
Ceifando futuros sonhados
Até de quem sequer pôde,
Uma única vez, abrir os olhos,
Berrar de fome ou mamar o peito.
E em nós fica essa dor
Pelo que podia ter sido
E jamais será.
Nunca mais.
O futuro do pretérito é o que resta,
Quando desejávamos todas as outras formas verbais
De tempo. Mais tempo. Muito mais.
Sobra a inveja de quem tem fé;
Sobra a desesperança no destino.
Ficam os móveis sem uso,
As roupinhas sem corpo
Os olhos com lágrimas
E a vontade de gritar:
Vai tomar no cu, mundo escroto.
Vai tomar no cu.
Um comentário:
Claudinha,
Depois de um tempo longe do Ninho, retorno. E me deparo com este belo desabafo.
Belo poema, palavras irreprensíveis e um grito de revolta que salta da garganta e escapole pela boca ganhando a terra nua, seca e madrasta.
Teu poema lembrou-me uma música de Elomar chamada "A pergunta", onde um tropeiro encontra Quilimero, outro personagem da história, e pergunta como estão as coisas na terra natal.
Eis a resposta de Quilimero:
Só a terra que você dexô
quinda tá lá num ritirou-se não
os povos as gente
os bichos as coisa tudo
uns ritirou-se in pirigrinação
os ôtro os mais velho mais cabiçudo
voltaro pru qui era pru pó do chão
Beijos,
Dimas Lins
Postar um comentário