terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A tal da torta


Ontem eu me senti desafiada a falar de torta de limão, como assunto trivial comumente abordado em blogs femininos. Acontece que meus poucos dotes culinários estão contra essa missão: hoje pela manhã, quase como um castigo antecipado ou uma boa desculpa para não cumprir a obrigação, praticamente fiquei sem o dedo indicador da mão esquerda só porque inventei de fazer uma torradinha básica. Pelo menos, dessa vez, não me queimei ao tirar as torradas do forno (sim, apesar da perda de uns 17 litros de sangue, mantive minha determinação de fazer as tais torradas. E as comi com um prazer incomum). Ninguém me avisou que a serra de pão era nova, e eu estava acostumada com a outra, cega.
Mas o acidente não significa que eu tenha pouca intimidade com a cozinha. De modo algum. Tenho muita intimidade, e a balança de qualquer farmácia atesta isso. Mamãe também pode atestar.
Inclusive (olha aí os 360º) torta de limão é uma das minhas especialidades. Nasci pra fazer torta de limão. Aprecio mais fazê-la desaparecer - sou rápida, quando necessário.
Lembro de uma vez que só tinha a última fatia na geladeira, e, por uma questão moral, meu irmão mais velho teria direito a ela, já que estava adoentado. Frescurinha familiar, claro. E como não sou chegada a frescura, sou questionadora dos costumes e vivo desafiando a ordem social das coisas, aproveitei um momento de descuido materno e... zapt!, devorei a herança do primogênito asmático. Com incrível rapidez. Possivelmente, eu entraria no Guinness World Records. O medo de ser flagrada faz milagres. Foi tão rápido que penso, hoje, que sequer senti o delicioso gosto da mistura doce-azedo.
E tem a torta da mãe da Adriana, a melhor que já comi na vida (só confesso isso aqui porque sei que minha mãe não lê o blog). Já virou tradição: é meu presente de aniversário. Todo 29/01 tem torta de limão na minha casa, caso contrário eu não faço aniversário. Portanto, por este ângulo, não é mentira se eu sair espalhando por aí que sou "de menor" - só conheço a mãe de Adriana há três anos.
Gugu-dadá.
O que mais gosto na torta de limão? A torta. O sabor do doce condensado ao azedo do limão. A textura do creme. A massa de biscoito quebrando o doce. A camada de "suspiro" deixando o creme ainda mais leve. Tudo.
Se não fosse esse dedo cortado, ia fazer uma agorinha. Como assim, não atrapalha em nada?? Claro que atrapalha. E eu lá sou mulher de fazer torta de limão sem lamber a vasilha do creme? E como se lambe a vasilha do creme sem o indicador?
No entanto... Nada me impede de ir na padaria da frente comprar uma fatia.
Dá licença.

Um comentário:

Nicolau disse...

Sabia que há toda uma literatura sobre o assunto ?? No seu famoso livro sobre a metafísica da torta de limão, Kant diz que a perfeição desse tipo de alimento está na conjugação de três níveis de consistência (exatamente a massa crocante, o recheio e o suspiro, um fazendo a transição para o outro) com dois níveis de sabor (o doce e o azedinho).

Quando o dedo estropiado melhorar, você por gentileza faça a torta e depois mande para cá um pedaço.

E vem cá, ninguém nunca descobriu que você carcou aquele último pedaço destinado ao seu pobre irmão ?? Cara, irmã é coisa ruim em qualquer lugar, impressionante.

Beijos