Não sou Bombril, mas tenho mil e uma utilidades – e, dentre elas, algumas garantem meu sustento. Uma das atividades rentáveis que exerço (com muito prazer, diga-se de passagem) é a correção de trabalhos de conclusão de cursos e monografias para mestrandos e doutorandos, muitos deles candidatos à vida acadêmica.
Uma das coisas chatas desse meu trabalho é ter que convencer o aluno que me procura de que eu não vendo trabalhos prontos, apenas faço correção ortográfica e gramatical, adequação à linguagem científica e adaptação às normas ABNT. A pesquisa é do aluno, o raciocínio é do aluno, a elaboração é toda do aluno. Eu dou os retoques finais, e só. Quando vejo algum conceito absurdo, desconexo, costumo avisar ao aluno, na base da camaradagem, mas não o excluo do texto – afinal, cabe ao aluno decidir como basear melhor os seus argumentos.
Mas basta uma pesquisa básica no Google e qualquer um verifica o comércio de teses rolando de forma solta e descompromissada. Um crime, a meu ver. Plágio, falsidade ideológica, estelionato e sei lá mais o quê, segundo a lei.
Quem não tem tempo ou capacidade para escrever uma tese de conclusão de curso, não faça o curso. Existem várias carreiras de sucesso que passam ao largo da vida acadêmica. Mas se a proposta é aprender, qualificar-se, então encare a dureza (sim, é difícil) de escolher um tema e pesquisá-lo seriamente.
Fico seriamente chocada com o comércio de teses, tanto pela oferta degradante quanto pela compra despudorada e pela aceitação desse estelionato acadêmico como algo normal e até prático.
Esses estudantes – graduandos, pós-graduandos, mestrandos e doutorandos -, assumidamente incapazes de desenvolver um tema, uma pesquisa, serão o quê no mercado de trabalho? Professores universitários? Engenheiros? Administradores? Tanto faz a profissão. Para mim, nunca passarão de meros estelionatários acadêmicos, senão afligidos pela lei, ao menos moralmente enquadrados no artigo 171.
Parece que os vejo cantarolando uma música do Bezerra da Silva como explicação para a falta de caráter: “malandro é malandro e Mané é Mané, sabe como é...” (Desculpe, Bezerra da Silva). E depois reclamam de corrupção na política (hahaha).
2 comentários:
Cláudia,
O artigo me lembrou um cara da faculdade que contratou alguém para digitar a sua monografia. Disse ele explicitamente que depois de "x" folhas (o preço era cobrado por folha) o digitador poderia parar. O texto parou no meio de uma palavra, o digitador avisou, mas o aluno não quis saber: "termina aí mesmo!".
O interessante da questão é que o aluno foi aprovado, mesmo tendo copiado o livro que era a bíblia do estudante em seu curso.
Bom aluno, ótimo professor.
Abraços,
Dimas Lins
Dizer mais o quê, depois disso? Você já disse tudo.
Rir? Chorar? Morrer? Só tenho medo desse jorro de profissionais no mercado...
Beijinhos, estava com saudades de te ler!
;)
Postar um comentário