segunda-feira, 2 de junho de 2008

Chega do caso Isabella!


Tenho todo respeito pela família (claro, a parte não participante do assassinato) da menina Isabella. Mas há muito tempo não aguento mais a exploração que a mídia faz do assunto. A defesa do casal acusado do crime agora contratou novos peritos para desancarem o trabalho feito pela polícia paulista. E todo dia, novos "fatos" são noticiados com destaque nos telejornais. Já disseram (e desmentiram e voltaram a dizer) tantos absurdos, tantas estórias fantásticas, que, a despeito da seriedade com que se deve encarar qualquer homicídio, minha imaginação resolveu dar algumas idéias para a defesa do casal e para os pobres colegas jornalistas, já cansados de terem que criar uma novidade do caso a cada santo dia.
Aliás, essa brincadeira (tudo bem, entendo os que a acharem de péssimo gosto) me faz lembrar o veterano jornalista Márcio Maia, editor de Polícia durante muitos anos do Diário de Pernambuco. Segundo o próprio, é dele a invenção da famosa "Perna Cabeluda", assunto iniciado no DP por falta de matéria e excesso de imaginação do editor, e logo repercutido por outros órgãos da imprensa e, claro, pelas mais diversas autoridades do Estado, entendidos e investigadores do caso da Perna Cabeluda - que eu não lembro se era um personagem assassino ou tarado ou ambos.
Voltemos ao caso Isabella.
1 - TEORIA COMÉDIA HOLYWOODIANA: a menina trocou de corpo com a madrasta e resolveu se vingar de todo mundo, matando a madrasta (no corpo de Isabella) e ainda culpando o pai. Não calculou que seria também indiciada, por isso hoje jura que se dava bem com a menina (que na verdade, é ela mesma). Confuso? É, coisa de Holywood.
2 - TEORIA DISNEY: A culpa é da madrasta, que colocou feitiço no Big Mac do marido na paradinha que fizeram no shopping. Ele comeu o Big Mac com Fanta Uva (mais uma prova de que não estava de posse plena de suas faculdades mentais) e, horas depois (quando o feitiço fez efeito), ele ficou tão idiota que inventou aquela estória esdrúxula de que um homem entrou no ap, matou a filha, jogou-a da janela e fugiu - não sem antes trancar a porta com chave. Como ele já era muito idiota antes de ingerir o veneno, ninguém sabe se o feitiço ainda está fazendo efeito ou não.
3 - TEORIA O EXORCISTA: Madrasta e pai não têm culpa de nada. Enquanto o abnegado pai ia auxiliar a maternal madrasta a trazer os inocentes filhos ao belo apartamento, Isabella ficou à mercê de um espírito maligno. Tal espírito seguiu a família desde o shopping. A menina não percebeu, mas no cruzamento que fica entre a Lojas Americanas e a Drogaria Última Compra, havia um despacho que a inocente garota pisou, libertando, assim, o espírito de um "avião" da Favela do Alemão, morto há um mês pela Tropa de Elite carioca. O espírito primeiro incorporou na madrasta, que veio maltratando filhos e enteada durante o trajeto para a casa. Depois, se apossou do corpo da menina e, vendo o futuro que lhe destinava (mulher classe média paulistana filha de um advogado e de uma católica que frequenta missa de Marcelo Rossi), se atirou do prédio - não sem antes causar um monte de bagunça e ferimentos, como qualquer espírito ruim faria.
4 - TEORIA DRAMA PSICOLÓGICO INFANTIL. Na verdade, Isabella era maníaca-depressiva e guardava um imenso rancor da madrasta e do pai e da mãe e dos avós maternos e dos avós paternos e da tia e da professora do ano passado e da professora deste ano. Todos lhe tratavam com discriminação, como se fosse uma criancinha. Naquela noite sombria de sábado, ela fora forçada a acompanhar a família a um passeio a um shopping de São Paulo (imaginem a tortura! Tudo lotado!), a comer pizza sem catchup e sem maionese, e a tomar guaraná diet para não engordar. Quando tudo parecia o fim do mundo, eis que vê, na vitrine, uma linda bota lilás da Barbie. Pediu, implorou, chorou para que o pai comprasse. Ele, com a desculpa de que já lhe comprara 426 botas só da Barbie, se recusara a fazer este pequeno favor. E o que se seguiu adiante, e que todos os brasileiros sabem (querendo ou não), foi fruto da vingança elaborada por uma pequena criança maníaca-depressiva que teve negado o seu constitucional direito a ter a 427ª bota da Barbie.
5 - TEORIA ALCÓOLATRA: Enquanto o pai descia para ajudar a esposa a trazer os filhos, Isabella ficou sozinha no apartamento. Pegou uma garrafa de cachaça, abriu e entornou tudo de uma vez, como se fosse coca-cola. Em seguida vomitou (como a perícia provou), caiu (eis o corte na testa) e resolveu ir ao banheiro. Chegando lá (na verdade, chegou ao quarto do irmão), estranhou o box estar completamente fechado. Pegou uma tesoura, cortou a "cortina" e mergulhou com tudo no chuveiro, para um salvador banho gelado. Na verdade, mergulhou para a morte.

Estórias absurdas, desrespeitosas, desumanas? E as inúmeras versões que já ouvimos acerca do assassinato da menina são o quê?

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais do que cansar do caso Isabela, cansei da imprensa que transforma uma tragédia numa novela.

Enquanto isso, milhares de isabelas de classes mais baixas morrem no país e não há divulgação.

A mídia não respeita ninguém e, como já dizia Chico Buarque, a dor da gente não sai no jornal. Somos apenas índices de audiência.

Vixe, falei sério demais dessa vez.

Dimas