segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre limites...


Coisa chata é ouvir discurso de motivação completamente descabido.
Sempre tive muita dificuldade de dirigir à noite em viagens, onde a iluminação fica por conta do farol do carro. Piora muito, mas muito mesmo, quando na estrada não é sinalizada. Piora muito mais, mas muito mais mesmo, quando há um carro do lado oposto ao meu, com aqueles faróis entrando nos meus olhos e me cegando. E fode tudo, mas fode mesmo, quando os malditos faróis dos malditos carros contrários a mim, estão com a maldita luz alta. Aí eu deixo de ser uma motorista e viro uma arma de alto poder de destruição.
O que faço? Simples: não pego estrada à noite. E pronto, resolvidos todos os problemas.
Mas...
Há quem não acredite nisso. Há quem pense que isso é trauma e precisa ser "curado". Há quem pense que isso é frescura. Aliás, podem pensar o que quiser, desde que não me forcem a pegar estrada à noite.
Mas ontem me forçaram. Não adiantou argumentar. Levaram meus sobrinhos para passear e só me devolveram quase três horas depois da hora marcada para viajarmos de volta para casa, o que me obrigou a pegar estrada mesmo sabendo que mais da metade da viagem seria feita no escuro. Era imprescindível voltar no domingo. Não tinha opção.
Tensa, os ombros parecendo dois troncos encaixados no meu tronco, o pescoço com jeito de cabide, torando aço, com os três sobrinhos dormindo no banco de trás, enfrentei a fera. Como desgraça pouca é bobagem, às 17h o breu tomou conta do mundo, de modo que passei uma hora a mais no escuro.
Tudo muito ruim, a dor de cabeça latejando (sempre que fico muito tensa ela me visita, a desgraçada), cara amarrada, aí minha acompanhante (responsável pelo atraso) sai com uma dessas:
- Você precisa enfrentar seus medos. O que há em dirigir à noite?
- Medo um cacete. Isso é defeito visual, deficiência física, problema real.
- Mas você está dirigindo bem...
- E o que mais eu poderia fazer? Estou com meus sobrinhos no banco de trás, entendeu? Vou me foder aqui, tensa e com dor de cabeça, mas vou chegar em casa com todos eles em segurança.
- Tá vendo? Você consegue! É só se determinar a fazer algo bem, que você consegue. Isso tudo é coisa da nossa cabeça, e o melhor a fazer é enfrentar. E você está enfrentando...
- Olha, pra não mandar você ir tomar no cu, eu vou esclarecer umas coisinhas e encerramos o papo. Primeiro, eu tenho uma deficiência visual noturna, e o bom senso me manda respeitá-la; segundo, todo mundo que convive comigo sabe que eu não pego estrada à noite, inclusive você; terceiro, se estou hoje à noite dirigindo é por sua causa; quarto, as pessoas mais preciosas do mundo estão no banco de trás deste carro e é minha responsabilidade levá-las para casa em segurança; quinto, eu estou puta da vida com você, e se eu fosse você não me provocava mais; e, por último, vá tomar no cu com esse seu papinho 1-7-1 de motivação. Desculpe, eu disse antes que não ia mandar você tomar no cu. Mas vá assim mesmo.
Chegamos com relativa tranquilidade, tudo no sossego. Mas ainda hoje pela manhã estou com uma enxaqueca daquelas.
Uma coisa é incentivar os outros a vencer seus medos. A outra é forçar a outra a ir além de um limite real, físico. Isso é irresponsabilidade.

5 comentários:

Canto da Boca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

Não era possível acordar às 5h da manhã e ir cedinho não? Ah, eu sei da sua deficiência real e da dificuldade de dirigir à noite... Se sei! Ah2, e se a moça gostar de tomar no c*? Era a deixa que ela queria... O melhor nesses casos é rogar a praga de que ela vai passar 10 anos sem tomar no c* e nem em canto nenhum.
Mas eu fiquei rindo, imaginando o esbregue que vc deu na moça, tadinha; desde o sotaque aos aolhos saltando faíscas e tostando a pobrecita.
Beijos, mana!

Magna Santos disse...

Eita que ela se arretou!
Ana, não teve jeito, ri demais. Mas, uma coisa te digo, talvez pior do que papo motivacional, seja este: veja o lado positivo, isto tudo te rendeu um belo e divertido texto.
E tenho dito.
Beijos
Poliana.
Ops, digo, Magna.

Magna Santos disse...

Ah, quase esquecia também de fazer uma ponte com teu último comentário em Sementeiras e dizer que nesta sua viagem sim, você estava mesmo louca para chegar.
Beijos.
Magna

R. disse...

Fato: A maioria dos motoristas tem a consciência – por certo devido ao risco de ser multado, tão somente – de verificar o funcionamento do sistema de iluminação do veículo antes de pegar a estrada.

Só que poucos, muito poucos têm a sensibilidade de não apenas ver se os faróis estão acendendo, mas também de conferir seus focos.

O que mais prejudica o motorista noturno é – além das já citadas precariedade de sinalização e uso indevido do farol alto por quem vem do lado oposto – um farol desregulado. Ou ambos, o que é o cúmulo.

A aplicação irregular de lâmpadas de xenon também foi outro fator complicador, ainda bem que em relação a isso o Contran abriu os olhos e decidiu regulamentar...

Ah, me desculpe pelo comentário meio técnico, mas é que estava na minha área e...

(:p