Sou jornalista. Estudei para isso, atuo nessa profissão desde os meus 18 anos – e hoje tenho 38. Tenho algumas considerações a respeito da decisão do STF quanto à obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, e também quanto aos comentários – sempre infelizes – do infeliz ministro filhote de FHC e Rei do Gado do Mato Grosso. É bom falar mal dele, já que ele defende com tanto ardor a liberdade de expressão, né, coronel?
O que isso muda em minha vida? Pouca coisa, para não ser idiota ou arrogante o suficiente para dizer que não muda nada. Já tenho currículo e nome, e se de repente eu ficar desempregada, certamente não vai ser pela inexigibilidade do diploma. Isso não tem a menor importância no meu ramo, que é a política. Aqui, o que vale é o resultado, e isso eu tenho pra mostrar.
Para quem está estudando ou iniciando a carreira, vai ser barra conseguir uma vaga num mercado de trabalho que há anos privilegia a contratação de estagiários, muito mais baratos que os salários básicos dos profissionais. A diferença agora não vai ser mais o título, e sim a seriedade da empresa e a capacidade do trabalhador.
Por tremenda ironia, só na segunda-feira passada eu pude colocar as mãos no meu diploma. Eu nunca o havia requerido, e nesses 20 anos de trabalho ninguém nunca exigiu que eu o mostrasse. Como agora resolvi fazer um MBA, a universidade pediu e eu requeri. Brinco, dizendo que nem o STF quer mais o meu diploma (é papel de folha única, e não folha quádrupla como imagino que tenha nos banheiros dos ilustres ministros). Só brincadeira, claro. O diploma continua fazendo a diferença.
Sou mesmo a favor da inexigibilidade do diploma. Com exceção para aqueles que pretendem trabalhar com saúde, nas áreas de engenharia (altamente técnicas), com educação, e para quem quer ser cientista. O resto é balela, inclusive o disputado curso de Direito (que também cursei). Sabe ler e interpretar? Então pode ser um bom advogado. Ou até presidente do STF. Igualzinho a jornalista. E a cozinheiro. E a Relações Públicas. E a motorista. E a publicitário. E a bacharel em Comércio Exterior. E a Economista. E a dezenas e dezenas de outras profissões.
A técnica profissional pode ser adquirida com mais ou menos facilidade, dependendo da “vocação” e da obstinação de cada um. Só não sei ainda como resolver o problema da ética, cujo vestígio a gente só tem algum contato nas universidades.
Em muitos casos (mas não em todos), a exigência do diploma não passa de reserva do mercado. “Eu cursei, estudei, e por isso tenho direito a uma vaga no mercado do trabalho” – essa lenda urbana já era, como a maioria dos funcionários públicos e bancários comprova.
De qualquer forma, eu não abriria mão de fazer um curso universitário de jeito nenhum. Independente de ser exigido diploma ou não. Porque a universidade deve ser muito além de um mero passaporte para o mercado de trabalho. Universidade é academia, é lugar de estudos, de troca de idéias, de abertura de cabeça para o mundo além do nosso umbigo e de nossa sempre medíocre visão. Fundamental para mim, uma anta que se espanta com o óbvio todo santo dia, e que precisa ser provocada para pensar (porque pensar dá preguiça mesmo).
Inexigibilidade não significa proibição. Quem quiser estudar, se preparar melhor, vai ter sua chance de estudar na sua área de conhecimento predileta. Os cursos continuam - se bem que as faculdades da moda devem chorar a perda de interessados, o que eu considero uma vantagem da decisão do STF. Aquele que tem vocação para uma profissão pode querer se preparar melhor na universidade.
Agora... a defesa foi pífia demais. Defesa da liberdade de expressão? Uai... desde quando o jornalista impede a liberdade de expressão? Os jornaizinhos estão aí pra desmentir essa tese. Os jornalistas (e empresários da comunicação, principalmente) podem manipular a expressão da opinião, é verdade. E a vacina contra isso é processo judicial. E essa verdade não vai mudar em nada com a inexigibilidade do diploma, diga-se de passagem.
Pra terminar: espero que a FENAJ e os sindicatos de jornalistas não estrebuche muito com a decisão do STF. Porque a inexigibilidade do diploma já era uma realidade para a maioria absoluta dos meios de comunicação que não estão em grande destaque. Se um não-jornalista for atuar como jornalista da Folha de São Paulo, os sindicatos caem de pau. Mas ignoram solenemente as redações do interior do país (inclusive o interior de São Paulo) entulhadas de não-jornalistas. Quando eu fiz a denúncia, recebi como resposta: “é fogo, né? Os caras não contratam jornalista pra não pagarem o salário certinho”. “Sim, mas o que vocês vão fazer quanto a isso?”. “Vamos tomar as providências”, garantiu-me o burocrata sindical. Claro, nenhuma providência foi tomada. Nunca.
Agora, não chiem.
O que isso muda em minha vida? Pouca coisa, para não ser idiota ou arrogante o suficiente para dizer que não muda nada. Já tenho currículo e nome, e se de repente eu ficar desempregada, certamente não vai ser pela inexigibilidade do diploma. Isso não tem a menor importância no meu ramo, que é a política. Aqui, o que vale é o resultado, e isso eu tenho pra mostrar.
Para quem está estudando ou iniciando a carreira, vai ser barra conseguir uma vaga num mercado de trabalho que há anos privilegia a contratação de estagiários, muito mais baratos que os salários básicos dos profissionais. A diferença agora não vai ser mais o título, e sim a seriedade da empresa e a capacidade do trabalhador.
Por tremenda ironia, só na segunda-feira passada eu pude colocar as mãos no meu diploma. Eu nunca o havia requerido, e nesses 20 anos de trabalho ninguém nunca exigiu que eu o mostrasse. Como agora resolvi fazer um MBA, a universidade pediu e eu requeri. Brinco, dizendo que nem o STF quer mais o meu diploma (é papel de folha única, e não folha quádrupla como imagino que tenha nos banheiros dos ilustres ministros). Só brincadeira, claro. O diploma continua fazendo a diferença.
Sou mesmo a favor da inexigibilidade do diploma. Com exceção para aqueles que pretendem trabalhar com saúde, nas áreas de engenharia (altamente técnicas), com educação, e para quem quer ser cientista. O resto é balela, inclusive o disputado curso de Direito (que também cursei). Sabe ler e interpretar? Então pode ser um bom advogado. Ou até presidente do STF. Igualzinho a jornalista. E a cozinheiro. E a Relações Públicas. E a motorista. E a publicitário. E a bacharel em Comércio Exterior. E a Economista. E a dezenas e dezenas de outras profissões.
A técnica profissional pode ser adquirida com mais ou menos facilidade, dependendo da “vocação” e da obstinação de cada um. Só não sei ainda como resolver o problema da ética, cujo vestígio a gente só tem algum contato nas universidades.
Em muitos casos (mas não em todos), a exigência do diploma não passa de reserva do mercado. “Eu cursei, estudei, e por isso tenho direito a uma vaga no mercado do trabalho” – essa lenda urbana já era, como a maioria dos funcionários públicos e bancários comprova.
De qualquer forma, eu não abriria mão de fazer um curso universitário de jeito nenhum. Independente de ser exigido diploma ou não. Porque a universidade deve ser muito além de um mero passaporte para o mercado de trabalho. Universidade é academia, é lugar de estudos, de troca de idéias, de abertura de cabeça para o mundo além do nosso umbigo e de nossa sempre medíocre visão. Fundamental para mim, uma anta que se espanta com o óbvio todo santo dia, e que precisa ser provocada para pensar (porque pensar dá preguiça mesmo).
Inexigibilidade não significa proibição. Quem quiser estudar, se preparar melhor, vai ter sua chance de estudar na sua área de conhecimento predileta. Os cursos continuam - se bem que as faculdades da moda devem chorar a perda de interessados, o que eu considero uma vantagem da decisão do STF. Aquele que tem vocação para uma profissão pode querer se preparar melhor na universidade.
Agora... a defesa foi pífia demais. Defesa da liberdade de expressão? Uai... desde quando o jornalista impede a liberdade de expressão? Os jornaizinhos estão aí pra desmentir essa tese. Os jornalistas (e empresários da comunicação, principalmente) podem manipular a expressão da opinião, é verdade. E a vacina contra isso é processo judicial. E essa verdade não vai mudar em nada com a inexigibilidade do diploma, diga-se de passagem.
Pra terminar: espero que a FENAJ e os sindicatos de jornalistas não estrebuche muito com a decisão do STF. Porque a inexigibilidade do diploma já era uma realidade para a maioria absoluta dos meios de comunicação que não estão em grande destaque. Se um não-jornalista for atuar como jornalista da Folha de São Paulo, os sindicatos caem de pau. Mas ignoram solenemente as redações do interior do país (inclusive o interior de São Paulo) entulhadas de não-jornalistas. Quando eu fiz a denúncia, recebi como resposta: “é fogo, né? Os caras não contratam jornalista pra não pagarem o salário certinho”. “Sim, mas o que vocês vão fazer quanto a isso?”. “Vamos tomar as providências”, garantiu-me o burocrata sindical. Claro, nenhuma providência foi tomada. Nunca.
Agora, não chiem.
2 comentários:
O problema, Aninha, é que, por trás da inexegibilidade (que nome feio do c...) do diploma, estão os interesses de uma porção de gente (de político que já detém as concessões dos meios de comunicação, e não faz questão nenhuma de ter um jornalista formado junto). O cara que´é dono do rádio, da TV, do jornal... vai preferir colocar seus militantes pra escrever. Ou então sua mulher, seu filho, seu irmão... O problema não é o diploma. O problema é quem é dono da mídia.
Pois é, Luna. Como você bem pontuou, o problema não é o diploma, mas a porta que se abre para os donos da mídia. Aí é que tá: você acha mesmo que esses caras têm ainda algum pudor em empregar quem ele quer ao invés de profissionais diplomados?
As redações estão cheias de estagiários. A média e pequena imprensa está lotada de não-jornalistas. E os sindicatos estão se lixando pra todas elas, muito menos ainda para o seu público. Só os principais jornais das capitais se preocupam (porque são fiscalizados - e são fiscalizados porque geralmente a diretoria do sindicato é empregada deles) com a exigência do diploma. Se a gente olhar para o interior dos estados, vai verificar isso. Mesmo nas regiões metropolitanas.
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