quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Fora do Serasa


De vez em quando eu pego algum jornal para ler detalhadamente. Nada de passar o olho somente em política. Vejo tudo: da manchete à propaganda de lipoescultura no pé da página. Hoje foi a vez de dissecar o Estado de Minas e parei diante de um título curioso: "Detetive morto por casal em SP".

Uma mulher contratou o tal do detetive para investigar o marido. O detetive sempre dava notícias das traições do marido e pedia mais dinheiro para continuar investigando. A mulher garantia o pagamento em cheque, condicionando o desconto à entrega de provas da traição.

Ponto 1: a mulher só pagaria se houvesse traição, e tinha que ter provas cabais.

Diante dessa condição, o que faz o detetive? Diz que o marido trai. Bom, essa perrenga continua até que a mulher descobre que o detetive está mentindo, e que o seu marido não a trai de jeito nenhum.

Ponto 2: Por quê a mulher não entra na profissão? Parece ter jeito para a coisa.

O detetive diz que o marido estará no motel tal com fulana tal dia e tal hora. Na ocasião, o santo estava jantando com a própria esposa dentro da casa do casal. Cai a máscara do detetive.

Ponto 3: Ô, mas o detetive deu azar, hein? Ou o marido passou a perna nos dois?

Marido e mulher se entendem e marcam um encontro com o detetive para resgatar o cheque - afinal, sem traição, sem pagamento.

Ponto 4: Contrato espertinho esse, não? Tem mais, vamos lá.

O pai do marido e um amigo se juntam ao casal no encontro, que acontece num shopping, tudo filmadinho da silva. Depois sai todo mundo junto e por fim o detetive aparece morto, dois dias depois.

Ponto 5: E o cheque?

O casal confessa o assassinato, mas o jornal não detalha como aconteceu. "Eu só queria resgatar meu cheque, limpar o meu nome", diz, com todas as letras, a esposa contratante. Limpar o nome? O jornal não diz se recuperaram o cheque ou se o detetive já tinha descontado. Pelo sim, pelo não, o casal deu sumiço na vida do detetive, no corpo do detetive (encontrado num matagal, escondido) e no carro do detetive.

Ponto 6: Se a traição valia um cheque, um assassinato vale um carro. Muito justo.

Ponto 7: A mulher só queria limpar o nome. É. Se depender desse cheque, ela tá fora do Serasa mesmo. Já na ficha criminal...

6 comentários:

Sig Mundi disse...

No final das contas essa dona, aí do jornal, é muito da doida!

Estou a conhecer seu Ninho!

Voltarei!

bjs, andrea

Anônimo disse...

Cláudia,

Da última vez que encontrei Artur e Josias, falamos da sua sagacidade na construção dos textos que, por sinal, está cada vez mais refinada.

A construção deste texto tem um arremate perfeito no Ponto 7:

"A mulher só queria limpar o nome. É. Se depender desse cheque, ela tá fora do Serasa mesmo. Já na ficha criminal..."

O que é irônico, mas se encaixa direitinho no conceito do que significa viver neste país.

Parabéns,

Dimas

A Autora disse...

Veio outra idéia agora: e se o detetive antes de morrer descontou o tal cheque sem fundo? Hahaha... quero ver a mulher agora conseguir provar no banco que pagou o que devia e assim poder limpar o nome...

Canto da Boca disse...

Impressionada, impressionante, embora morta de cansada da semana, da viagem, os neuronios combalidos... O texto retrata sim os valores pervertidos de muita gente desse nosso país...
Já estou em Portugal.
Beijos.

Anônimo disse...

Diante de mais uma atrocidade, prefiro comentar a foto ao lado, dos gorilas.
Essa gorilinha aí já tinha chamado a atenção dos pesquisadores por ter usado um instrumento (madeira) para atravessar uma lagoa.
Agora ela "inova" e faz sexo em uma posição que, até agora, não tinha sido observada entre aqueles animais.
Essa gorilinha já tá chegando perto de ser uma homo sapiens.

Abs,

< Data Vênia >

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e