sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Meu ídolo


Sonhei com Nelson Gonçalves esta noite. Assistia a um show dele, e no sonho ele cantava exatamente estre trecho "mania é coisa que a gente tem mas não sabe por quê. Dentre as manias que eu tenho, uma é gostar de você".
Pois é, eu gostava do Nelson Gonçalves. Sabe de quem eu também gostava muito? Noite Ilustrada! Mas meu ídolo maior, a pessoa que sempre quis conhecer na vida, que eu achava que era a pessoa mais interessante do mundo, este se foi sem que eu tivesse a oportunidade de sentar com ele e conversar - aliás, ouvir, ouvir e ouvir. Era Mário Lago.
O estranho é que esse meu gosto partiu da infância. Desde criança eu tinha essas preferências. Ah, e tem o Julio Iglesias. Achava impressionante a voz dele. Meu pai sempre contava que eu, desde pequenininha, não podia ouvir uma música do Julio Iglesias no rádio, pois ficava o tempo todo admirada com a voz do homem.
Não perdia um show do Nelson Gonçalves. No último que eu fui eu devia ter uns 16 anos. Foi no Olinda Praia Clube. Meu pai fez que fez, e terminou me levando para o, digamos, camarim do cantor. Nelson estava bêbado - foi o que eu pensei na época, inexperiente que era. Tinha os lábios muito descoloridos, pálidos, descascados. Lembro que vi aquilo de perto e imediatamente me lembrei de uma barata. Argh. Pois o homem me deu dois beijinhos no rosto. Beijo molhado, gelado. Como disse, foi o último show do Nelson que eu fui. Mas ainda me arrepio quando escuto aquela voz entoando "cabocla, teu olhar está me dizendo..." ou "naquela mesa está faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim". Vozeiraço!
E tinha o Mário. Sentia que precisava conhecer o Mário Lago. Ouvia todos os CDs dele que batiam na minha mão, colecionava as letras de música dele, assistia a todos os programas televisivos que ele participava, lia todas as entrevistas, tudo que saía sobre ele na mídia. Era fã mesmo, em qualquer sentido da palavra. Sempre me via com ele numa confortável, simples a ampla sala de estar, eu acomodada em um sofá, ele em outro. Imaginava mil e uma conversas, milhões de histórias que ele contaria, lições que eu aprenderia com um verdadeiro Mestre. Não sei como se originou esse fascínio por Mário, mas começou na infância. Acho que tudo começou com a Amélia. Escutar essa música e pensar sobre seus múltiplos significados é o que vem de mais forte na memória, sempre que penso em Mário. Lembro de ouvir a mesma música 1.500 vezes numa só tarde, na vitrola do meu pai (aliás, era o máximo na vizinhança. Todos os vizinhos pediam para gravar fita cassete no som 3 em 1 de papai). Lembro de ter feito isso enquanto morávamos no bairro chamado Barro, perto de Areias. Quando nos mudamos de lá eu tinha 8anos. Portanto, uma feminista bem precoce, talvez.
Chega. Foi bom sonhar com Nelson. Mas quando eu sonhar mais uma vez com a conversa que eu não tive com o Mário Lago, aí sim, acordarei nas nuvens.

3 comentários:

Canto da Boca disse...

Quando eu ficar do seu tamanho, eu também quero escrever assim.
E fiquei cantarolando as músicas que citaste, e ainda outras, "Dolores Sierra, vive em Barcelona, na beira do cais, nao tem castanholas e faz companhia a quem lhe der mais..."
Meu pai também é fã do Nelson, e por conseguinte me influenciou, assim como Noite Ilustrada, Herivelto Martins, Adelino Moreira, o Mario Lago e tantos outros que tu sabes... Talvez a proximidade do natal, talvez por estar ao lado de Barcelona e Salamanca, talvez por ter aqui na memória afetiva o canto do meu pai, diariamente. De modo que estou agora cantarolando As músicas citadas por ti...E outras mais.
Beijos, mana, texto lindo, só pra variar.

Josias de Paula Jr. disse...

Tiveste sorte. Eu nunca fui a um show de Nelson Gonçalves. E sempre fui um admirador dele. Fiz meu pai comprar uma coleção com 6 LP´s. Se não me engano, era "50 anos de boemia". E quando aprendi a tocar violão, fui logo em busca dos acordes de suas músicas...

Anônimo disse...

Mesmo não sendo o caso do texto, me ocorreu uma coisa. Eu nunca tive uma relação de fã. De admiração, sim.

Meu ídolo maior na música sempre foi Chico Buarque. Suas músicas para mim são verdadeiros diamantes.

Também gostava muito de Renato Russo. Um novo estilo, uma nova geração. Fiquei muito triste no dia de sua morte.

Dimas