De vez em quando eu pego algum jornal para ler detalhadamente. Nada de passar o olho somente em política. Vejo tudo: da manchete à propaganda de lipoescultura no pé da página. Hoje foi a vez de dissecar o Estado de Minas e parei diante de um título curioso: "Detetive morto por casal em SP".
Uma mulher contratou o tal do detetive para investigar o marido. O detetive sempre dava notícias das traições do marido e pedia mais dinheiro para continuar investigando. A mulher garantia o pagamento em cheque, condicionando o desconto à entrega de provas da traição.
Ponto 1: a mulher só pagaria se houvesse traição, e tinha que ter provas cabais.
Diante dessa condição, o que faz o detetive? Diz que o marido trai. Bom, essa perrenga continua até que a mulher descobre que o detetive está mentindo, e que o seu marido não a trai de jeito nenhum.
Ponto 2: Por quê a mulher não entra na profissão? Parece ter jeito para a coisa.
O detetive diz que o marido estará no motel tal com fulana tal dia e tal hora. Na ocasião, o santo estava jantando com a própria esposa dentro da casa do casal. Cai a máscara do detetive.
Ponto 3: Ô, mas o detetive deu azar, hein? Ou o marido passou a perna nos dois?
Marido e mulher se entendem e marcam um encontro com o detetive para resgatar o cheque - afinal, sem traição, sem pagamento.
Ponto 4: Contrato espertinho esse, não? Tem mais, vamos lá.
O pai do marido e um amigo se juntam ao casal no encontro, que acontece num shopping, tudo filmadinho da silva. Depois sai todo mundo junto e por fim o detetive aparece morto, dois dias depois.
Ponto 5: E o cheque?
O casal confessa o assassinato, mas o jornal não detalha como aconteceu. "Eu só queria resgatar meu cheque, limpar o meu nome", diz, com todas as letras, a esposa contratante. Limpar o nome? O jornal não diz se recuperaram o cheque ou se o detetive já tinha descontado. Pelo sim, pelo não, o casal deu sumiço na vida do detetive, no corpo do detetive (encontrado num matagal, escondido) e no carro do detetive.
Ponto 6: Se a traição valia um cheque, um assassinato vale um carro. Muito justo.
Ponto 7: A mulher só queria limpar o nome. É. Se depender desse cheque, ela tá fora do Serasa mesmo. Já na ficha criminal...
6 comentários:
No final das contas essa dona, aí do jornal, é muito da doida!
Estou a conhecer seu Ninho!
Voltarei!
bjs, andrea
Cláudia,
Da última vez que encontrei Artur e Josias, falamos da sua sagacidade na construção dos textos que, por sinal, está cada vez mais refinada.
A construção deste texto tem um arremate perfeito no Ponto 7:
"A mulher só queria limpar o nome. É. Se depender desse cheque, ela tá fora do Serasa mesmo. Já na ficha criminal..."
O que é irônico, mas se encaixa direitinho no conceito do que significa viver neste país.
Parabéns,
Dimas
Veio outra idéia agora: e se o detetive antes de morrer descontou o tal cheque sem fundo? Hahaha... quero ver a mulher agora conseguir provar no banco que pagou o que devia e assim poder limpar o nome...
Impressionada, impressionante, embora morta de cansada da semana, da viagem, os neuronios combalidos... O texto retrata sim os valores pervertidos de muita gente desse nosso país...
Já estou em Portugal.
Beijos.
Diante de mais uma atrocidade, prefiro comentar a foto ao lado, dos gorilas.
Essa gorilinha aí já tinha chamado a atenção dos pesquisadores por ter usado um instrumento (madeira) para atravessar uma lagoa.
Agora ela "inova" e faz sexo em uma posição que, até agora, não tinha sido observada entre aqueles animais.
Essa gorilinha já tá chegando perto de ser uma homo sapiens.
Abs,
< Data Vênia >
Sim, provavelmente por isso e
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