segunda-feira, 10 de março de 2008

Falar por falar


Não quero escrever
Não tenho o que escrever
Não tenho o que dizer:
As idéias estão encasteladas
Talvez em algum penhasco
Talvez longe demais de mim.
Não há metáfora possível:
O verde é só uma cor
Rio é água corrente
Paixão, tolice adolescente
Saudade é falta de costume
Bando de peixes, cardume.
Não há romantismo:
O castanho olhar não é doce,
É herança genética;
Aquele cheiro embriagante
Não é prêmio da natureza,
E sim perfume de botica.
Sem melodramas:
Lágrima é secreção dos olhos
E não dor sentida na alma
- Nem sequer existe alma.
Esquecer é questão de tempo,
Lembrança exige memória.
Abandono também a inocência:
Pais abusam de filhos e filhas,
Mães jogam as crias no lixo
Filhos abandonam seus velhos
Não há amizade sem reciprocidade
E a voracidade dos vermes não discrimina.
Como já disse, não há o que dizer,
Não escrevo nada de novo
- Está tudo no dicionário -
Não planto idéia alguma.
Só falei o que a gente esconde
Pra viver sem enlouquecer.

2 comentários:

Sig Mundi disse...

Embutido de emoções!

bjs,

Canto da Boca disse...

Todas (nao)escondidas sob o tapete...