segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

No xadrez


Semana passada eu postei aqui um artigo sobre pirataria e gostei muito de descobrir que os frequentadores habituais estão todos aptos a embarcarem comigo no elenco de Piratas da Banca, próximo filme de Spielberg ambientado na Feira Livre de Alfenas e estrelado por Nicolas Cage - ícone da geração dos genéricos (falso como nota de R$ 500; difícil de encontrar como nota de R$ 1,00).
Ontem foi domingo e, como de hábito, fui à feira para comer pastel, ficar sabendo das fofocas políticas e comprar mais e mais DVDs piratas. Não contente de cometer o crime sozinha, levei quatro cúmplices, dos quais dois menores de idade, meus sobrinhos, que me dão a desculpa necessária para o caso de uma batida policial (a depender da simpatia do sujeito: "os meninos só estavam vendo, seu guarda..." ou então "Os DVDs estão com os pirralhos, moço!").
Planejava pegar hoje "Meu nome não é Jhonny". Combinei semana passada com o meu, digamos, "fornecedor" de pegar o filme, junto com "O amor em tempos de cólera", sendo que este último não era garantido, o cara ficou apenas de tentar arranjar.
Estamos já chegando na boca do setor de importados quando vejo um mangana fardado conversando com o vendedor. "Que cara de pau", pensei. "Fardado e comprando DVD pirata. Ele não sabe que é crime?". Aí vi que tinha poucos DVDs na banca e por acaso todos estão empilhados. Inocentemente, pego a pilha e começo a ver um por um. Por acaso levanto os olhos e vejo o policial me encarando.
"Vixe", falei para o meu irmão, "acho que é melhor a gente ir para outra banca. Esse policial aqui não tá me cheirando bem". E meu irmão: "Maninha, num tá vendo? É batida policial na feira, estão apreendendo tudo!". Aí é que eu vi que aquela pilha que tava na minha mão na verdade foi reunida pelos policiais para a apreensão. E também compreendi aquela cara de "tá pensando que eu sou mané?" que o policial usava para me encarar.
Meu irmão deu ré junto com a esposa e os filhos e eu segui a trilha comercial para saber se ainda dava tempo de pegar meu filme com o fornecedor (quem sabe os policiais tinham deixado para dar um bacolejo na banca dele por último né? Sou uma pessoa otimista). Quando chego lá, que alegria! Os DVDs estavam todos espalhados na banca, e o vendedor estava encostado no pau da barraca (sem maldade, pessoal). Começo a olhar a mercadoria e nem tenho tempo de pegar em algum exemplar. Os manganas aparecem assim, do nada. Saio de fininho e olho para o vendedor, impressionada porque não havia tentado correr. Olho mais direitinho e vejo que o pobre está é algemado à barraca!
Resolvi deixar para pegar o filme na semana que vem. Sei lá, procurar confusão para quê, né? Juro: por um instante Teco (meu neurônio mais inteligente dos dois) chegou a imaginar que estava fazendo parte de uma refilmagem pirata do filme "BOPE". Até pensei que Wagner Moura ia sair a qualquer momento de dentro de uma das bancas de roupa, me surpreendia no meio do caminho e dizia: "Perdeu, perdeu. Pede pra sair, pede pra sair".
Antes que o Capitão Nascimento chegasse para acabar de vez com meu domingo, me reencontrei com a família e fomos todos comer pastel de feira.
A vida é dura, camaradas.
Agora, filminho novo só na semana que vem.
Ou, como dizem por aqui, "hoje, só amanhã".

8 comentários:

Josias de Paula Jr. disse...

Após um longo inverno sem quase acesso algum a internet, eis que volto. Volto e a encontro quase presa. Cuidado, moça!
Um beijo.

R. disse...

E eu que achava que o "rapa" fosse exclusividade das capitais...
:p

Anônimo disse...

Cláudia,

Estou desconfiado que algum leitor do seu blog, amigo da lei, andou denunciando o povo da feira de Alfenas.

Alguém poderia até me acusar de fazer isso de sacanagem só para pregar uma peça, mas certamente não saberia que eu morreria de remorsos quando fosse noticiado por você que centenas de milhares de vendedores de genéricos foram algemados por causa de uma denúncia minha. Meu complexo de culpa é a minha maior defesa.

Mas para ficar claro, digo em alto e bom som que não fui eu, pois, além do mais, teria pirangagem de pagar um interrurbano para ver a desgraça alheia.

Acrescento em minha defesa que fico triste em saber que já não se pode levar a vida honestamente vendendo produtos piratas.

Dimas

Canto da Boca disse...

"Sacanagi".
Vc nao ofereceu ajuda, um advogado, qq coisa pro homem ser desagarrado do pau da barraca?
Vc nao chutou o pau da barraca?
;)

Anônimo disse...

Menina quanta emoção por um filminho! quase que vc se torna protagonista de "outro. Adorei o relato e o seu jeito de escrever é muito gostoso.

R. disse...

A propósito do comentário do colega, também digo que não fui eu.

Afinal, se os camelôs fossem extintos, onde mais eu iria comprar meus filminhos?

leve solto disse...

Ei!!! Vc está sumida... O que aconteceu?
Espero que não tenha voltado no camelô na hora do rapa..aiaiai..rs

bjs

Mara

Ricardo Soares disse...

muito bom esse post... uma cronista de primeira vosmecê...bj