O desejo retirou-se
Assim, como se não tivesse sido,
Como jamais tivesse havido,
Como flor que não brota:
Findo ao natural.
Como uma última gota
Que se esvai, garganta abaixo,
Para voltar a ser apenas mais uma
No mar do corpo saciado.
Acabou sem vestígio
Sem saudade ou lágrima
Sem um riso de alívio
Ou de escárnio.
Nada restou:
Nem agradecimento
Nem sofrimento
- Um nada depois de tudo.
Atrás de si, sequer escuridão
Ou mágoa ou dor;
Nem tristeza, nem amém.
Para trás, apenas a lembrança
Com curto prazo de validade
De um amanhã menos intenso
Repleto da certeza do esquecimento.
O desejo retirou-se
E eu não senti nem falta.
(Eu, que imaginava que morreria...)
6 comentários:
Muito lindo. Bom que seja assim, retirada silenciosa e sutil do desejo.
É, às vezes é desse jeitinho mesmo, Ana.
Cláudia,
Belíssimo e muito bem escrito. E em mim, ao contrário do poema, bateu um desejo impulsivo de estar novamente aqui.
Dimas
Ana, fiz uma brincadeirinha besta no Sementeiras. Falei teu nome lá, ok?
Abraço.
Magna
Quanto ao texto, mais uma vez belíssimo. Na veia! Quanto ao mote, espero que esse desejo sumido tenha um objeto específico; e toda a lírica não signifique o desaparecimento do desejo em si, o desejo como motor do ser-humano...
Dá uma vontade danada de ver Cláudia espanando a poeira dess blog.
Todo escritor tem que ser faxineiro de vez em quando.
Dimas
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