitar amigos blogueiros fantásticos. Confesso. Vamos lá. Essa é pra dizer algumas das coisas que não pude dizer pessoalmente na última sexta.

Em cada canto do mundo
Revejo minhas lembranças
Meus amigos, ternos irmãos,
Gente de muitos corações.
Histórias tantas contadas
Vividas, sonhadas,
Espaços ainda lacrados.
Conversas ditas com olhos
Rugas de risos passados
Tantas cervejas tomadas
Tanto carinho trocado.
Amores que deram certo
Amores que deram errado
Um dia atrás do outro
Inversos caminhos traçados.
Tentando a felicidade
Achando apenas vontade.
Certezas que desabaram
Frustrações que assolaram
Superações que emocionaram
Amigos que me encontram.
A fé eterna no homem
Por mais que duvidassem
A gentileza gratuita
Por mais que a negassem.
A esperança no amanhã - Sempre!
Mesmo que o dia acabe...



terça-feira, 19 de julho de 2011

Acadêmicos 171


Não sou Bombril, mas tenho mil e uma utilidades – e, dentre elas, algumas garantem meu sustento. Uma das atividades rentáveis que exerço (com muito prazer, diga-se de passagem) é a correção de trabalhos de conclusão de cursos e monografias para mestrandos e doutorandos, muitos deles candidatos à vida acadêmica.
Uma das coisas chatas desse meu trabalho é ter que convencer o aluno que me procura de que eu não vendo trabalhos prontos, apenas faço correção ortográfica e gramatical, adequação à linguagem científica e adaptação às normas ABNT. A pesquisa é do aluno, o raciocínio é do aluno, a elaboração é toda do aluno. Eu dou os retoques finais, e só. Quando vejo algum conceito absurdo, desconexo, costumo avisar ao aluno, na base da camaradagem, mas não o excluo do texto – afinal, cabe ao aluno decidir como basear melhor os seus argumentos.
Mas basta uma pesquisa básica no Google e qualquer um verifica o comércio de teses rolando de forma solta e descompromissada. Um crime, a meu ver. Plágio, falsidade ideológica, estelionato e sei lá mais o quê, segundo a lei.
Quem não tem tempo ou capacidade para escrever uma tese de conclusão de curso, não faça o curso. Existem várias carreiras de sucesso que passam ao largo da vida acadêmica. Mas se a proposta é aprender, qualificar-se, então encare a dureza (sim, é difícil) de escolher um tema e pesquisá-lo seriamente.
Fico seriamente chocada com o comércio de teses, tanto pela oferta degradante quanto pela compra despudorada e pela aceitação desse estelionato acadêmico como algo normal e até prático.
Esses estudantes – graduandos, pós-graduandos, mestrandos e doutorandos -, assumidamente incapazes de desenvolver um tema, uma pesquisa, serão o quê no mercado de trabalho? Professores universitários? Engenheiros? Administradores? Tanto faz a profissão. Para mim, nunca passarão de meros estelionatários acadêmicos, senão afligidos pela lei, ao menos moralmente enquadrados no artigo 171.
Parece que os vejo cantarolando uma música do Bezerra da Silva como explicação para a falta de caráter: “malandro é malandro e Mané é Mané, sabe como é...” (Desculpe, Bezerra da Silva). E depois reclamam de corrupção na política (hahaha).

domingo, 3 de julho de 2011

Verdade Verdadeira


A gente se ilude dizendo

Já não há mais coração...

(É isso aí, Alceu)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Pedrada"



O silêncio que se segue

Constrange e não reverte

A impaciência do viver

A saudade do querer



O silêncio a que me impus

É causa e consequência

Abandono de mim mesma

Medo, rotina, (desas)sossego



A falta do que falar

Não é falta de viver

Não é por não me emocionar

É o não querer aparecer



Boca muda, mente berrante

Dedos hesitantes, preguiçosos

É o não querer explicar

É o cansaço do "dever que"



A palavra não me foge

O comodismo é que me deita;

O talento do Poeta me sacode

E ao meu silêncio afugenta.



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Cheia de vergonha, estou de volta. Espero que dessa vez a volta seja um pouco mais duradoura. Poeta Geó, Mana Val, obrigada por me matarem de inveja pelo talento - ela, de fato, me sacudiu.

Que venham as letras, as palavras, as bobagens, as leseiras (e essas últimas serão muitas, aposto!)