Quinta-feira, 12 de junho.- Cláudia, sabe que dia é hoje?
- 12 de junho, dia dos namorados.
- Não. Quer dizer, é. Mas é outro dia também. É véspera de Santo Antonio.
- Sei.
- Não vai fazer as simpatias não?
- Que mané simpatia?
- Pra ver se você vai casar.
- Hum... Quero não. Chega desse negócio de casar, não nasci pra isso não.
- Mas minha filha...
- Mãe, vá perdendo as esperanças. Sua filhinha querida não vai casar de novo, nem vai lhe dar netos. Agora a senhora tem que concentrar suas forças nos seus dois filhos homens, porque eu liguei as trompas.
- Ligou? Como assim, que história é essa?
- Modo de falar, mãe. Só estou querendo convencer a senhora a desistir de torcer por essa vidinha tradicional. Aceite o fato: sua filha tem alguns parafusos a menos.
- Isso eu já sabia. Mas não custa nada.
- Não custa nada o quê?
- Não custa nada fazer as simpatias. É como uma brincadeira, Cláudia. Não custa nada mesmo.
- Perda de tempo. Não acredito nisso.
- Que perda de tempo? E quem disse que precisa acreditar? Faz por fazer, oras.
- Se é por fazer, sem significado algum, então é pura perda de tempo mesmo.
- Mas faz, vai.
- Ih, mãe...
- Eu tô pedindo!
- Mãe, que mico...
- Não custa nada...
- Que é que a senhora quer que eu faça?
- A simpatia da bananeira. Tem bananeira no pomar, não custa nada.
- Tá, e o que é que eu tenho que fazer?
- Enfiar uma faca virgem na bananeira. Aí amanhã, quando você tirar a faca, tem o nome da pessoa com quem você vai se casar?
- Mas e se eu não for casar?
- Aí não aparece nada.
- Mãe, não vai aparecer nada, então.
- Mas faz. Não custa e...
- Tá, tá. Mas não posso fazer. Não tenho faca virgem aqui.
- Eu tenho, comprei nessa semana.
- Mãe! A senhora planejou tudo!
- Não, filha. Foi coincidência. Eu comprei uma faca nova porque as daqui não estavam afiadas.
- Sei. Então me dá a faca, vamos terminar essa tortura.
(Era para tentar assassinar a bananeira à meia-noite do dia 12. Fiz isso duas horas antes do determinado, porque meu sono é ainda mais incrédulo do que eu).
No outro dia...
- E aí, o que é que deu? Cadê a faca?
- Ah sim, a faca. Pera, vou buscar. Tá aqui, toma.
- Deixa eu ver, deixa eu ver.
- Mãe, não saiu porra nenhuma. A faca tá toda manchada mas é do sumo da planta. Deixa de crendice, deixa de besteira.
- Tá aqui, tá aqui! Ó! Que letra é essa? Um P? Não... é um V. Ah não, tem uma outra perninha aqui, acho que é um W. E isso que tá escrito depois? Cláudia, tem um nome todo escrito! Começa com W e termina com DO. Wando!
- Ah, mãe, é só o que me faltava: vou casar com Wando, o cantor das calcinhas, o autor das trilhas sonoras de motel barato. Já tô até vendo o cara vir me dar uma cantada: "Eu quero me enrolar nos seus cabelos..."
- Não disse que ia ser o cantor. Vai ser um homem chamado Wando. Deixe de esculhambar com essas coisas que a gente não explica.
- Mãe, a única coisa que eu não explico aqui é como a senhora me convenceu a enfiar uma faca na bananeira. O resto é lógico.
- Você não acredita, mas tá aqui escrito. Começa com W e termina com DO. Eu fiz essa simpatia e deu certo, apareceu um A.
- Pô, mas A é mais fácil de dar certo. Tem um monte de nome com A. Queria ver se tivesse saído um W terminando em DO, se a senhora ia dar crédito ao santo.
- Não vou discutir com você. Você não respeita a fé. Daqui a um ano a gente discute novamente. Aposto que você vai estar casada.
- E eu aposto que no próximo ano a senhora não me convence de novo a fazer essa palhaçada.
- Wando. Quando conhecer alguém com esse nome, fique atenta. Vai ser seu marido.
- Sossegada. Se um dia eu conhecer algum Wando, uso essa mesma faca para matá-lo antes que Santo Antonio queira me enfeitiçar só para me desmoralizar. A senhora tem cada uma...