sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Redenção


Xingue, grite, esbofeteie,
Mas não injete em minhas veias
Esse silêncio seco, áspero,
Irritante, pernicioso, torturante.
Vomite o que pensa
Mesmo que me banhe de seu líquido fétido
E ainda que meus ouvidos rejeitem a verdade das palavras
Ao menos saberei respeitá-las.
Esqueça o que tem a perder
Que, no fundo, já está perdido,
(E você sabe disso)
Queiramos ou não.
Grite! Grite! Desabafe!
Enxote os urubus do medo
Alivie-se desta carga,
Seja franco consigo.
Não se preocupe em ser justo,
Um homem ferido tem esse direito
E tenho a consciência das minhas escolhas
- Desculpe, mas sempre a tive.
Grite, agrida, mate,
Mas, por favor,
Livre-me da agonia
Dessa falta de palavras,
Das acusações silenciosas,
Do teu olhar magoado,
Da tua falta de ódio,
Dessa minha sensação de culpa.
Imploro por tua piedade,
Xingue ou vá embora,
Desapareça para sempre de minha vida,
Você e seu maldito silêncio.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cláudia,

Lindo e cortante. O silêncio às vezes é pior do que mil palavras insultuosas.

Seu poema é como dizer ao outro: "Cala-te silêncio! Prefiro a aspereza da voz a privar-me da tua agressão!".

E o final é arrebatador: "Desapareça para sempre de minha vida,
Você e seu maldito silêncio.".

Muito bom.

Dimas

Sig Mundi disse...

Realmente o silêncio é enlouquecedor, e mais ainda pra quem quer ouvir um turbilhão!

beijocas, andrea

Canto da Boca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

O barulho do silencio, chegou aqui.
Beijos.

Josias de Paula Jr. disse...

O silêncio é o estático, a suspenção. Algumas vezes a paralisia. Por isso esse escrito angustiado, que clama por vida, movimento, ato. Enfim, "no começo era o verbo"...
Muito bonito, mais uma vez!