A mídia mundial vem tratando o presidente venezuelano Hugo Chavez como um louco déspota, um ditador fora de tempo e de lugar. Nunca vi a imprensa brasileira falar tanto de política sul-americana como agora, por causa do Hugo Chavez. Antes, sabíamos detalhadamente com que roupa a ex-princesa Diana tinha ido a uma visita qualquer, o que a estagiária fez – e deixou de fazer - com o ex-presidente estadunidense Clinton, o novo horário de funcionamento dos trens parisienses, e por aí vai. Da América Latina, mal e mal sabíamos de uma ou outra manifestação das mães argentinas que ainda hoje reclamam o direito de saber onde estão os corpos de seus filhos desaparecidos durante a ditadura. Da Venezuela, só as famosas misses geravam notícia por estas bandas.
Mas eis que surge Chavez para acabar com essa monotonia. O homem foi eleito e reeleito pelo voto do povo, alguém duvida? Então, para começar, ele preserva as forças democráticas pelo menos no tocante à eleição. Não ouvi sequer especulação de que a eleição tinha sido fraudada – especulações que aliás, sobram no primeiro mundo norte-americano, auto-denominado guardião da democracia mundial, apesar de ter sempre em sua história a mancha de guerras promovidas direta ou indiretamente pelo seu próprio interesse.
Não moro na Venezuela, não conheço ninguém de lá, nunca a visitei. Por isso, fico em minha humilde posição de leiga sobre a administração Chavez. Acompanho os noticiários, mas há muito deixei de crer na lendária imparcialidade da imprensa. Minhas idéias acerca de Chavez e sua administração são baseadas numa lógica de pensamentos muito particular e ao mesmo tempo no senso comum.
Quais são os indícios de que Chavez é um ditador, além da mensagem que nos é constantemente passada pela mídia? Além de (como já disse) ele ter sido eleito, ele usa e abusa de um dos instrumentos mais democráticos que há no mundo, o plebiscito. No primeiro final de semana deste mês de dezembro, teve mais um na Venezuela. O povo infligiu à proposta do presidente uma fulgurante derrota. Chavez queria mudar a Constituição Venezuelana e, dentre as alterações, havia a permissão da reeleição sem limite. O povo disse não. Pronto, é não, não vai haver alteração, Chavez não vai se tornar um Castro ou uma Thatcher, o povo não quer. Resolvido. Qual o drama? O governo fez uma pergunta, o povo respondeu e agora reina soberana a vontade popular. Onde há indício de ditadura nisso?
Ah, mas o Chavez fechou um canal de TV venezuelana. Pelo que dizem – eu nunca assisti, portanto... – fazia oposição ao governo. Agora me responda: desde quando televisão ou rádio, meios de comunicação que são concessões governamentais, fazem “posição” ou “oposição”? O dever é informar ou manipular? Não acho certo nem errado, não acho nada. O que eu sei é que há lei constitucional que dá direito ao governo conceder e cassar licença de funcionamento de televisão. Chavez, também pelo que dizem, obedeceu a estas regras constitucionais e cassou. Queria eu que algum governante brasileiro seguisse o exemplo. O desemprego ia aumentar muito, mas os profissionais de comunicação que ficassem no mercado ao menos iriam pensar duas vezes antes de manipular a informação do jeito irresponsável e leviano que se faz hoje em qualquer veículo.
Também dizem que o Chavez governa só para os pobres, que esta é a única camada da população venezuelana a dar apoio ao seu governo. A classe média, a classe alta e – suponho – principalmente a classe altíssima não gostam nem um pouquinho dessa popularidade de Chavez. Mostram-se “politizados”, pegam suas bandeiras e vão para as ruas manifestar contra o governo. Isso é legítimo, é direito; mas o que Chavez faz para que o povo pobre o venere, isso a gente aqui não sabe, porque a mídia não mostra. Em que condições esse povo vive, a gente até faz idéia, mas não sabe de verdade. Mas alguma razão há de ter.
Pelo que mostram, o Chavez é uma pessoa chata, muitas vezes inoportuna. Tem uma ironia e uma sinceridade que não são lá muito apreciados em governantes – estamos mais acostumados com mentirosos de expressões sérias e palavras e gestos elegantes. Pelo que mostram, ele é tão grosso, tão estúpido e arrogante, que poderia até ser o rei da Espanha. (Cala-te!). Eu acho.
4 comentários:
Bravo, concordo!
A mídia me enoja, revira o estômago. Fico sempre a questinar quais interesses estão por traz de qualquer bombardeio de notícias, como no caso Chavez. Assisti um vídeo apresentado pelo sindicato de minha categoria, há uns anos atrás, que revelava altas tramas contra o governo Chavez, com participação total do canal de televisão cuja concessão foi cassada. Qualquer um que assita ao vídeo, concorda com a cassação.
Melhor sempre esperar para ver o que de fato anda acontecendo, como no caso das armas químicas e biológicas nunca encontradas no Iraque. Que vergonha...
Maninha, eu te mandei um texto, onde o Boaventura Ventura de Sousa Santos, analisava o que em Hugo Chaves incomoda nos poderosos do mundo inteiro, e outras coisas mais, dá uma lida lá. Por outro lado, aqui na residencia universitária, mora uma venezuelana, que odeia o Chavez, perguntei o motivo, ela disse que era porque ele nao a deixava sacar suas platas.... Vou te escrever sim, acabei de chegar da universidade, sao mais de 22:00h, se nao escrever hoje, no máximo amanha, tenho um endereço importante pra te dar, tou doida pro meu N.I. chegar logo, quero passar o natal em casa, ver meu povo.....
Estou bem, ótima, apenas com saudades e com muito frio.
Beijos.
e desconsidere um Ventura ali....
Cláudia,
Li teu artigo. Achei-o extremamente inteligente e bem fundamentado. Pena que o li só agora no final da noite enquanto ia dormir. Por isso, vou me segurar e comentar sobre o conteúdo amanhã.
Uma coisa te digo: passaríamos uma semana conversando apenas sobre Chávez e não esgotaríamos a questão.
Bom tema. Amanhã eu volto.
Dimas
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