quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ladeira abaixo


Quando tudo cansa,
a natureza espera
o tempo só passa
o suor não escorre
o amor arrefece
a luta é perdida
o monstro se apossa
o corpo se vai
para a rede armada
em parede alguma.

Se resta esperança,
não basta a todos
e poucos a percebem
em meio ao caos
de sujeitos e objetos
substantivos adjetivos
diminutivos, diminutos
tantos sentimentos
- deuses, tantos! -,
e tão poucos para mim...

E vem a perda
tão rejeitada,
recusada, detestada,
por mais que esperada fosse
- e ela sempre o é.
A agonia do oco
tripas vazias,
sal abundante, choro,
dói não se sabe onde
e vem o arrependimento.

A fase da ilusão.
Tudo era áureo,
rico, belo, feliz
sem defeitos - e se
existiam, que graciosos... -
restou muito, quase tudo
há o desejo, a vontade
o poder, a força, a decisão
vem a certeza do conserto
quebrada pelo sonoro "não".

Fica a vida
fica a agenda, a rotina
a obrigação de crescer
de aprender a ceder
ou de se (re)conhecer;
o espelho intacto,
a alma, nem tanto.
Fica a boca amarga
saudade do que devia ter sido
fracasso pelo que foi.

Fica a certeza de existir
e superar, se superar,
do dia depois de amanhã
da fome na hora do almoço
do despertador a tocar
da vida para levar
de fantasmas a criar
de sentimentos a enterrar
da dor da perda a sofrer.

3 comentários:

Canto da Boca disse...

Quem foi que disse que é obrigado a crescer?
Lá na base da ladeira, é plano, já nao há mais pra onde e nem como cair. Levantar e caminhar, APENAS SE DER VONTADE.
Beijos.

Josias de Paula Jr. disse...

Que bonita poesia sobre a separação! Seja ela o afastamento em vida, seja a morte...
O título foi muito feliz também.
Beijo.

Anônimo disse...

Muito bom, Cláudia.

Admiro a beleza de textos e poemas melancólicos, pois emocionam.

Como disse Josias, o título foi muito feliz.

Dimas