terça-feira, 4 de setembro de 2007

Carta ao Presidente


Caro presidente.

Não vou lhe chamar de excelentíssimo, nem de Luiz Inácio Lula da Silva. Presidente sim, eu chamo sem problema, até porque eu também o ajudei a estar ocupando este cargo. Mas gosto mesmo é de "Lula". "Lula". É esse o nome certo.
Lembro de vários jingles de várias campanhas suas. Ainda me arrepio quando lembro perfeitamente do clipe em que monstros da MPB capitaneados pelo Venerável Chico cantaram juntos "sem medo de ser feliz, lula-lá". Lula lá. Demorou, mas conseguiu. Conseguimos, aliás.
Chorei pra caramba quando você ganhou a eleição em 2002. Junto com a natural emoção, misturada com uma incredulidade de criança que descobre um presente ao pé da árvore de Natal mesmo não acreditando em Papai Noel, eu chorei de frustração. Não sabia, mas aquela seria a primeira vez que a decepção com você produziria lágrimas em mim. Se bem que... daquela primeira vez, a culpa não foi sua, propriamente, mas tem ligação com você. É que depois de tanto trabalho VOLUNTÁRIO na campanha, bem no finalzinho da tarde daquele dia histórico, quando todos se preparavam para sair do comitê e invadir e tomar o Marco Zero do Recife, bem naquela horinha... bom. Percebi um incômodo, um queimor, uma dor, uma situação incapacitante. Fui para casa. No outro dia, já no médico, descobri que tinha hemorróida. A parte boa é que não tive ressaca, como TODOS os meus amigos tiveram naquela segunda-feira.
Aí depois vieram as escolhas para os cargos comissionados. Sinceramente, quando vi um ladrão sendo escolhido para liderar um órgão federal, tremi. Achei que não era coisa sua, claro, era coisa dos militantes da terrinha, e tal. Mas aí veio outro, e outro, e... os ministros!!! Pois é, se eu sabia que ali tinha bandido, duvido que você não soubesse também. Mas tudo bem, eu estava disposta a engolir estes sapos. A oposição começou a tirar onda da cara da gente no meio da rua, "e aí, tá vendo que é tudo igual", e a gente "não, que nada, espera pra ver, ele vai dar um chute nessa corja, espera", e eles "vai... sei. Ele vai é engordar de tanto jantar soturno, vai virar um gordo usineiro pefelista igualzinho aos nossos". Gozação, camarada, , eu ouvi um monte. Sapos. Barbudos, carecas, inteligentes, imbecis, todos sapos. E nós engolimos.
Pra encurtar a história. No primeiro escândalo eu disse "bem-feito, descobriram tudo, os traíras vão começar a sair. Aí veio o segundo, o terceiro, o... tá em que número mesmo? Não sei, presidente. Perdi a conta. Desde que estourou o mensalão, me desliguei de política. Não quero saber, chega, tortura nunca mais.
O seu governo ferrou com meus sonhos, tirou meu alicerce, transformou a minha vida. Hoje estou mais egoísta, mais incrédula, ainda sem chão e sem rumo. Não creio mais em instituição nenhuma. Eu, que era uma sonhadora. Vê, o que fez? E sou só um exemplo, conheço muitos nesta situação.
Senhor presidente, não estou satisfeita com o seu governo e estou decepcionada com você. Ainda assim, não me arrependo em nada por ter votado em e para você. Só me arrependo mesmo é de ter mantido tanta expectativa. Esqueci que você não é santo. E mesmo que fosse não adiantaria, sou atéia.
Desejo que tenha sorte no seu final de governo, agradeço a melhoria de vida de milhões de brasileiros famintos. Acho que ainda voto no senhor. E ainda me resta uma esperançazinha: a de que você ao menos esteja se sentindo mal com tudo isso que você teve que fazer para se manter no poder. Pelo menos que tenha perdido algumas noites de sono.
Ao menos isso.
Bom dia, Lula. Sorte.

Um comentário:

R. disse...

Lembrei daquele nosso desajeitado almoço em plena rodoviária, da conversa daquela tarde...
Ainda és a mesma inconformada daqueles protestos entre goles de cerveja... :)