segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Passional


Da última vez em que o vi,
O sangue já não corria.
A face pálida, a carne fria.
Aqueles olhos secos, medonhos.
Não reconheci aquela expressão,
Nem ela me agradou, tampouco.
Senti que seria o fim, dessa vez:
Aquela expressão... os olhos... ele, frio.
Deu medo. Quis chorar.
Pensei em correr, mas lembrei do quanto sou covarde.
Pensei em brigar, mas sou covarde.
Imaginei matar, mas sou covarde.
Tudo para arrancar aquela impressão medonha
Dos olhos gelados e pálidos a espreitar-me
Como quem arranca uma verdade à força
Das entranhas da pessoa em que se confia
(Ou que se diz confiar).
Uma última verdade: a que não existe.
Não quero verdade nenhuma sendo arrancada de mim;
Não tenho verdades a oferecer, só mentiras.
Foi a última vez que o vi.
Depois disso, caí no chão.
Morta, de corpo e alma.
Morta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sensível, triste, sombrio e belo, muito belo. gosto dos seus poemas "a dois", da intimidade repartida, dos medos escancarados.

E eu vou voltando aos poucos, pois dizem que o bom filho a casa torna. Basta o tempo dar uma brechinha, que estou por aqui.

Dimas Lins