Recife para mim é assim: não me imagino morando nela novamente, ao mesmo tempo em que não posso vê-la ou saber de notícias suas sem que dê vontade de chorar de saudade. Principalmente no carnaval. Esse é o período em que tenho mais orgulho de ter nascido nesse estado cuja criatividade começa no nome e termina sabe-se lá onde.
Nasci em Recife, fui morar em Olinda aos 9 anos e lá passei toda minha adolescência, de modo que me considero "recilindense" ou simplesmente pernambucana - contando que ao menos um mês por ano eu ficava na sertaneja cidade de Serra Talhada. Na época de minha adolescência, o carnaval se resumia ("se resumia" é modo de falar) a Olinda, suas ladeiras, os quatro cantos, a Sé, o pau do índio (bebida, tá?), lança-perfume, o Mercado da Ribeira...
Enquanto tinha familiares morando no Sítio Histórico, amava ficar na varanda da casa perturbando com todo mundo que passava na rua (e oferecendo ajuda também, dando banhos de mangueira naquele calor desgraçado). Saía de casa e já estava no meio do carnaval olindense. Andava, bebia, pulava, zoava um bocado e voltava para casa. E saía e andava e bebia e... o carnaval inteiro.
Depois que meus familiares descobriram que ganhava bem mais dinheiro alugando a casa no carnaval, aí a acabou minha mamata. E começou outra! Nessa época eu já trabalhava, já tinha minha própria grana, e comecei a alugar casas no carnaval com amigos, e a farra, que já era muito boa, ficou muito melhor ainda.
Brinquei muitos carnavais e com intensidade. Até que a violência chegou muito próxima de mim nas ladeiras de Olinda. Então botei o violão no saco, enrolei o colchonete e aposentei-me da Velha Cidade. Recife já começava a atrair jovens também e eu fui na onda. Marco Zero virou o meu Mercado da Ribeira. Recife Antigo virou meu Sítio Histórico. Recife passou a ser meu carnaval.
Acabo de completar 37 anos. Há quatro não brinco carnaval. Há quatro anos estou longe de Recife e Olinda no período momesco. Nesse ano, no entanto, foi diferente. Eu não estava em minha terra, mas pude assistir a um bom pedaço do carnaval pernambucano através da transmissão ao vivo da Band. Não gosto da programação corriqueira da Band, e acho que a transmissão teve muitas falhas. No entanto, foi o único canal a transmitir tudo de Recife e Olinda (e também de Salvador); foi o canal que me ligou à terra do frevo e do maracatus e do caboclinho... E me deixou roendo de saudade.
Prometi que no próximo ano irei me revezar entre as ladeiras olindenses e os diversos palcos recifenses. Caso não cumpra a promessa, certamente no próximo ano estarei aqui, lamentando de novo a saudade do carnaval, de Recife, de Olinda, e da foliã que fui.
4 comentários:
Viva o Nordeste!
Faço votos que no próximo carnaval você possa estar naquela maravilha!
Abs,
DV
Cláudia,
Ainda fui brincar carnaval no Recife Antigo, embora não me considere o mesmo folião.
Como disse no Estradar, às vezes dá vontade de bater no próprio rosto para ver se acordo aquele folião do passado, mas respiro fundo e vejo que os tempo são outros.
Como o mundo dá muitas voltas, numa dela me reencontro com as ladeiras de Olinda para brincar o carnaval.
Beijos,
Dimas
Mana, nem me fale em carnaval de Olinda/Recife. Me consumi aqui nessa fria Tarragona, que em pleno Sábado de Zé Pereira, o carnaval parecia mais um desfile de "7 de setembro" das brenhas do nordeste brasileiro, uns palcos puxados por tratores, isso mesmo, tra-to-res! E o povo em cima desses palcos tentando um requebro, jurando que estavam sambando... E mais, cada palco móvel desses, toca sua própria música, me peguei cantarolando "o amor de Julieta e Romeu, igualzinho ao seu e o meu", isso, a música de Daniela Mercury chegou em Tarragona, além de uma da Margareth Menezes, e só. Terça de carnaval, eu estava na universidade assistindo aulas. Mas nao sei se queria outra coisa nesse momento nao. O carnaval ingenuo da Espanha, me fez bem....
Beijos e te devo um meil, posso passar amanhã, de Granada?
O carnaval, nesse ano, foi muito morno. Eu mesmo praticamente não bebi e não pulei (hehe).
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