terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lúgubre


O desejo retirou-se
Assim, como se não tivesse sido,
Como jamais tivesse havido,
Como flor que não brota:
Findo ao natural.
Como uma última gota
Que se esvai, garganta abaixo,
Para voltar a ser apenas mais uma
No mar do corpo saciado.
Acabou sem vestígio
Sem saudade ou lágrima
Sem um riso de alívio
Ou de escárnio.
Nada restou:
Nem agradecimento
Nem sofrimento
- Um nada depois de tudo.
Atrás de si, sequer escuridão
Ou mágoa ou dor;
Nem tristeza, nem amém.
Para trás, apenas a lembrança
Com curto prazo de validade
De um amanhã menos intenso
Repleto da certeza do esquecimento.
O desejo retirou-se
E eu não senti nem falta.
(Eu, que imaginava que morreria...)

6 comentários:

Reginacelia disse...

Muito lindo. Bom que seja assim, retirada silenciosa e sutil do desejo.

Magna Santos disse...

É, às vezes é desse jeitinho mesmo, Ana.

Dimas Lins disse...

Cláudia,

Belíssimo e muito bem escrito. E em mim, ao contrário do poema, bateu um desejo impulsivo de estar novamente aqui.

Dimas

Magna Santos disse...

Ana, fiz uma brincadeirinha besta no Sementeiras. Falei teu nome lá, ok?
Abraço.
Magna

Josias de Paula Jr. disse...

Quanto ao texto, mais uma vez belíssimo. Na veia! Quanto ao mote, espero que esse desejo sumido tenha um objeto específico; e toda a lírica não signifique o desaparecimento do desejo em si, o desejo como motor do ser-humano...

Dimas Lins disse...

Dá uma vontade danada de ver Cláudia espanando a poeira dess blog.

Todo escritor tem que ser faxineiro de vez em quando.

Dimas