segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Geração amestrada


Não sei se minha geração foi agitada demais ou a atual é lenta demais. Sei que vivíamos uma época especial: adolescentes do fim da ditadura, do rompante do rock brasileiro, das greves intermináveis, das passeatas nas ruas. Época em que se precisava estar engajado, ou num partido político ou num movimento cultural. Ou em ambos. Sim, também tinha a turma do esporte, engajada ao modo dela. Quem ficava de fora, ficava de fora.
Universidade era espaço para pensar, discutir, apresentar o contrário. Fazer o papel de "advogado do diabo" sempre foi uma diversão. Aula? As que valiam a pena mantinham a sala cheia. As que não valiam enchiam os corredores e a rua do lazer, onde tinham os lanches mais baratos da região. Chamada era instrumento de pressão de professores que, por si sós, não eram capazes de manter o interesse do aluno - tipos desprezíveis para nós, alunos. Estes não eram chamados para nos acompanhar nas famosas rodas de chopp da sexta à noite.
Aos 30, voltei à universidade para fazer novo curso. Até que na minha turma tinha muita gente como eu, ou seja, tentando um segundo curso. Acho que só metade dos alunos tinha saído diretamente do cursinho pré-vestibular. Não encontrei ninguém interessante no meio destes. Só achei jovens mais interessados em copiar tudo o que o professor anotava no quadro ou falava do que em compreender o que era dito. Gente que estava preocupada em registrar dicas para concurso público - mentes educadas para provar a capacidade a partir da pontaria do "x" nas acadêmicas "provas objetivas".
Como eu não pretendia seguir uma nova carreira, entrei no curso por curiosidade e para não perder a oportunidade de me graduar em algo interessante inteiramente de graça. Entretanto, sempre fui do tipo metódica, o que significa que sim, anotei tudo o que estava escrito no quadro pelo professor. Ia para casa, relia, pesquisava, batia a cabeça e encontrava as exceções. Na aula seguinte, me divertia constrangendo alguns professores com perguntas que o faziam raciocinar e sair integralmente da rotina planejada para aquela aula - que deveria ser igual a todas as outras turmas do curso. A estratégia me fez apaixonar por algumas matérias antes inimagináveis. É que nem todos os professores se constrangiam com as perguntas; pelo contrário, dava para ver o prazer que eles sentiam em ser questionados. Coisa de gente que faz o que gosta. E por fazer o que gosta, faz bem e cativa os outros.
Mas eu falava dos universitários de hoje. Numa das federais, foi proibida a venda de cervejas por todo o campus. O que os alunos fizeram? Nada. Acharam até bom, afinal cerveja "distrai" a atenção. Em outra federal, raramente são dadas todas as aulas previstas para o dia. Professor falta sem prévio aviso, larga alunos para verem fotos sozinhos (de que adianta ver fotos sem saber do que se trata e sem ter com quem discutir?), e todo mundo vai, obedece, mesmo que não entenda nada de nada. Sem reclamações. Atualmente, aluno só reclama se o professor anunciar reposição de aula às 7h da manhã do sábado.
Conclusão genérica e imperfeita: o termo "universidade" pode perfeitamente ser trocado hoje por "Centro de Formação Profissional" ou por "Centro de Respaldo Curricular". Parodiando o João Grilo (personagem do Alto da Compadecida, de Suassuna), não sei se isso é bom ou ruim. Só sei que é assim.

Um comentário:

Canto da Boca disse...

Infelizmente é assim. Mas estamos para além dos movimentos dos eus sozinhos e sozinhas.
Eu sou um caso à parte. No primeiro curso universitário, era tão menina, tão menina que não podia cursar porque era 'demenor'. É. Passei no 1° curso universitário, num tempo em que 'demenor' não podia cursá-lo. Na segunda vez, já era três vezes mãe. Mas as aulas chatas eram tão vazias de alunos e alunas e o calçadão mesclado de gente feliz e risonha. Ainda se discutia política, movimentos sociais e afins.
Pena. Mudam os tempos, os atores, atrizes e pra piorar a decadência ainda está longe de findar. Decadência de todo gênero.
Beijos.