sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Política é pra "profissa"



Temo que entre os milhares de políticos brasileiros, alguns raros exemplares estão no meio mais perdidos do que cegos em tiroteio. Tem gente com sorriso franco - franco mesmo, não ensaiado - e idéias borbulhando na cabeça, ideais de uma vida toda, cheios de boas intenções. Duvido que mesmo estes não gostem do poder que adquirem com um mandato, mas ainda assim imagino que estão querendo fazer algo de bom mesmo. Mas...
Se você está no Executivo, tem que literalmente abrir as pernas para o Legislativo. Se você está no Legislativo, tem que baixar a cabeça para o poder exacerbado do Executivo. Do Judiciário nem falo, vou me restringir aos mandatos obtidos pelo pleito.
Fico pensando como estas criaturas perdidas - os políticos bem intencionados de verdade - se sentem. O deslumbre com o poder poderá ser tão maior assim do que a frustração do real exercício desse poder limitadíssimo? Deve ser no mínimo constrangedor que um prefeito ou governador tenha que dar cargo de confiança a quem sabe que não é honesto e, mais ainda, poderá prejudicar seu governo. Colocar um ladrão pra guardar o cofre-forte público é coisa de canalha, ou de um perdido.
Também penso na hipótese de um vereador ou deputado ou senador honesto. Eu falei em hipótese, que fique bem claro. (Sempre que penso nisso vem à mente a lembrança de Heloísa Helena, pessoa que admiro mas não votei). É estar no meio de uma arena, cercado de leões e gritar, gritar, gritar em vão. É recusar um voto. Um voto! Só um voto. É perder. É dar a mão à palmatória. E no outro dia ter que encarar de novo os leões e depois e depois e depois, até que... ou neguinho ao menos faz de conta que virou leão, camaradas, ou vira carniça.
Tem jeito não.
Tem gente boa no ramo, muito boa. Gente que realmente faz a diferença, que governa ou legisla de forma decente, boa, até transformadora. Mas não quem o faça sem cometer deslizes, que na administração pública atualmente são conhecidos por "ceder em nome da governabilidade". Termo vazio, concorda? E mentiroso, em parte.
É chantagem de um lado e do outro. É pressão, muita pressão. Um ser humano com a sanidade mental em ordem não aguenta, não suporta, ou não quer isso para a sua vida. Seguindo a lógica do 2+2, político é então um vigarista ou um louco. Ou os dois juntos, né Jefferson? Que acha Paulinho? Concorda, José? E você, Garotinha?

Um comentário:

R. disse...

E nisso importantes cargos públicos tornam-se meras moedas de troca nessa jogatina em que se tornou a política. Às vezes acho que mais lhes importa a filiação/coligação partidária, que a capacidade e aptidão do político a comandar este ou aquele ministério...