quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fofoqueira não: curiosa!


Acho divertido ouvir a conversa dos outros.
Almoço sempre num self do centro da cidade, ou seja, um local com clientela múltipla. Vai desde balconista de loja até a - como descobri hoje - senhoras de terceira idade que viveram um esplendor financeiro na juventude e agora sobrevivem literalmente do passado.
Uma dessas estava com outras duas mulheres almoçando numa mesa próxima à que eu tinha escolhido. Com sua voz pausada, grave, refinada, explicava às outras o que a enlouquecia nos tempos atuais. Empregada se recusa a usar farda, e você nem pode mais contratar direito, porque você é boa, trata bem, como se fosse uma pessoa normal até; e como elas pagam? Colocando você na Justiça do Trabalho.
A conversa dobrou uma esquina e mudou de ambiente, da cozinha para a Sala de Justiça. Já perceberam como o juiz daqui, fulano de tal, é novinho? Nem parece que ele terminou a faculdade, quem dirá que já é juiz. Mas como eu ia dizendo, tudo quanto é juiz hoje em dia só dá ganho de causa para empregado. Parece que todo patrão é ruim. Eu, por exemplo, não sou. A minha empregada come tudo o que eu como, dorme na minha casa, e ganha salário mínimo. Assinar a carteira eu não assino, senão vai ter que pagar imposto e aí fica caro.
As outras concordam e dão depoimentos semelhantes. Todas elas ali eram ótimas, e todas concordavam que assinar carteira de empregada doméstica era uma besteira, que era coisa do governo para tirar mais dinheiro do povo.
(Eu não estava horrorizada ouvindo essa conversa. Desde ontem - ver post anterior - estou em estado meio que letárgico).
Resolvi mudar o roteiro da audição e prestar atenção na conversa de duas garotas vestidas de branco (possivelmente estudantes universitárias). Falavam do assunto predileto de garotas: meninos e meninas. Fulana de tal terminou o namoro com Cicrano, mas com toda razão: o cara era o maior galinha. E uma vez que ele agarrou Beltrana na festa da república tal? Na frente de todo mundo.
Esse papo eu já conheço de cor e salteado. Pulei para outra mesa, minha feijoada já no fim.
Um casal. Ele, barba grisalha e um enfadonho ar de professor de análise metódica de microorganismo do curso de Odontologia. Ela, cabelo de tintura ruiva e um enfadonho ar de esposa de professor de análise metódica de microorganismo do curso de Odontologia. Papo: silêncio enfadonho, só interrompido, durante o período em que observei, por uma pergunta e uma resposta: "Fulano vai?" "Vai". Silêncio.

Preciso lembrar de nunca almoçar com ninguém. Pode ter algum curioso de butuca querendo ouvir a conversa dos outros. Coisa de gente mal educada, frustrada, que não tem mais o que fazer.
E nem adianta mudar de restaurante.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cláudia,

Tu és fofoqueira mesmo! Mas que ouvi a conversa alheia dá uma boa crônica, ah, isso dá!

Dimas
www.estradar.com

Canto da Boca disse...

Nem mudar de cidade, estado, país, continente.......
;)