quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Raiva

Tem o suor.
O calor avermelha o rosto
O ar foge do seu alcance
A visão torna-se turva
O cérebro acelera
Tudo fica limpidamente confuso.
A profusão das peças que compõem o quebra-cabeça.
Nem dá para sentir o amor indo embora
A consideração, o respeito se esvaindo
A mente trocando de dono
E o olho que só enxerga o alvo.
Nem se pode lembrar de outra coisa qualquer
Que esteja fora daquele instante.
O animal se impõe quase absoluto.
O que ainda há de humano
Forma migalhas invisíveis pelo ar
Presas a uma única e frágil raiz,
Um simples resto de racionalidade.
A cobiça se foca no mal ao outro
O orgulho só deseja a vingança,
O décimo segundo que certifica o nocaute.
A passividade se reverte em ação
A lógica sobe na corda bamba
Frustrações antigas se agrupam rapidamente
E tudo forma um conjunto sólido
A reverberar o sentimento
Que liberta a fera acossada
Que normalmente ruge e toma seu destino,
Mas que, hoje, só se contenta com a carniça.
É a transmutação do medo,
A justiça em meio à impunidade,
A sobressalência do eu,
A reação.

2 comentários:

Canto da Boca disse...

Nossa! Cerebral e corrosivo, um certeiro cuspe da naja. Fiquei com medo, tudo é devastador, o texto e a imagem que o ilustra.
Beijos e saudades.

A Autora disse...

Nada disso, mana. Foi só raiva mesmo. Aliás, ainda estou mergulhada nela. Depois te conto.
Bjs.