quarta-feira, 24 de outubro de 2007


Soda cáustica, água oxigenada, ácido nítrico. Era esse o coquetel que eu estava tomando há meses no desjejum. Tudo misturado com leite e água, para disfarçar o gosto ruim. Estava fazendo isso por pura caridade; meu espírito solidário quis colaborar com as cooperativas de leite e derivados de Minas.
Confesso que algumas vezes já pensei em suicídio, e embora essa idéia não esteja próxima de mim agora, não a rejeito em absoluto: acho que cada um deve ser dono de sua vida e sua morte, sem drama. No entanto, juro: NUNCA na vida pensei em me matar tomando soda cáustica ou me envenenando aos poucos. E era justamente isso que estava fazendo, em pequenas proporções, claro, mas cotidianamente: me evenenando ao tomar leite tipo longa vida absolutamente adulterado, segundo a Polícia Federal.
A ANVISA entrou ontem no debate para tranquilizar mães desesperadas que há dois anos davam leite com soda cáustica aos filhos. Disse que é bem provável que a PF esteja enganada. Argumenta que "é comum" adicionar água e soro de queijo na mistura do leite para "dar mais volume" ao produto (ou seja, roubar o consumidor). E que o ácido nítrico e a soda encontradas pela PF nas cooperativas são "comumente utilizados para limpar os equipamentos". Hein? Esquisito, né não?
O fato é que o leite longa vida desde ontem é uma droga a menos na minha vida. Não me interessa se as misturas para me enrolarem são comuns, eu não quero ser enganada, muito menos quando o engano significa eu ingerir soda cáustica. Sei também que a quantidade era mínima, mas mesmo assim me recuso a consumir conscientemente.
Fico com pena das cooperativas e dos cooperados. Putz, sério: prefiro adquirir produto de cooperativas e associações que do comércio e da indústria formais do sistema. Sei quanta gente depende dessas iniciativas solidárias. De repente, os cabeças da cooperativa fazem uma merda dessas, e de uma hora para outra, 200 pessoas diretas ficam sem trabalho, sem renda, sem perspectiva. Produtos de outras cooperativas serão, mais frequentemente ainda, olhados com desconfiança pelo público. Tudo isso para gerar lucro.
Filhos da puta.
Agora só me resta torcer para que a PF esteja errada e a Anvisa certa. Pelo bem do meu estômago, do público, das cooperativas, da economia solidária.
Filhos da puta.

5 comentários:

Josias de Paula Jr. disse...

Só falta a Anvisa dizer que soda cáustica não mata! É triste.

Anônimo disse...

Cláudia,

Vou além do que você disse. Infelizmente, tenho a impressão - e é só impressão, pois não tenho elementos para julgar - que os próprios cooperados têm participação ativa no processo. O Brasil é isso, a lei de Gérson ainda vale. É o nosso mal e a nossa desgraça. Ninguém se preocupou com quem bebe e paga para tomar soda cáustica.

Como disse você, bando de filhos da puta!

Dimas

Anônimo disse...

as cooperativas que adulteravam o leite eram a Coopervale e a Casmil, a Cemil não tem nada com o crime cometido. É bom q vc corriga esta informação.

A Autora disse...

Você tem razão, anônimo. Já retirei a informação incorreta, obrigada.

R. disse...

O que não consigo digerir – trocadilho à parte – é que isso tenha sido feito em plena época em que o produto tem atingido preços tão exorbitantes e, pelo menos até onde sei, o leite vendido nas Minas Gerais não estava nada abaixo desse panorama inflacionário.

Se ao menos fosse como o que acontece com combustíveis adulterados, que são vendidos a preços atraentes, acho que eu ainda teria entendido essa ganância tão inconseqüente. Porque, via de regra, nós motoristas já não caímos tão facilmente nessa tentação do preço muito abaixo do mercado.

Mas quem iria desconfiar de uma marca, a princípio idônea como a Parmalat, e a custos insuspeitos? Bah. Sei que xingar não resolve, mas... que dá vontade dá.