sábado, 12 de janeiro de 2008


Todos os domingos, faça chuva ou faça sol, vou à feira livre da cidade. Verduras, legumes e frutas ficam sempre em segundo plano. O que eu quero mesmo é comer pastel e ficar observando aquela bagunça generalizada de vozes, passos, movimentos, cores. Mas vou cedinho, que é pra não pegar o ápice da muvuca, pois doidice tem limite.

E não tem um domingo que eu vá a feira sem trazer uns filminhos piratas para ver no final de semana. A concorrência aqui é tão grande que tem banca vendendo filmes por R$ 2,00. Promoção: o preço certo são três filmes por R$ 10,00, com direito a troca, se por acaso você comprar uma capa de "E o vento levou..." e em casa descobrir que na verdade comprou "Sete homens, oito segredos, nove posições e dez gatinhas".

Quando falo sobre essa minha, digamos, "compulsão" para comprar filmes piratas, normalmente alguém chega com um "você não tem vergonha? Pirataria é crime, tira o dinheiro dos produtores, dos investidores, dos artistas, dos...". Lamento por todos eles, falsamente. E tenho um discurso social de desenvolvimento da economia solidária e incentivo à geração de renda para rebater. Tudo falso, claro, como os DVDs.

Que posso fazer se o aluguel de um filme é R$ 6,00 com toda aquela frescura de ter que entregar no dia certo e na hora certa, preencher ficha, pegar ticket? E se eu quiser comprar um filme legítimo mesmo, aqui na cidade nem tenho onde. Se eu quisesse, claro, porque os filmes que amo de verdade, aqueles que tenho vontade de ver e rever, estes sim, faço questão de ter o verdadeiro. Mas o resto, esses que compro para passar tempo e divertir, ah... Nem vem que não tem. Sou incapaz de pagar 40 paus para assistir ao "Motoqueiro Fantasma". É desse nível.

Outra informação para os críticos deste post: onde moro não há NENHUMA SALA DE CINEMA. O cinema mais próximo fica na terra do ET mineiro, 70 quilômetros distante daqui. Vai pensando que vou rodar 140 quilômetros para assistir a um filme que no domingo encontro na banca por no máximo R$ 4,00.

Ah, outro pecadinho: sempre tirei xerox dos textos recomendados pelos professores universitários. Quando cursava o colegial tive todos os livros originais - o dinheiro para comprar aquelas porcarias não saía do meu bolso. Não faço a menor idéia do que fiz com eles, possivelmente emprestei para alguém que me fez o favor de nunca mais devolver. Tive que ler todos aqueles: "O escaravelho do diabo", "A morte tem sete herdeiros", "O caso da borboleta Atíria" (acho que o nome da borboleta era esse mesmo), etc. Nunca tive nenhum professor de Português para sugerir a leitura de um Monteiro Lobato, por exemplo.

Epa, tô tomando outro rumo. Voltando.

Acabo de lembrar outro dado importante: aqui na cidade só tem uma loja que vende CD original. Tem de tudo que você possa desejar: sertanejo, axé, sertanejo, axé, sertanejo, axé, sertanejo e Ivete Sangalo, que agora foi aclamada como musa da MPB - não deveria ser de axé?

Nada contra toda essa variedade de ritmos disponível no mercado alfenense, mas o que fazer se sou chata e não gosto de nada disso? Em compensação, tem uma loja estabelecida bem juntinho da prefeitura que tem um acervo razoável e realmente variado, onde encontro alguns CDs de artistas que eu gosto. Tenho culpa se a loja só vende produtos piratas?

Aqui também tem um restaurante japonês. O sushi, única alternativa "japonesa" do cardápio, é pirata, uma grosseira falsificação feita com peixe congelado que me recuso a comer. Sempre vejo este restaurante com movimento maior durante os dias quentes, donde presumo que o picolé de sushi deve ser ao menos refrescante. Só que nesse ponto sou rígida: para matar a sede, três opções apenas: cerveja, coca-cola ou, em último caso, água. Nesta ordem. E todos legítimos (vai, tudo bem, confesso: não faço questão da legitimidade da água).

Sei que pirataria é crime. Quando estudava Direito, o professor deu uma aula só sobre o tema, assunto de prova. Depois da aula ele anunciou que quem quisesse estudar mais sobre o assunto, podia pegar uma cópia de um texto maravilhoso que ele tinha separado para nós. Deixou nas mãos da Madalena, aquela que trabalha naquela casa de Xerox amarela, sabe qual é? Aquela casa que fica bem em frente à banca de Ednaldo que, aliás, vendia mais caros os DVDs de Direito que os professores passavam para os alunos... Um ladrão, esse Ednaldo.




6 comentários:

Anônimo disse...

Por ser aditivo, tenho uma compulsão à pirataria. Minha justificação não é moral -- sou doente mesmo. E esse papo de que estamos reproduzindo o crime, o narco, as Farc, é esoterismo de economista. Há duas profissões que surgiram no mundo para criar culpas: a economia e a psicanálise (hehe).

leve solto disse...

Ei, quer dizer que temos isso em comum: fez direito?
Na cidade onde moro também não tem cinema, o mais próximo fica a 50km (só ida)...
Loja de CD original também só uma, sendo a grande maioria gospel... Nunca acho o que procuro. Inclusive hoje pedí ao meu filho pra me ensinar a baixar músicas aqui na net.. Isso é politicamente incorreto? Paciência, ninguém paga minhas contas, sou dona do meu nariz e quando quero vou a uma lojinha na rodoviária e compro meus ritmos favoritos..rsrs
Vc só ganhou de mim quanto ao pastel de feira (humm cheguei a salivar..rs), pois na feira local, o forte são produtos de fácil cultivo por aqui tipo: abóbora, maxixe, bucha vegetal e outros. Além disso tem o cara que vende pamonhas (doce, salgada, recheada com queijo).. Pastel? Uma pena, mas só uns horrorosos e engordurados.

Gostei muito do texto de hoje!!

Bjo

Mara

Em tempo: quem é o governo pra falar em pirataria se os nossos políticos e governantes são os maiores piratas da historinha???

R. disse...

Ih, nem vou entrar no mérito da questão porque começo a pensar na questão tributária e me exalto, me irrito, hahah...

Só quero declarar que seus textos continuam deliciosos como sempre, é uma pena que eu não venha dedicando o bom tempo necessário para apreciá-los.

Beijos ao som da chuva jaboatonense, moça.
: )

Canto da Boca disse...

Hehehe! E quem sou eu pra discordar? Original mesmo só o Chico, e ainda assim, uma amiga me deu um dvd dele, pirata, de presente, porque ela não é falsa e já me avisou logo que o dvd era falso.
(Fizeste a inscrição, mana?)

Anônimo disse...

Cláudia,

Li seu texto e tive de compartilhar com os amigos do trabalho. Hilariante.

Doravante, seremos uma legião de corsários, com sentimento de culpa, mas corsários. Falso, como os DVD's, como bem disse você.

Beijos,

Dimas

Data Vênia disse...

Eis que hoje descubro seu canto!

O texto é bem interessante. Chuta de bico a hipocrisia e vem numa autenticidade rasgada.

Em meio a tanta coisa falsa, que bom que encontro alguém original.

Vou recomendar o seu blog! Muito bom!

Abs,

DV